quinta-feira, 31 de março de 2011

PRELEÇÕES SOBRE A VERDADE

1a. Preleção: A VERDADE NO INTERIOR

“Para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus”(Efésios 3: 17 - 19).

Durante a Idade Média, dois grandes métodos de conhecimento espiritual foram utilizados : o Introspectivo e o Dialético. O primeiro predominou entre os místicos cristãos, enquanto o segundo foi mais prestigiado pelos escolásticos, principalmente os tomistas.

O Método Introspectivo consistia na busca da verdade através de um “olhar para dentro”. O cristão deveria se desligar do mundo sensitivo, do lado de fora, para que a verdade instalada no interior resplandecesse. Acreditavam os místicos cristãos do período medieval que a razão humana era por si só incapaz de atingir a verdade, porquanto ela havia se desvinculado de Deus pela queda adâmica , perdendo o seu ponto de apoio. Através, todavia, da reconciliação do homem com Deus mediante Jesus Cristo, os nossos pecados seriam perdoados e o Espírito de Deus habitaria em nós. Esse mesmo Espírito iluminaria a razão humana e a faria chegar a um porto seguro. Assim, a introspecção passaria do conhecimento da razão natural ao conhecimento oriundo da razão iluminada pelo Espírito, e desse último ao conhecimento puramente espiritual, intuitivo, o qual transcenderia os limites da razão.

O Método Dialético consistiria na busca da verdade através do confronto de argumentações, com prevalência da razão lógica. Os tomistas criam que o conhecimento da verdade vinha de fora. Assim, eles procuravam provar a existência de Deus mediante os princípios conhecidos na natureza (movimento, causa e efeito). Enquanto os tomistas queriam conhecer a Deus pela observação da criação, os místicos procuravam conhecer a criação através do conhecimento de Deus, ou seja: pelo conhecimento de Deus eles pensavam a natureza, como ela deveria ter sido se o homem não tivesse pecado, assim como o seu propósito na mente divina. A fé dos tomistas era eminentemente proposicional e doutrinária, a fé dos místicos era existencial e pessoal. Os tomistas ressaltavam o intelecto e eram “frios”. Os místicos enfatizavam o desvelamento da alma e eram poderosamente emotivos.

Antes dos tomistas e dos místicos, Santo Agostinho (séc. IV) revelou-se como um exemplo de moderação e biblicidade quanto ao referido assunto. Para o ilustre mestre da Igreja Antiga, o caminho místico é o correto, no entanto, a introspecção chega à verdade de forma atemática. A igreja, todavia, precisa tematizar a verdade, apresentando-a de forma proposicional, através da razão lógica, a fim de que seus membros tenham argumentos contra as hereges, de modo que a comunidade seja protegida do engano. O autor da Bíblia está dentro de nós e, com Ele, a verdade. Entretanto, a leitura da Bíblia desperta a razão natural, a fim de que ela passe à razão iluminada e esta salte para a contemplação direta da verdade. Para conferir se chegamos à Verdade e não ao engano de nosso coração perverso, devemos retornar ao Texto Sagrado, padrão avaliativo e única regra de fé e de prática. Se a introspecção é solitária, a expressão tematizada ou proposicional da verdade descoberta é fruto do debate dialético em uma igreja que se reúne com sinceridade, sob a autoridade escriturística.

“E vós tendes a unção do Santo e sabeis tudo. Não vos escrevi porque não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem da verdade”(I João 2: 20 e 21).

“E a unção que vós recebestes dele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como a unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, assim nele permanecereis.”(I João 2: 27).

É bom salientar que os dialéticos normalmente não atuaram como agentes de transformação imediata da História. Eram exageradamente intelectualistas e lhes faltava a paixão que caracterizava os introspectivos. Os dialéticos não tinham uma convicção interior da verdade, mas criam na “verdade” consensual ou mais lógica. Os agostinianos eram de uma convicção inabalável, estavam dispostos a enfrentar a oposição do mundo inteiro pela verdade que lhes incendiava o coração. Paulo disse:“Mas quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei carne nem sangue”(Gálatas 1: 15 e 16).

