sexta-feira, 26 de julho de 2013

A beleza natural contrariando o pedantismo feminino

Desde a Antiguidade existe uma busca pela compreensão daquilo que é chamado de belo. A preocupação estética surgiu na Grécia antiga estudando a manifestação da beleza natural e da artística. Platão afirmava que o belo era uma manifestação do bem e da perfeição, mas também do que era verdadeiro. Na Modernidade, a maioria das culturas sempre esteve em constante ebulição para encontrar o caminho da multiplicidade do belo. Inclusive, o indivíduo foi transformado em objeto de beleza através de inúmeras invenções indo para além da arte. Isso fez com que valores referentes emergissem enquanto outros sucumbissem como forma de reorganização de determinados conceitos estéticos. As mudanças ocorridas fizeram com que a aceitação ao estado de naturalidade fisionômica do indivíduo entrasse em declínio. Com as tendências da moda mundana, a busca pela perfeição estética no indivíduo “cristão” aparece dinamizado e avassalador ao ponto de converter a modéstia e a simplicidade da aparência outorgada pelas Escrituras a um hedonismo relativista a que muitos adeptos do evangelicalismo contemporâneo aderiram, principalmente, as mulheres supostamente cristãs.
                As mulheres cristãs têm na Bíblia referenciais específicos de conduta para si que lhes servem de inspiração de vida. Algo que vai muito mais além do que mero estereótipo. As virtudes cristãs transformam o crente em alguém agradável no qual não se pretende enxergar o aformoseamento segundo um padrão instituído socialmente. Para compreendermos como a conduta influencia a aparência, recorramos às características seguintes de algumas personalidades bíblicas: a submissão de Sara a Abraão, a fidelidade de Rute a Jeová e a Noemi, o quebrantamento de Ana, o vigor de Prisca, a convicção de Loide e Eunice (I Tm 1:5) são exemplos para os quais as servas de Deus devem atentar. Aquelas mulheres santas desprenderam-se dos valores terrenos para buscarem uma comunhão efetiva com Deus. Este envolvimento teve como efeito obras de piedade. A piedade, conquistada através da renúncia da efemeridade, fez com que o exterior refletisse a simplicidade natural criada por Deus. Através de um espírito devotado, o interior sentiu a satisfação na vontade de Deus, assim como o comportamento exterior foi também contagiado.
Ora, há um entendimento bíblico de que muitos dos valores da vida são passageiros e pecaminosos, como o traje sensual e dispendioso e os atavios, não tendo, desta forma, qualquer relação com a genuína espiritualidade cristã. Entretanto, no liberalismo evangélico há um apego às vaidades femininas sem o menor rigor. Contudo, Paulo admoesta às mulheres cristãs: Quero também que as mulheres, em traje honesto, se ataviem com modéstia e sobriedade e não com tranças, ouro, pérolas ou vestidos custosos; mas (como convém a mulheres que se dizem piedosas) com boas obras (I Tm 2:9-10). As vestes, como Paulo ensina, se referem a um traje bem arrumado, moderado e com reservas femininas à sensualidade. Propõe o apóstolo, ainda, uma repugnância à roupa indecorosa e aos adornos os quais causam desonra à causa do ser cristã. De acordo com Filo (teólogo que buscou harmonizar a teologia judaica com a filosofia grega), a utilização de atavios e pinturas equiparariam as mulheres praticantes dessa moda a prostitutas. Ao que deduzimos o querer de algumas “cristãs” que esbanjam da estética artificial, demonstrando também que não têm nenhuma espiritualidade, antes querem chamar para si a atenção cobiçosa masculina. 
São essas mulheres que enchem os salões de beleza para fomentarem as vaidades e esvaziam os cultos de oração, promovem encontrões de fins de semana para passear enquanto almas clamam pelos pregadores do Evangelho. São mulheres reduzidas ao efêmero que, comparando-se aos padrões de beleza mundanos, sentem-se desprestigiadas em razão de sua aparência, algo que nas suas conversas de vaidades tentam contornar apontando para remediações plásticas e artificiais (que são carnais numa linguagem bíblica), tentando reinventar a maneira de ser evangélica com modas e incrementos a sua fisionomia para uma adequação mundana.
