domingo, 10 de abril de 2011

CONFISSÃO DE SCHLEITHEIM

No ano de 1527, um grupo de líderes anabatistas se reuniu no vilarejo de Schleitheim, perto da fronteira suiço-alemã, com o objetivo de redigir resposta à violenta oposição de fora e resolver diferenças de opnião dentro do movimento Radical. Michael Sattler, que recentemente havia saído do monastério beneditino, convertendo-se à fé bíblica anabatista, foi o redator. Nesta reunião crentes testemunharam que o Espírito Santo havia guiado-os a convicções comuns.

Os sete artigos do acordo de irmãos foram:

I. Observação concernente ao batismo: O batismo será dado a todos aqueles que aprenderam o arrependimento, a regeneração de vida e que acreditam verdadeiramente que seus pecados foram expiados por Cristo, e a todos quantos andarem na ressurreição de Jesus Cristo e desejem ser sepultados com ele na sua morte, para que possam ser ressuscitados com ele, e a todos aqueles que, com esse significado, requeiram-no (batismo) de nós e o requeiram por si mesmos. Isto exclui completamente o batismo infantil, a
maior e principal abominação do Papa. Em tudo isso tem-se fundamento e testemunho dos apóstolos (Mt 28; Mc 16; At 2, 8, 16 e 19). Desejamos sustentar isso humildemente, porém firmemente e com convicção.

II. Estamos em acordo sobre a excomunhão como segue: A excomunhão será empregada em todos aqueles que deram a si mesmo ao Senhor para andar em seus mandamentos, e em todos aqueles que foram batizados no corpo de Cristo e que são chamados de irmão ou irmã, e que, no entanto, deslizam ocasionalmente e caem em erro e em pecado, sendo negligentemente alcançados. Os mesmos serão admoestados duas vezes em particular e a terceira vez abertamente e, então, disciplinados ou excomungados de acordo com o mandamento de Cristo (Mt 18). No entanto isso será feito de acordo com a direção do Espírito (Mt 5) antes do partir do pão, para que possamos partir e comer de um só pão, em unidade de pensamento e em um só amor, e possamos beber de um só cálice.

III. No partir do pão estamos em unidade de pensamento e em acordo como segue: Todos quantos desejem partir o mesmo pão em memória do corpo de Cristo sacrificado e todos quantos desejarem beber do mesmo cálice em memória do sangue de Cristo vertido na cruz, se unirão anteriormente pelo batismo no corpo único de Cristo, que é a igreja de Deus e cuja cabeça é Cristo. Como o apóstolo Paulo esclarece, nós não podemos ao mesmo tempo beber do cálice do Senhor e do cálice do diabo. Isto é, todos aqueles que andam nas obras mortas das trevas não têm parte com a luz. Portanto, todos os que seguem o diabo e o mundo não têm parte com os chamados por Deus para fora do mundo. Todos os que jazem no mal não têm parte com o bem. Portanto é e deve ser assim: Qualquer um que não foi chamado pelo único Deus, para uma só fé, para um só batismo, um só Espírito, em um só corpo com todos os filhos da Igreja de Deus não podem compor um só pão com eles, como de fato deve ser feito se alguém for legítimo para partir o pão de acordo com a ordem de Cristo.

IV. Nós concordamos sobre a separação como segue: A separação será do mal e da maldade que o diabo implantou no mundo; desta maneira simplesmente não teremos comunhão com ímpios e não andaremos com eles na multidão de suas abominações. É dessa forma: visto que todos que não andam na obediência da fé e não se uniram a Deus de forma que desejem fazer a Sua vontade são uma grande abominação diante de Deus, não é possível que nenhuma obra venha deles senão coisas abomináveis. Na verdade todas as criaturas estão divididas em duas classes: justos e ímpios, crentes e descrentes, trevas e luz, o mundo e a Igreja ("os de fora"), o templo de Deus e os ídolos, Cristo e Belial, e um não tem parte com o outro. Para nós, pois, o mandamento do Senhor é claro quando Ele nos chama para vivermos separados do mal, para que desta maneira Ele seja o nosso Deus e nós sejamos Seus filhos e filhas. Além disso Ele nos adverte que nos privemos da Babilônia e do Egito mundanos de maneira que não nos tornemos co-participantes da dor e do sofrimento que o Senhor trará sobre eles. Disso devemos aprender que tudo que não está em unidade com nosso Deus e Cristo não pode ser outra coisa senão abominação da qual devemos nos afastar e evitar. Por essas coisas se entende todos os trabalhos e serviços religiosos católicos e protestantes (Observação: aqui provavelmente o autor se refere a reuniões protestantes sob a proteção do Estado), reuniões ou trabalhos assistenciais da igreja, casas de bebida, negócios cívicos, juramentos realizados em incredulidade ou coisas do gênero que são estimados pelo mundo, e que, todavia, estão em total contradição à Palavra de Deus e em concordância com toda a injustiça que está no mundo. Por todas essas coisas nós devemos estar separados e não devemos ter parte alguma com eles, pois que eles nada são senão abominação e também a causa de nossa natureza odiosa antes de nosso Cristo Jesus., que nos libertou da escravidão da carne e nos regenerou para servimos a Deus pelo Espírito que ele nos deu. Portanto, indubitavelmente, também devem ser lançadas ao chão as armas diabólicas dos ímpios pela virtude da Palavra de Cristo. "Não resistais ao mal".