O melhor exemplo de um homem tomado de convicção da Verdade foi Martinho Lutero. Poderíamos ainda citar Jerônimo Savonarola e John Wesley. Vale salientar que Lutero era um agostiniano influenciado pelo misticismo cristão germânico (Eckart e Tauler) e John Wesley pelo misticismo de Tomás de Kempis (autor de A imitação de Cristo) e Jeremias Taylor.

Nesses dias atuais em que a Cristandade, sem espiritualidade, vive para fora, dependendo de tecnicidade musical e audiovisual, a falta de convicção é notória. Alguns não crêem sequer numa Verdade Absoluta, tendo por orgulhosos os que se mostram convictos. Os pastores são “qualificados” pelo ativismo e personalidade extrovertida, enquanto os contemplativos são considerados alienados. Se quisermos um avivamento temos que nos voltar para dentro, buscando mais profundidade que largura, mais convição e espiritualidade que impressionismo sensitivo.

“Quero ser aqui o palerma orgulhoso, o cabra duro e me alegro que me chamem assim, pois o que vale aqui é não recuar(...)Em questões de amor é preciso ceder, porque ele tudo suporta; em questões de fé, no entanto, nada. (...)Não deve tolerar nada nem recuar. Deve ser extremamente orgulhoso e persistente. Contudo, em questões de amor, a situação é outra. Pela fé, entretanto, o ser humano é (por assim dizer) Deus, que não pode ceder. Deus é imutável, e assim terá que ser a fé” (MARTINHO LUTERO).

2a. Preleção : VERDADE E PARADOXO

“Para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus”(Efésios 3: 10).

Em certa ocasião, uma pessoa mostrou-se perturbada pelo fato de eu pregar algumas vezes sobre o valor do celibato e em outras vezes sobre o valor do casamento. Na ótica daquela pessoa, uma pregação excluía a outra e a minha posição era contraditória. Eu acredito que o meu interlocutor queria que eu me retratasse de uma pregação ou de outra, mas eu continuei sustentando as duas.

Os grandes líderes da Igreja Cristã, como Lutero, Wesley e Tertuliano, pareciam contraditórios aos seus ouvintes. Isso acontecia porque a Verdade é um contraste de ênfases que se concilia no infinito. Apesar de ser possível demonstrar de modo lógico, através da razão, a coerência da verdade e a harmonização dos contrastes, essa interferência de nossa razão com o propósito de unificação faz-nos perder um pouco do aspecto arrebatador da Verdade. A melhor forma de apreensão da Verdade é, portanto, aquela na qual os contrastes são apresentados e a conciliação se dá no espírito do crente através de um êxtase contemplativo e não mediante a razão. Esse é o conhecimento espiritual, próprio para os adultos, embora não atingível pelas crianças em Cristo.

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido”(I Cor. 2: 14, 15).

Os que não exercitam as faculdades espirituais são incapazes de perceber os múltiplos aspectos da Verdade, porque eles têm uma visão unidirecional. Quando olham para um ângulo, perdem a percepção do outro. As heresias surgem exatamente da consideração desquilibrada da Verdade.

Nicolau de Cusa, um conhecido místico cristão, dizia que Deus era o ponto de encontro dos contrários, pois o Senhor era pequeno e grande, móvel e imóvel. Era pequeno, porque estava tão totalmente presente em um átomo como estava presente no mundo inteiro. Era grande, porque nem a terra e nem os céus poderiam contê-lo. Era imóvel, porque, sendo onipresente, não tinha para onde se mover. Era móvel, porque não estava inerte, mas operante no mundo.

Deus são três pessoas e é uma substância. Jesus era Deus e homem em uma só pessoa. No céu, há um “mar de vidro, semelhante ao cristal” (Apoc. 4:6). Ora, se é mar, tem movimento, e se é de vidro, está parado. Assim, o céu é um movimento repousante ou um repouso ativo.