A mulher piedosa, entretanto, guarda-se desses males capazes de denegrir sua imagem enquanto cristã, mas a não piedosa não tem esse domínio; ou porque não entendeu os ensinos cristãos ou porque rejeitou o conveniente e o compatível para a fé. Essa evangélica moderna pratica obras pelos caminhos da ilusão, por isso o pedantismo delas impera: buscam a artificialidade da aparência, utilizando-se, por exemplo, de estiramentos da cabeleira, maquiagens faciais, uso de adornos nas orelhas, narizes e lábios, e até uso de tatuagens com uma suposta insígnia cristã. Mas duas colocações devem ser feitas: elas se esqueceram do zelo pelos fundamentos da fé cristã e enveredaram pelo caminho mundano da estética. Portanto, se estão descaracterizadas em relação ao paradigma cristão, será que elas podem ser consideradas cristãs?  
A moda efervescente do momento é alisar cabelos ou pintá-los, desrespeitando, então, o natural, aquilo que o Artista divino criou, conforme dizia Tertuliano (De cultu feminarum). Muitas cristãs têm cedido ao marketing midiático que proclama a novidade, num processo de massificação imperceptível a essas virgens imprudentes. Com isso, estão desonrando a feitura de Deus. Desponta assim um sentimento medíocre de querer fazer uma autovalorização de si pelos caminhos tortuosos da ilusão. Não valorizam sua naturalidade porque se incomodam pela aparência concedida por Deus. Fazem-nos pensar o seguinte: indiretamente, dizem a Deus, “por que me fizeste assim com aparência desprovida de beleza? Inquieta estou, por isso, mudarei o que sou, ainda que tenhas dito ser eu uma criatura feita dentro da Tua vontade, porque acho que a tua criação em mim, ó Deus, não alcançou o padrão de beleza que eu desejava para mim”. Estão, assim, lutando com Deus pelo supérfluo. Porém, não é por esse caminho que devem seguir. A Escritura, contrariamente, valoriza o eu natural, como o exemplo a seguir indica: A sua cabeça é como o ouro mais apurado, as suas guedelhas são crespas e pretas como o corvo (Cântico 5:11). A jovem sulamita cortejou seu esposo realçando sua beleza natural. Ela olhou as guedelhas dele, mas não se incomodou se eram cabelos desgrenhados(despenteados), nem muito menos se eram encrespados. Isso é o sinal de valorização da identidade natural. O que importa é resgatar o amor pelo que a pessoa do esposo é. Como se não bastasse, chama seu esposo de cândido, o puro e imaculado, aquele que não foi tocado pelo perfeccionismo estético da vaidade artificial.
Outra questão em causa é a ânsia de querer parar o tempo, conservar-se sempre jovem e não permitir que as marcas dos anos deixem suas cicatrizes. Essas cristãs vaidosas não querem envelhecer (têm vergonha ou sentem uma baixa estima terrível pela velhice). Contudo, passar e chegar aos áureos tempos da experiência deveria voltar a ser honrado. Aos velhos, sua beleza está nas cãs (Provérbios 20:29b). Seus cabelos brancos (cãs) não devem ser escondidos, porque coroam uma vida de experiências capaz de transmitir a justiça. Salomão expressou com sabedoria este patamar da vida: Coroa de glória são as cãs, a qual se achará o caminho da justiça (Provérbios 16:31). Dentre os Hebreus, os cabelos brancos representavam a majestade divina, porque assim estava caracterizado o Senhor (Daniel 7:10, Apocalipse 1:14). Era também a aspiração de Davi alcançar a velhice e demonstrá-la para poder orientar a geração subsequente: Ó Deus, tu me tens ensinado desde a minha mocidade; e até agora tenho declarado as tuas maravilhas. Até à velhice e às cãs, ó Deus, não me desampares; até que eu tenha declarado a tua força à geração vindoura (Salmos 71:17-18). Por isso, é dever do cristão valorizar seus honrados cabelos brancos. Até mesmo os jovens que já têm uma mecha desse prêmio da vida devem tratá-los com simpatia, porque refletem o degrau da vida que alcançaram. Alterar esse sentimento é desprestigiar a si, aos que são rebentos e, principalmente, é desonrar aquele que, com perfeição, definiu pormenorizadamente nosso ente humano: noutras palavras, é pecar contra Deus!