V. Nós concordamos quanto aos pastores da Igreja de Deus como segue: O pastor na igreja de Deus, como o apóstolo Paulo deixou claro, será alguém que é exemplo para todos, irrepreensível e apto a ensinar. Esse ofício será para interpretação, admoestação e ensino, para advertir, disciplinar e afastar irmãos da igreja, conduzir os crentes em oração em favor da edificação dos irmãos e irmãs, para erguer o pão quando ele for ser partido, e em todas as coisas cuidar do corpo de Cristo, de maneira que ela possa ser edificado e progredir, e para que a boca do caluniador seja calada. Além disso, essa pessoa será assistida pela igreja que o elegeu de forma que ele, que serve o Evangelho, possa viver do Evangelho como o Senhor ordenou. No entanto, se um pastor fizer algo que requer disciplina, ele não será tratado diferentemente dos demais, perante o depoimento de três testemunhas. Assim, quando eles pecarem, serão disciplinados perante todos de forma que os outros temam. Mas se acontecer de um ministro ser afastado da igreja ou ser enviado ao Senhor (pelo martírio), outro deve ser ordenado em seu lugar imediatamente para que o rebanho do Senhor não se perca.

VI. Nós concordamos quanto à espada como segue: A espada é ordenada por Deus fora da perfeição de Cristo. Ela castiga e destrói o mal e guarda e protege o bem. Na lei a espada foi ordenada para a punição e morte dos ímpios, e a mesma espada é agora ordenada para ser usada pelos magistrados terrenos. Na perfeição de Cristo, entretanto, apenas a excomunhão é utilizada para alertar e afastar aquele que caiu em pecado, sem mortificar a carne, simplesmente com a advertência e a ordem de não mais pecar. Certamente será perguntado por muitos que não reconhecem isto como a vontade de Cristo para nós, se um cristão deve utilizar a espada contra o mal para a defesa e proteção do bem, ou por causa do amor. Nossa resposta é unanimemente como segue: Cristo nos ensina e ordena a aprender dele, pois ele é manso e humilde de coração, e por isso encontraremos descanso para nossas almas. Da mesma forma, Cristo não disse para aqueles que apanharam a mulher em flagrante adultério que a apedrejassem de acordo com a lei de seu Pai (e Ele ainda diz: como me ordenou, assim eu faço), mas na misericórdia, ensinou o perdão e admoestação para que não peque mais. Tal atitude nós também devemos tomar completamente em acordo com o mandamento do afastamento do irmão. Em segundo lugar, será perguntado, concernente à espada, se o cristão proferir julgamento em disputas mundanas e discutir como incrédulos discutem uns com os outros. Essa é a nossa resposta uniforme: Cristo não desejou decidir ou fazer julgamentos entre irmãos no caso da herança, mas recusou fazê-lo. Portanto, devemos agir da mesma forma. Em terceiro lugar, será indagado a respeito da espada, se alguém deve ser magistrado e se alguém deveria ser eleito para isso. A resposta é a que se segue: Eles desejaram fazer de Cristo o Rei, no entanto Ele rejeitou e as pessoas não enxergaram isso como um plano do Pai. Assim, devemos nós fazer como Ele fez, e segui-lo, para que não andemos em trevas. Pois como Ele mesmo disse: "Aquele que quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me". Da mesma forma, Ele mesmo proíbe a uso da força da espada dizendo: "Os príncipes desse mundo dominam sobre eles, mas não será assim entre vós". Ademais, Paulo diz em sua carta: "Pois os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conforme a imagem de Seu Filho". E Pedro também disse: "Cristo padeceu, (não dominou) deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos". Finalmente, será observado que não é apropriado para um cristão trabalhar como magistrado por causa das seguintes razões: a magistratura secular é segundo a carne, a do cristão, no entanto, é segundo o espírito; a casa deles e seu reino é aqui, fica apenas nesse mundo, mas a moradia do cristão é o céu; a cidadania deles é esse mundo, mas os cristãos são cidadãos do céu.; as armas utilizadas em seus conflitos e guerras são carnais e contra a carne somente, mas as armas do crente são espirituais, contra a fortificação do diabo. Os desse mundo ímpio se armam com aço e ferro, mas os cristão são armados com a armadura de Deus, com a verdade, com a justiça, paz, fé, salvação e a Palavra de Deus. Em resumo, como é na mente de Deus a respeito de nós, também deve ser a mente dos membros do corpo de Cristo voltada para Ele em todas as coisas, para que não haja cisma no corpo que o leve à destruição. Agora, já que Cristo é como as Escrituras o descrevem, os membros de seu corpo devem também estar em acordo, de forma que o corpo permaneça completo e unido para que possa progredir e ser edificado.