O mandamento do amor é chamado de lei da liberdade (Tiago 2: 12). Na ressurreição, teremos um corpo espiritual (I Cor. 15: 44) que, à semelhança do corpo glorificado de Jesus Cristo, pode ser tocado e, ao mesmo tempo, atravessar paredes e desaparecer.

O crente deseja partir e estar com Cristo e, ao mesmo tempo, permanecer na carne por causa dos homens (Fil. 1: 21-24).

Paulo fala que, quando estamos fracos, aí é que somos fortes (II Cor. 12 : 10), e descreve a vida cristã como um paradoxo:

“...como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como morrendo e eis que vivemos; como castigados e não mortos; como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo e possuindo tudo”(II Cor. 6: 8 - 10).

Jesus fez o bem no sábado e demonstrou que, descumprindo o sábado, estava cumprindo a lei. O Espírito Santo, que nos guarda da tentação, conduziu Jesus ao deserto para ser tentado pelo Diabo, sendo que, obviamente, o Senhor teve a vitória.

Como o apóstolo Paulo (II Cor. 10:10), os cristãos espirituais sempre parecerão contraditórios e incoerentes aos tolos, ociosos e carnais. No entanto, se distinguirão dos inconstantes pela estabilidade, pela convicção inabalável, pela segurança e pela comunhão profunda com Deus.

“...Assim existem muitos ditos nas Escrituras que tomados literalmente são contraditórios, mas se as causas são mostradas, tudo está certo....Em verdade, o que é a vida interna de um homem senão meros antilogiae ou contradições, até que ouçamos as causas? Meus antologistas, portanto, são grandes, finos, piedosos porcos e asnos. Eles coletam minhas antilogia e deixam as causas a sós”(MARTINHO LUTERO).

3a Preleção : A VERDADE É IRRESISTÍVEL

“Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade”(II Cor. 13: 8)

Nós já dissemos que o crente que, pelo Espírito, descobre a verdade no interior (I Cor. 2: 12; Efésios 1:18,19; II Cor. 4:6,70) torna-se poderosamente convicto dela. Essa santa convicção é uma chama no coração dos pregadores, a qual impressiona os ouvintes:“porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e com muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós”( I Tess. 1: 5).

A Bíblia diz, com respeito a Estevão, o primeiro mártir da Igreja, que “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava”(Atos 6: 10).

Aquele que está incendiado pela verdade não apenas mostra uma convicção irresistível, mas argumenta com sabedoria incrível. A convicção santa de um crente, que vive em um mundo assaltado pela dúvida, irrita os incrédulos impenitentes, enquanto o poder cristão de argumentar deixa-os perturbados. Em face disso no passado, os inimigos do evangelho, despojados de argumento que pudesse sustentar suas opiniões, caluniavam violentamente os cristãos. Os primeiros cristãos foram acusados de canibalismo e incesto. Os papistas do século XVI inventaram que Lutero era um ébrio, enquanto Calvino era falsamente acusado de ser homossexual.

No século XVIII, o santo pregador João Wesley recebeu acusações de Thomas Causton, segundo as quais ele era “um hipócrita malicioso, um sedutor, um traidor de minha confiança, um egrégio mentiroso e dissimulador, empenhado em afastar de mulheres casadas as afeições por seus maridos, um beberrão, o proprietário de um bordel, admitindo prostitutas, exploradores de prostitutas, bêbados, óh! E criminosos e sanguinários à mesa do Senhor, repelindo pessoas por puro despeito e malícia...um papista, se não um jesuíta, ou melhor, um introdutor de uma religião da qual ninguém mais ouvira; um sacerdote orgulhoso, cujo alvo é se tornar um bispo, um tirano espiritual...um semeador de sedição, um incendiário público, um perturbador da paz das famílias....em uma palavra, um tal monstro que o povo preferiria morrer a continuar com ele”(JW D, 18: 540-41)

Os homens de Deus, todavia, caracterizavam-se pela segurança que demonstravam em momentos como esses. Eles não revidavam as ofensas e nem se preocupavam em defender-se. Sabiam que estavam do lado certo e que Deus os defenderia, por isso continuavam pregando, enquanto ignoravam as críticas, para maior ira dos perseguidores.