                Retornando a questão das mulheres, em termos gerais, está difícil encontrarmos uma evangélica pura em nossos dias. É mais fácil encontrarmos muitas religiosas emproadas desprezando a moral cristã. A ética cristã não é restrita aos conceitos neotestamentários, encontra-se respaldada desde a Criação porque é proveniente de um Deus moral que não muda, nem inova. Isaías, o profeta messiânico, adverte veementemente aquelas religiosas altivas, pois diz: Porque as filhas de Sião são altivas, e andam com o pescoço emproado... e passeiam andando a passos contados e fazendo tinir os ornamentos dos seus pés, portanto Jeová tornará caspenta a mioleira da cabeça das filhas de Sião e descobrir-lhes-á a nudez. Naquele dia, tirará Jeová o enfeite de anéis dos artelhos, e das coifas, e das luetas; os pendentes e os braceletes, e os véus leves; os diademas... e os cintos, e os vasos de perfume, e os amuletos; os anéis, e as joias pendentes... Será que em lugar de perfume, haverá mau cheiro; e, por cinto, corda; e, por cabelo encrespado, calva; e, por faixa de peito, cinto de cilício; marca a fogo em lugar de formosura (Isaías 3:16-24). O presente ordenamento está em vigor ainda hoje. Porém, muitos “pastores” (doutores do saber intelectualizado e liberalizante) têm assumido o papel de Deus, redefinindo práticas mundanas com aparência cristã que seu rebanho deve seguir. Para eles é normalíssimo ter uma cristã igual a uma mundana, porém isso foge ao princípio da diferenciação estabelecido nas Escrituras. O discurso facilitador destes pastores é propor um evangelho sem renúncias das vaidades mundanas. Dizem, diretamente, às suas ovelhas que continuem vivendo uma vida de aparências externas, ainda que estas contradigam as Escrituras. Argumentam que se trata de uma questão meramente cultural (ao dizerem isso, não têm ideia do que represente o conceito de cultura numa visão antropológica e teológica). Não consigo compreender como uma pessoa que se diz salva não tenha prazer em obedecer aos ensinos do Salvador. Desatino, irreverência e apostasia é o que na verdade está acontecendo!               
                Quem faz uso da artificialidade estética, mesmo conhecendo as Escrituras, não entende que está criando uma outra pessoa, desvalorizando quem é. Relacionando isso com algumas passagens das Escrituras, ela está equiparando-se a uma prostituta, como disse Filo, que tenta encantar seus clientes pela falsa imagem de uma pessoa que não é. Tertuliano, grande apologeta da fé cristã do século III, deu parecer sobre a maneira pela qual deveriam se comportar as mulheres cristãs. Chamando-as “ó diletíssimas irmãs”, mostra-lhes que a simplicidade era/é necessária em razão do pecado de Eva: “Uma cristã, que aspira ao céu e se lembra de que é herdeira de Eva e do seu pecado, deve sonhar menos com adornos... Com efeito, foi depois da falta, que a condenava a morrer, que Eva, sentindo a sua nudez, pôde sonhar cobrir-se de adornos e enfeites: esses são, portanto, adereços de morte, de enterros, que a mulher não deve procurar se quiser reencontrar a plenitude da vida anterior ao pecado” (TERTULIANO, 1974, p. 37-38). À mulher que abdica dessa simplicidade cristã para cumprir com os caprichos da vaidade, diz: “és a porta do diabo”, pois permite uma adaptação da igreja às conveniências do mundo. Uma cristã que se preza afastar-se-á de toda essa conduta! Como Filo, Tertuliano afirma: “Na verdade, são claras as prescrições a respeito do modo de vestir e dos ornamentos. Também Pedro, com idênticas palavras, porque, no mesmo espírito de Paulo, condena a presunção nos vestidos, a arrogância no uso do ouro, a impertinência em cabeleiras mais próprias de prostitutas” (TERTULIANO, 2011, p. 34).
                Para concluir, o(a) cristão(ã) deve entender o propósito de Deus quanto à estética. Deus criou homem e mulher sem qualquer artificialidade, nem incentivou o homem a criar algo nesse sentido. Sempre proclamou um padrão equilibrado e moderado para não contrariar sua moral. Quando vemos o incremento da artificialidade no meio evangélico atual, lamentamos e oramos para que os cristãos reconheçam a necessidade de retornar ao padrão de simplicidade bíblico, percebendo o grande prejuízo à causa do Evangelho que trazem se continuarem assim. E, no mais, as mulheres devem salgar e alumiar como cristãs autênticas e não devem ser fermentadas, como estão, pelos encantos do mundo de ilusões.

(1)  Tertuliano. A moda feminina. Lisboa-São Paulo: Verbo, 1974.

(2)  _____________. Tratado sobre oração. Juiz de Fora, MG: Edições Subiaco, 2011.

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