quinta-feira, 29 de junho de 2017

Uma breve reflexão sobre as concepções de Marx e Nietzsche

Após algumas leituras sobre assuntos sociológicos, soube, há muitos anos, que Marx e Nietzsche, dois filósofos humanistas que criaram ideologias bastante utilizadas por sistemas de governo e por indivíduos em suas concepções de vida, tiveram contato com as verdades do Evangelho que lhes renderam práticas distintas em suas juventudes. Marx versava sobre o encanto das Escrituras, compondo, inclusive, poesias. Nietzsche, quando criança, tinha a pregação como uma das suas atividades preferidas, testemunho que lhe rendeu o apelido de pastorzinho.

Em um de seus tratados juvenis (The Union of Believers With Christ According to John 15: 1-14, Showing its Basis and Essence, its Absolute Necessity, and its Effects, em 1853), Marx declarou algumas verdades cristãs com grande piedade, veja:

Quando consideramos também a história dos indivíduos, quando se considera a natureza do homem, é verdade que vemos sempre uma centelha de divindade em seu peito, uma paixão por aquilo que é bom, um esforço para o conhecimento, a nostalgia da verdade. 

Mas as faíscas do eterno são extintas com o fogo do desejo; entusiasmo pela virtude é abafado pela voz tentadora do pecado, é desprezado, logo que a vida nos fez sentir a sua potência máxima; a busca pelo conhecimento é suplantada por uma base lutar por bens materiais, o anseio pela verdade é extinto pelo poder docemente lisonjeiro de mentiras, e assim lá está o homem, o único ser na natureza que não cumpre a sua finalidade, o único membro da totalidade da criação, que não é digno do Deus que o criou. 

Criador benigno, e que não podia odiar seu trabalho, ele queria levá-lo para ele e ele enviou o Seu Filho, através de quem Ele proclamou a nós:

“Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado”(João 15:3).

“Permanecei em mim e eu em vós” (João 15:4).

...

Portanto da união com Cristo dá exaltação interior, consolo no sofrimento, a garantia de calma, e um coração que está aberto para o amor da humanidade, tudo o que é nobre, tudo o que é grande, não por ambição, não por um desejo de fama, mas só por causa de Cristo. 

Portanto a união com Cristo dá uma alegria que o epicurista se esforça em vão para derivar de sua filosofia frívola ou o mais profundo pensador das profundezas mais recônditas do conhecimento, uma alegria que só pela mente, ingênua criança que está ligado com Cristo e por meio dele com Deus, uma alegria que faz a vida mais elevado e mais belo. (João 15: 11).

Seguindo linha semelhante, Nietzsche tinha sido educado pelos caminhos do Protestantismo, seu pai, avô e bisavô tinham sido pastores. Após a morte do pai, nutriu o desejo de se tornar como ele: um ministro eclesiástico. Dedicou-se à literatura teológica e às obras clássicas para realizar seu intento, pois tinha recebido uma bolsa para custear seus estudos. Porém, à medida que ia se aventurando por caminhos tênues da concepção humana, permitiu uma digressão que lhe iria marcar o resto de sua vida.
As obras de Nietzsche passaram a ser de severas críticas ao Cristianismo, banalizando seu funcionamento e denegrindo sua imagem. O texto (Humano, demasiadamente humano, aforisma 116) demonstra um pouco deste espírito medonho encontrado naquele peito que por alguma razão estava ferido pela amargura:

Se o cristianismo tivesse razão em suas teses acerca de um Deus vingador, da pecaminosidade universal, da predestinação e do perigo de uma danação eterna, seria um indício de imbecilidade e falta de caráter não se tornar padre, apóstolo ou eremita e trabalhar, com temor e tremor, unicamente pela própria salvação; pois seria absurdo perder assim o benefício eterno, em troca de comodidade temporal. Supondo que se creia realmente nessas coisas, o cristão comum é uma figura deplorável, um ser que não sabe contar até três, e que, justamente por sua incapacidade mental, não mereceria ser punido tão duramente quanto promete o cristianismo.

Dentre outras coisas, a que mais estranha um cristão é tentar entender porque ambos tiveram uma educação cristã tão primorosa e abdicaram dela para entregarem-se às suas paixões. Considerando que foram filósofos vivendo em uma época de emancipação do conhecimento sobre a religião, tiveram a ânsia de levarem seus nomes além dos tempos. Apresentaram em suas teorias a quebra de paradigmas, a sublevação da moral tradicional, a liberalidade comportamental, a revolução armada, entre outras. O que produziram expôs seu antagonismo e oposição diante do Criador e de suas verdades. Para estudiosos desses dois pensadores, a resposta para suas reações foi simplesmente que eles reconheceram a fraude do Cristianismo, tentando criar um verdadeiro mundo para si e viver de acordo com suas vontades.

Infelizmente, o homem néscio (aquele que é desprovido do real intento e entendimento da obra da criação) não percebe sua fragilidade espiritual, o que o motiva a se superar em outras nuanças da vida. Priorizar e valorizar o efêmero é uma demonstração do não entendimento do eterno, é não transcender para além dos limites da vida, é não conhecer o intangível. Esse fascinante trajeto que só pode ser atingindo pela singular fé em Cristo consiste em alguns dos paradoxos do Cristianismo, pois como se conhece o eterno, como se transcende a vida, como tocar o intangível? Somente através do Deus absoluto! A falta desta simples, mas excelente dádiva, não permite um olhar valorativo das virtudes cristãs e sua eternidade. Eles não entenderam, por mais simples que pareça, que a transitoriedade da vida é uma realidade que antecede outra muito mais significativa. Somente um ser humano decaído, afastado pelos apelos de seu “pathos”, não consegue enxergar a verdade mais significativa do Evangelho: o seu status de perdido.  

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