VII. Estamos em acordo a cerca do juramento com se segue: O juramento é uma confirmação entre aqueles que estão em discórdia ou fazendo promessas. Na Lei é ordenado realizá-lo em nome de Deus, mas apenas em verdade, não falsamente. Cristo, que ensinou a perfeição da Lei, proibiu qualquer tipo de juramento entre seus seguidores, quer seja verdadeiro ou falso - nem pelo céu nem pela terra, nem por Jerusalém nem pela sua cabeça - e pelo motivo que ele posteriormente dá, ninguém pode tornar um cabelo branco ou preto. Então nota-se que, por esta razão, todo juramento é proibido: não podemos assegurar que iremos realizar o que prometemos quando fazemos um juramento, visto que não podemos sequer mudar nada em nós mesmos. Agora há alguns, que não dão crédito a um simples mandamento de Deus, que objetam com essa pergunta: o próprio Deus não jurou à Abraão quando o prometeu que Ele estaria com Abraão e que seria o seu Deus se ele continuasse em Seus mandamentos? Por quê então não devo também jurar quando faço uma promessa a alguém? Resposta: Ouça o que dizem as Escrituras: Deus, visto que Ele desejava mais abundantemente mostrar a seus herdeiros a imutabilidade de sua deliberação, proferiu um juramento para que tivéssemos uma poderosa consolação, pois é impossível a Deus mentir. Observe o sentido das Escrituras: O que Deus proíbe de fazer, Ele próprio tem o poder de fazer, pois nada é impossível para Ele. Deus fez um juramento a Abraão, dizem as Escrituras, para que Ele pudesse mostrar que sua deliberação é imutável. Assim o é pois ninguém pode frustar nem opor-se à vontade de Deus. Portanto, Ele pode manter firme seu juramento. Nós, por outro lado, não podemos fazer nada, como nos ensinou Jesus, não podemos manter ou garantir nossos juramentos. Portanto, não devemos de maneira alguma jurar. Outros vão mais longe e refutam, dizendo: não é proibido por Deus jurar no Novo Testamento, embora seja, na verdade, um mandamento no Velho Testamento, mas é proibido apenas jurar pelo céu, pela terra, por Jerusalém ou pela sua cabeça. Resposta: ouça as Escrituras: quem jura pelo céu jura pelo trono de Deus e por Ele que está assentado sobre o trono. Note: é proibido jurar pelo céu, que é apenas o trono de Deus; quanto mais ainda é proibido jurar por Deus! Ignorantes e cegos, qual o maior: o trono ou aquele que está assentado? Outros ainda dizem: por que o mal está agora no fundo e por que o homem precisa de Deus para a fixação da verdade, os apóstolos Paulo e Pedro também juraram. Resposta: os apóstolos Pedro e Paulo apenas testificaram do que Deus havia prometido a Abraão em Seu juramento. Eles mesmos não prometeram nada, como o exemplo deixa bem claro. Testificar do juramento e fazer o juramento são coisas diferentes. Pois quando uma pessoa jura, ela está em primeiro lugar prometendo coisas futuras, como Cristo foi prometido a Abraão e, muito tempo depois, foi por nós recebido. No entanto, quando uma pessoa dá testemunho, ela testemunha do presente, quer seja bem ou mal, como Simeão falou a Maria sobre Cristo e testificou: "Esta criança é posta para a queda e elevação de muitos em Israel, para ser alvo de contradição, e para que se manifestem os pensamentos de muitos corações." Cristo também nos ensinou da mesma forma quando disse: "Seja sua palavra sim, sim e não, não. O que disto passar vem do maligno." Ele disse que nossa palavra deve ser sim ou não. Todavia quando alguém não deseja entender, não chega ao significado. Cristo falou de maneira bem simples: sim ou não, e todos quantos buscam ao Senhor irão entender de maneira simples a Sua Palavra. Amém.

Os Sete Artigos de Schleitheim
Cantão de Schaffheusen, Suíca
24 de Fevereiro de 1527

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