segunda-feira, 4 de setembro de 2017

E o sábado?

Uma das primeiras prescrições bíblicas sobre o sábado aparece em Êxodo 31. No texto, Moisés recebe orientação de Deus sobre a guarda do sábado, enfatizando praticamente os objetivos do mandamento. Portanto, não somente há a explicitação do mandamento dado em Êxodo 20, mas também certa norma para se conceder a prática do sábado em conformidade com os interesses divinos.
O termo “sinal”, mencionado no texto, expressa o compromisso da prática devotada, ou seja, a separação daquele dia para dedicação exclusiva ao Senhor. A mente do devotado deveria se concentrar naquilo que representava o Senhor para seu povo, aprimorando uma conduta espiritual a fim de se extrair ao máximo os propósitos para aquela santificação, pois sábado era santificação. A prédica divina era tão incisiva no que tange à espiritualidade e à devoção que caso houvesse descumprimento dos agentes responsáveis pela prática, obrigatoriamente a condenação seria a morte: “...porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será eliminada do meio do seu povo” (v.14); no verso seguinte está expresso mais claramente a nefasta condenação: “...certamente morrerá”. Portanto, o sábado veio a ser um marco para a consagração.
         Mas qual sua abrangência? A quem está realmente direcionado? O mandamento extrapola os limites veterotestamentária ou se restringe ao seu contexto? A Igreja de Cristo deverá exercer a mesma conduta?
Encontramos essas respostas retornando ao texto de Êxodo 31. Vamos procurar ser bem fiéis ao que o texto diz, sem incrementar qualquer reflexão neste momento. No escrito do profeta foi relatado que o sábado representa “um sinal entre mim e vós nas vossas gerações” (v.13), e acrescenta: “Entre mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre” (v.17), portanto “celebrando-o nas suas gerações por aliança perpétua” (v.16).
Afinal, quem são os personagens desse diálogo? Na verdade, não é nem um diálogo, é mais uma expressão mandamental que não foi permitido ao homem se manifestar dada sua ineficiência em conseguir propor algo tão elevado quanto os intentos divinos. Mas, o Senhor ordena a Moisés sua vontade para que ao descer do Monte Sinai transmitisse ao seu povo, o Israel que foi tirado do Egito. Em cena, o Senhor, o seu profeta e o seu povo. Lembrando que o profeta estava também sujeito aos mandamentos temos, então, Deus e o seu povo Israel. É muito difícil entender que há um pacto exclusivo entre Jeová e Israel? O texto expresso está obscuro impedindo esta conclusão? Não, não podemos afirmar outra coisa senão que este pacto foi proposto apenas para Deus e o seu povo do Antigo Testamento. É isso que o texto confirma e todos os outros utilizados ao longo dos livros.
Quando o adventismo vem propor o mandamento para o Novo Testamento, equivoca-se incorrendo em profunda má interpretação. Aliás, não foi nem só uma interpretação errada, mas também um crédito indevido às pretensas revelações de Ellen White: “Foi-me mostrada então uma multidão que ululava em agonia. Em suas vestes estava escrito em grandes letras: Pesado foste na balança, e foste achado em falta. Perguntei (ao anjo) quem era aquela multidão. O Anjo disse: Estes são os que já guardaram o sábado e o abandonaram” (EG White, Primeiros Escritos, Editora Casa Publicadora, Tatuí – SP; 1995, pág.37). Os defensores da Sra. White preferiram antes acreditar numa revelação em detrimento ao texto sagrado, dedicando à revelação maior valor, mesmo quando o ensino apostólico censura a utilização da Lei, entendendo que seu lugar é no antigo pacto.

Concluindo, o sábado como os demais mandamentos fizeram parte do Decálogo com uma finalidade específica, serem instrumentos necessários para conduzir o homem a Deus: “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gl 3:24). Com Cristo, o cenário muda, pois o que nos é exigido hoje é unicamente a fé, por isso, “...é evidente que pelo lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3:11).

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