“Toda ferramenta preparada contra ti não prosperará; e toda língua que se levantar contra ti em juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor e sua justiça que vem de mim, diz o Senhor”(Isaías 54:17).

A Bíblia diz que os inimigos da cruz, para calar Estevão, “apresentaram falsas testemunhas”(Atos 6: 13). Ele, todavia, contemplativo, se mantinha indiferente a tudo isso.

“Então, todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo”(Atos 6: 15).

Quando o Sinédrio lhe deu oportunidade para defender-se, ele começou a pregar o plano de Deus para a nossa redenção.

“E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seu coração e rangiam os dentes contra ele. Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus. Mas eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos e arremeteram unânimes contra ele...E apedrejaram Estevão, que em invocação dizia : Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes impute este pecado. E tendo dito isto adormeceu”. (Atos 7: 54 - 60.).

“No que me diz respeito, gosto que se escrevam tais livros contra mim; pois não só me faz bem ao coração, mas também ao póplite e ao calcanhar quando noto que através de mim, homem pobre e miserável, Deus, o Senhor, irrita e provoca a cólera e fúria de ambos, os príncipes do mundo e do inferno, que de maldade gostariam de despedaçar e explodir, enquanto eu estou sentado à sombra da fé e do Pai Nosso e fico rindo do diabo e seu séquito com toda a sua grande ira, gritaria e repelões. Nada conseguem com isso, a não ser que sua causa piora a cada dia que passa e promovem e melhoram a minha (isto é, a de Deus). (...)Pois estas coisas me deixam jovem, animado, forte e alegre” ( MARTINHO LUTERO)

Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho
(Membro do Presbitério Anabatista da Igreja em Fortaleza)

sábado, 26 de março de 2011

PRELEÇÕES SOBRE A IGREJA

REV. Glauco Barreira Magalhães Filho(Membro do Presbitério Anabatista da Igreja em Fortaleza)
 

1a PRELEÇÃO : A IGREJA VERDADEIRA

“O tempo de silêncio se foi e o tempo de falar chegou” ( Martinho Lutero)

INTRODUÇÃO

Cremos que existe apenas uma igreja orgânica de Jesus Cristo(Mateus 16:18), que pode ser chamada de Corpo de Cristo (I Cor. 12:13). Esta igreja é composta por todos os verdadeiros crentes de todas as congregações locais. Essa é a igreja EM CRISTO.

As comunidades locais (em cidades) também são chamadas de “igrejas”, daí se falar em IGREJAS em uma determinada região, onde existia UMA em cada cidade(Gálatas 1:2). A igreja orgânica, que é una e invisível, tem seus membros entre as igrejas locais e visíveis. A igreja local é a igreja EM UM LUGAR.

Cremos que entre as igrejas locais há aquelas que, apesar de terem pessoas salvas, não seguem o modelo bíblico na doutrina e na prática. A nossa convicção ainda é a de que em cada época existem igrejas que seguem o modelo bíblico, de modo que nunca existirá um período sem o testemunho integral da verdade de Deus através de igreja visível verdadeira.(Mateus 24: 35). Admitir o contrário é proclamar o fracasso de Deus, ou a sua impossibilidade de sustentar aquilo que ele começou.

“...exortando-vos a batalhar pela FÉ que DE UMA VEZ PARA SEMPRE foi entregue aos santos”(Judas 3)

JOÃO 19: 23 e 24

A Bíblia diz que os soldados não quebraram os ossos de Jesus (João 20: 33-36). Isso indicava que o corpo místico de Cristo ( a igreja orgânica e invisível) não pode ser dividida. As divisões denominacionais da cristandade, apesar de lamentáveis, não atingem a igreja invisível.

