domingo, 30 de setembro de 2012

Evangélicos e as eleições 2012


Às vésperas das eleições para prefeito e vereadores de 2012, grandes manifestações são vistas pelas ruas da capital alencarina e pelos meios midiáticos. A intensificação das panfletagens, dos grupos de bandeirantes nas esquinas deixando as insígnias partidárias tremularem ao vento, das propagandas com propostas incríveis, dos debates televisivos com alguns dos candidatos, que não têm mais ideologias partidárias, e de longas carreatas de “vitória” acontece neste momento decisivo.
            O que mais nos chama a atenção não é essa expressão política típica de quem espera algo de bom nesta vida, mas o que nas entrelinhas está passando despercebido do grande público. Uma delas é o misto de política e religião. Por exemplo, o candidato petista à prefeitura de Fortaleza faz menção a sua atividade religiosa e católica desde a época de sua juventude. Tentativa essa de mostrar alguma moral cristã em meio às propostas por ele defendidas. Há pouco tempo, se essa proposta fosse apresentada no partido, certamente, seria menosprezada, uma vez que, antigamente, o PT tinha uma visão marxista, ou seja, cética. Portanto, um paradoxo para quem defendeu o socialismo como meio de governar.
Outra observação importante que gostaríamos de fazer é o apoio ao PT de Igrejas e de membros de alguns movimentos evangélicos à candidatura a prefeito de Fortaleza. A nosso ver, uma grande contradição. Muitos evangélicos se uniram à campanha petista, mas não levaram em consideração suas propostas que desentoam dos ideais cristãos. O PT, talvez por uma visão nietzschiana (também de Sartre e de Foucault), aderiu aos anseios do movimento homossexual de legalização do casamento e de outros favorecimentos civis dessa união. Na visão evangélica, essas propostas são um agravo à moral e à conduta digna. Unir pessoas do mesmo sexo não é bíblico, dizem. Além disso, o governo petista da presidente Dilma permitiu, liberando verba, a confecção de uma cartilha nas quais crianças seriam induzidas a práticas homossexuais na idade da inocência. A prefeita Luiziane Lins, inclusive, se manifestou muito favorável, em diversas entrevistas, a semelhantes medidas. Essas cartilhas não foram distribuídas por força das objeções, mas, segundo informações de sites, estão impressas e aguardando, quem sabe, um governo hegemônico petista ou de conchaves partidários para serem distribuídas nas escolas públicas. Para demonstrarmos a tensão corrente entre esses polos, basta nos lembrarmos das manifestações do pastor Silas Malafaia, em Brasília, contra o projeto de lei 122/2006, as diversas rejeições da bancada evangélica na câmara federal em votá-la e as reações dos grupos GLS.  
Segundo alguns estudiosos, a prática homossexual é uma prática hedonista, mas figura como uma evolução social. Infelizmente, não percebem o contrassenso que estão proferindo. Não discernem que tal conduta não é pró-criativa. Se não é pró-criativa, não é lógica, pois o lógico é a união capaz de conceber e procriar. Para classificação de família, a lógica autêntica provém da união entre homem e mulher. A única forma de proliferação da espécie (tal qual ensina a Bíblia e também entendeu Platão, filósofo grego). Na verdade, o conflito gira em torno do ideal cristalizado de família que querem alterar. Porém, não é à toa que temos a Bíblia. A Carta Magna de 1988, a Constituição Cidadã, trouxe muito do entendimento bíblico que preza pelo valor e imutabilidade da família. Infelizmente, foi interpretada de forma diferente pelo STF. É necessário entendermos que o cidadão necessita de um padrão para poder viver num estado de direito, pois sem esse o homem não poderia viver e desfrutar da tal liberdade. A liberdade tem limites e deverá ser cuidadosamente explorada. Hoje, com a união estável entre pessoas do mesmo sexo, valores foram ultrajados e superados sem o menor discernimento. Em outros tempos, isso seria entendido como a superação da liberdade pela libertinagem. A liberdade, porém, é um conceito simples de ser tratado, mas está sendo discutido na academia como algo de grande complexidade, pois o objetivo é promovê-la como algo estritamente relativa. Assim, aqueles valores são tornados obsoletos, mas lembramos-vos que foram esses valores que sustentaram a humanidade até hoje. Porém, da forma como andam as diretrizes partidárias, amanhã outras questões virão à tona, como o caso da maconha. Ela poderá ser liberada e os filhos de quem permitiu essa liberação estarão morrendo de overdose. Depois aceitarão a pedofilia e os filhos dos filhos de quem liberou estarão nesta prática etc. Essa liberdade preconizada pelo governo petista é permissiva, tende a derrocar os pilares, apesar de limitados, que alcançamos. Uma mudança desse paradigma seria coerente.
               Agora, fico a pensar na situação daqueles evangélicos que apoiam a candidatura petista. Por esse ter um governo permissivo e sem a moral cristã, hoje apoiam as questões supracitadas; amanhã, na levada do vento, outras cujas práticas também serão contra a moral cristã, enfim, distanciarão o sujeito envolvido da visão bíblica. Mas, o que está realmente se passando pelas mentes evangélicas desses apoiadores? Não têm a visão cristã preceituada nas Escrituras? Perderam o fundamento doutrinário da legítima fé? Ou será que são devedores de favores a políticos que os colocaram em função pública por “debaixo dos panos”, para que, em tempos de eleições, fossem cobrados apoio e agrupamento de pessoas para votarem no candidato da legenda? Se essa última hipótese se confirma, sabemos que a história se repete mais uma vez. Se verificarmos a folha de pagamento do pessoal de cargo em comissão (veja nos sites de órgãos públicos o “Acesso a informação”) ficaremos espantados. Veremos indivíduos que ganham muito bem as nossas custas, não trabalham o suficiente para justificarem os salários e fazem um trabalho antidemocrático, pois trabalham para perpetuar o governo que está no poder, possivelmente, em vistas de garantirem mais quatro anos de trabalhos fáceis e de ganho certo. Não seria balela dizer que alguns setores dos órgãos públicos municipais parecem estar mal-assombrados. Isso é seria resultado das intervenções de alguns agentes políticos que se aproveitam do poder que tem e agem na máquina pública para beneficiarem a si e os seus partidários às nossas custas? Quem não conhece pessoas nessa situação? Na semana passada saiu uma notícia em jornal local fazendo menção a situações como essa. Agentes políticos extrapolam em suas funções tendo como cúmplices os apadrinhados, inclusive alguns que se intitulam evangélicos. Fico indignado e revoltado ao ver pessoas que professam a mesma fé que professo e estão se vendendo para angariarem posição dentro do funcionalismo público à custa da desonestidade, do jeitinho brasileiro e mau-caratismo. Para DaMatta, isto é um ato de malandragem típico do ser brasileiro, viciado pela conduta da esperteza e pela cultura do “se dar bem” . Ele mesmo diz:

A malandragem, assim, não é simplesmente uma singularidade inconsequente de todos nós, brasileiros. Ou uma revelação de cinismo e gosto pelo grosseiro e pelo desonesto. É muito mais que isso. De fato, trata-se mesmo de um modo – jeito ou estilo – profundamente original e brasileiro de viver, e às vezes sobreviver, num sistema em que a casa nem sempre fala com a rua e as leis formais da vida pública nada têm a ver com as boas regras da moralidade costumeira que governam a nossa honra, o respeito e, sobretudo, a lealdade que devemos aos amigos, aos parentes e aos compadres. (DaMatta, Roberto. O que faz o brasil Brasil? Editora Rocco: Rio de Janeiro, 1984, pg. 104-105).

Ser brasileiro, na análise de DaMatta, é ser alguém que não está preocupado com os parâmetros das leis e insurge-se contra esse sistema. Um evangélico que se porta tal qual o brasileiro de DaMatta, presta-se ao prejuízo moral que não é nada proveitoso para o Reino de Deus, identificando-se, assim, com a corrupção. O crente deve ser exemplo, luz e sal para este mundo. Pessoas que se dizem cristãs e permitiram-se entrar no serviço público por favores de políticos são tão desonestos como foram aqueles, e não merecem respeito, antes censura e disciplina por terem alcançado um status social de forma incomum, pois, além disso, afrontaram ao trabalhador honesto e à sociedade. Portanto, se algum cristão quer entrar no serviço público faça-o com honra e dignidade: estude para passar em concurso público e não aceite os favores de políticos desonestos que abrem as portas das instituições do munícipio como se fosse um lugar em que qualquer pessoa poderia entrar e trabalhar. Eles não fazem o mesmo com as portas de suas casas, pois para eles, as instituições públicas não têm dono. Porém, gostaríamos de dizer que há donos que precisam se identificar enquanto tais para inibir a corrupção e a política dos favores.
Apesar de acreditarmos que a política em si desentoa do ideal cristão desde sua instituição, oro para que Deus nos dê um governo sério cujo objetivo seja conservar os valores morais, principalmente os da família, já que isso é uma das poucas intervenções que um cristão deve fazer: Admonesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador (I Tm 2:1-3). Entendemos que a visão cristã não preza pelas ideologias deste mundo, mas pela verdade do Reino de Deus e dos céus. Unir Igreja e estado (política) sempre foi um problema e sempre será, porquanto seus ideais são antagônicos. No cristianismo encontramos uma moral autêntica que inclusive preza pela decência, pela moral, pelo pacifismo e tem poder de transformar uma sociedade e elevá-la ao equilíbrio tão desejado.