Nós sabemos que o nosso corpo fica invisível em virtude da roupa que vestimos. Nós podemos conhecer mais ou menos o corpo de alguém pela sua apresentação mediante a roupa. As vestes de Jesus, portanto, representavam a igreja visível. A divisão das vestes de Cristo entre os soldados egoístas representava a triste divisão denominacional que ocorreria em virtude dos homens quererem se apropriar da igreja para si, estabelecendo suas próprias doutrinas. A túnica de Jesus, ao contrário das vestes, não foi dividida, pois não tinha costura e o rasgo lhe retiraria o valor. Aquela túnica era uma túnica de RABI (Mestre) e, portanto, representava a sã doutrina ou o ensino de Cristo. Isso revela que nem o egoísmo humano é capaz de fazer desaparecer a sã doutrina em qualquer período da história humana.

Uma “igreja” que tem uma doutrina parcialmente verdadeira e parcialmente falsa não tem uma parte da sã doutrina, antes, não a tem de forma alguma, pois a sã doutrina não se divide. Esse princípio da unidade já existia na lei (Tiago 2:10). É interessante observar que, no Novo Testamento, quando se fala em ensino errado, menciona-se “doutrinas”(plural), enquanto ao se falar no ensino de Cristo, faz-se referência a “doutrina”(singular).

“...nos últimos tempos ALGUNS apostatarão da FÉ”( I Tim. 4:1).

O versículo acima trata da apostasia. A palavra significa desvio do caminho. Ora, se alguns se desviarão do caminho, isso quer dizer que outros permanecerão nele, ou seja, sempre haverá pessoas no caminho.

GÊNESIS 28: 17 –l9

Notemos aqui que Jacó levantou uma coluna, indicando a presença constante de uma igreja que se mostra coluna e sustentáculo da verdade (I Tim. 3:l5). Jacó derramou azeite sobre ela para indicar que ela não somente é pura na doutrina, mas também avivada pelo Espírito.

Para ficar claro que essa coluna era um símbolo da igreja, Jacó deu ao lugar o nome de BETEL (CASA DE DEUS), mas a Escritura diz que, antes disso, o local chamava-se de LUZ. É da luz da verdade que a igreja surge como coluna e esteio da verdade.

As igrejas devem ter cuidado na escolha de seus pastores, pois eles são elemento imprescindível na manutenção da igreja verdadeira:

“Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido”(I Tim. 4:6).

2a PRELEÇÃO : A MISSÃO PROFÉTICA DA IGREJA BATISTA RENOVADA MORIÁ

“Estaria você pronto a abandonar tudo aquilo que não subsistir ao exame da palavra de Deus – e permanecer nesta posição...e não aceitar nada menos do que isso, mesmo que possa ficar sozinho numa tal posição?” (C. H. MACKINTOSH).

INTRODUÇÃO

“...e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este Reino?”( Ester 4: 14)

Lendo a história de Israel, nós vemos sucessivas apostasias. No entanto, Deus sempre tinha um remanescente fiel, até mesmo nos momentos mais escuros ( I Reis 19:14 e 18). Assim como o reino de Israel foi dividido, mas nunca faltou uma lâmpada de Davi (descendente de Davi para o trono de Judá), assim também na cristandade, por mais que tenham surgido as denominações com suas doutrinas próprias, nunca faltará comunidades guardiãs da sã doutrina.

No século II, o remanescente fiel chamava-se “igreja montanista”. No século IV, a Igreja Donatista era o remanescente. Depois vieram os paulicianos e os valdenses. No século XVI, os defensores da Santa FÉ foram os anabatistas, e no século XVIII, os batistas.

Cremos que a IGREJA BATISTA RENOVADA MORIÁ representa uma manifestação do remanescente em sua época e lugar, ou seja, é a continuidade da igreja apostólica. Isso não significa que sejamos denominacionalistas ou exclusivistas, como alguns caluniosamente alegam. Refutamos a primeira acusação, dizendo que não nos importamos com nomes ou placas, mas sim com a Sã Doutrina, isto é, entendemos que uma igreja em outra cidade (limite bíblico de uma igreja local) que não faça parte da nossa comunidade pode também ser chamada de igreja apostólica, se guardar a doutrina bíblica, bem como estamos dispostos a nos unir com qualquer grupo em nossa cidade que também guarde, na inteireza, a Palavra de Deus, e aqui se revela que não somos exclusivistas.

II CRÔNICAS 34:14-21

“...O Sacerdote achou o livro da lei do Senhor...”(II Crônicas 34:14)

Muitas igrejas, como as da Reforma, nasceram com compromissos políticos que as impediram de examinar as Escrituras com ausência de preconceitos. Outras têm nascido com compromissos denominacionais, levando os “intérpretes” a terem uma interpretação definida antes de interpretarem.

Poderíamos falar de igrejas cujas doutrinas são subordinadas aos caprichos e conveniências de um “pastor-ditador” ou “super-espiritual”, ou ainda, de um “profeta” que tem êxtases.

A Igreja Batista Renovada Moriá não surgiu com compromissos políticos, nem muito menos denominacionais. Não nascemos com “ditadores”, pois adotamos o sistema congregacional de governo eclesiástico; permitimos que qualquer membro tenha iniciativas, inclusive para fundar congregações; as diversas comunidades que compõe a nossa igreja na cidade gozam de autonomia em suas programações e administram suas arrecadações; cremos na celebração congregacional da Ceia do Senhor, pela qual todos partem o pão; temos reuniões em grupos familiares; adotamos um governo plural, ou seja, por um presbitério (vários pastores eleitos pela igreja); enfim não somos um império religioso. Nossa doutrina não é apresentada dogmaticamente, como se tivessem que ser aceitas só porque fulano falou, mas são expostas, de forma persuasiva, com argumentos sólidos nas Sagradas Escrituras. Por termos segurança da irressistibilidade de nossa fundamentação bíblica – Atos 6:10 – não impedimos os nossos membros de visitarem outras igrejas, nem controlamos suas leituras, bem como estamos sempre dispostos ao debate público sobre qualquer tema religioso.

Quanto as manifestações proféticas, nós as julgamos pelas Escrituras, e não as Escrituras por elas. Não fazemos da experiência regra de fé (Col. 2: 18), mas nos submetemos à autoridade das Sagradas Letras ( I Cor. 4:6).

A Igreja Batista Renovada Moriá não nasceu para ser mais uma “igreja”, mas sim, para ser um sinal de luz da verdade. Essa visão ( Moriá quer dizer VISÃO) está em nós desde o princípio.

Eu comecei o meu ministério como um evangelista e pregador itinerante: fundava comunidades e partia para fundar outras, deixando-as aos cuidados de denominações já existentes. Senti, todavia, que era hora de erguer uma igreja que pudesse projetar a inteireza da verdade de Deus e voltar à simplicidade do cristianismo primitivo.

O nosso ensino nasceu da pesquisa exaustiva e despreconceituosa da Palavra de Deus, sendo fruto de noites de leitura e oração intensa. Pela providência de Deus, em nossos estudos de História da Igreja, percebemos que em cada época havia um grupo cristão que guardava doutrina semelhante de outro anterior e a de outro posterior. Descobrimos, então, que havia uma teoria, defendida por estes mesmos grupos, segundo a qual a igreja apostólica tinha se perpetuado desde os dias antigos até hoje. Comparamos as confissões de fé desses grupos com a nossa, e concluímos que ERAM AS MESMAS! ALELUIA!.

Nesses dias de apostasias, ecumenismo, rock “evangélico”, politicagem, comercialização das coisas sagradas, “estrelas” de púlpito e falsos profetas, enfim, nesses dias em que o santo LIVRO estava ENTERRADO, nós o encontramos pela graça de Deus e para a Sua glória, e como o sacerdote em II Crônicas estamos gritando: ACHAMOS O LIVRO!.

A nossa missão é sermos igreja bíblica e apostólica para nossa geração, esforçando-nos para sermos luz para o restante da Cristandade na doutrina e na santidade, mostrando-nos fervorosos na oração e destemidos evangelistas! Que Deus nos ajude!

3a PRELEÇÃO : A IGREJA INDESTRUTÍVEL

Alguns anos antes da Reforma Protestante, surgiu um movimento intelectual denominado Renascentismo, o qual pregava uma volta aos escritos dos antigos filósofos e intelectuais da Antigüidade Clássica, cuja leitura havia sido limitada pelo catolicismo medieval, implantador da “Era das Trevas”. O Renascentismo, além de incutir no povo a idéia de retorno, trouxe também o espírito crítico. Sem dúvida, esse movimento foi, de certa forma, uma permissão da providência divina para dar suporte a Reforma Protestante com a sua pregação de retorno ao padrão bíblico da igreja primitiva, bem como para encorajar a crítica contra a hipocrisia da Igreja de Roma.

Acontecida a Reforma, houve uma surpresa. Grupos evangélicos que sobreviveram à perseguição medieval do catolicismo, e que estavam escondidos, apareceram em cena. Esses grupos que foram chamados de “anabatistas”, mas que em cada época tinham um nome peculiar em função de seu principal líder, não eram uma tentativa de retorno à Igreja Primitiva, mas a PRÓPRIA Igreja Primitiva.

Quando Constantino, imperador romano, uniu a Igreja Cristã ao Estado, formando a apóstata Igreja Católica Romana no século IV, os cristãos fiéis ficaram fora dessa união adúltera, sendo conhecidos, então, por cátaros (puros) ou donatistas, e, posteriormente, por anabatistas. Esses cristãos, em minoria, conseguiram sobreviver durante toda a Idade Média sob diversos nomes, apesar de toda a perseguição de Roma. Na época da Reforma, pensava-se que eles já não existiam, quando eles repentinamente apareceram.

Os anabatistas ou radicais, durante a Reforma, foram perseguidos não só por católicos, mas também pelos próprios protestantes de quem eles esperavam apoio. Os protestantes não levaram a Reforma até o fim, porque queriam obter o apoio dos príncipes, enquanto os anabatistas ensinavam que os crentes não deveriam se envolver em política e em juramentos de lealdade à impérios terrenos, bem como não deveriam guerrear.

Importa lembrar que, durante a Reforma, surgiram muitos grupos fanáticos que alguns associam com os anabatistas, mas que nada tinham a ver com eles.

Da época da Reforma(século XVI) até o século XIX, houve entre os crentes muita pesquisa bíblica para descobrir qual era a igreja que correspondia ao Novo Testamento. Muitos livros foram escritos sobre esse assunto, principalmente, pelos batistas. Muitos acharam a igreja bíblica. Infelizmente, hoje, há uma negligência geral quanto a busca da igreja bíblica. Muitos não estão dispostos a comparar suas doutrinas com a Palavra de Deus, sendo prisioneiros de sua tradição religiosa, enquanto outros cinicamente alegam: “toda igreja tem erros”. Ora, isso é verdade no sentido de que toda igreja tem homens que podem errar no seu proceder, mas não é correto no sentido de que toda igreja deva ter heresias, doutrinas espúrias e apostasias, pois a Bíblia condena essas coisas.

Ainda existem aqueles que, em vez de voltar à Bíblia, dizem que esta está ultrapassada e que Deus tem novas revelações ao seu povo para hoje acerca de doutrina e prática. Deus tenha misericórdia!

Meu querido leitor, estude a Bíblia e confirme as suas conclusões sinceras, examinando a história da igreja, pois serão as mesmas dos anabatistas, e depois siga a IGREJA DO NOVO TESTAMENTO, pois será essa a ordem do Espírito Santo:

“E os teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti: Este é o caminho, andai nele...”(Isaias 30:21)

Aos batistas, também falo: não se considerem a igreja do Novo Testamento simplesmente por serem descendentes dos anabatistas, pois estes não se envolviam em política, nem em guerras, nem em juramentos. As suas mulheres não se adornavam e, ainda, eles criam no batismo no Espírito Santo e nos dons espirituais, coisas que a maioria dos batistas já abandonou.

“E não queirais dizer dentro de vós mesmos: Temos por pai a Abraão, porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão”(Mateus 3:9)