segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O conceito de batismo na visão anabatista

Entre os anabatistas do século XVI concebia-se um olhar radical, mas essencialmente bíblico acerca do batismo. De acordo com John Driver (1994:30) o conceito anabatista de batismo possuía três raízes principais, entre essas citamos duas:

A) Sua leitura do Novo Testamento, onde encontravam que, na Grande Comissão, o mandato de batizar vem logo após o de fazer “discípulos”.

B) E seu conceito da vida cristã como discipulado

Podemos observar que este conceito trata o batismo cristão com o significado que a Bíblia o dá, logo possui uma importância primacial. Essa importância, por sua vez, não ocorre somente por se derivar do mandado de Cristo, mas, sobretudo por seu significado.
Historicamente uma das primeiras declarações públicas de fé redigita por anabatistas e uma das mais citadas e apreciadas pelos estudiosos do movimento anabatista na Suíça é a Confissão de Schleitheim (1927). Paul Lederach faz uso de um artigo desta confissão para elucidar a definição anabatista salientando o seu conceito sobre o batismo. O trecho que se vale o citado autor diz:

“O batismo será aplicado a todos aqueles que tiverem sido ensinados o arrependimento e a mudança de vida, e [que] creem verdadeiramente que os seus pecados foram removidos por meio de Cristo, e a todos quantos desejam andar na ressurreição de Jesus Cristo e queiram ser sepultados com Ele na morte, a fim de também ressuscitarem com Ele; a todos aqueles que, com tal entendimento, desejem-no e peçam-no de nós [A igreja]”

A partir do artigo de fé citado acima podemos observar o batismo como um ato que exige responsabilidade pessoal, e profissão de fé consciente, pois o ato de batizar ou batizar-se evidencia que o novo cristão agora pertence a outra espécie de criação, uma nova, só que espiritual. Convém diferenciar o batismo como ato e não como obra. O ato é uma ação de obediência ao mandado divino de Cristo, já a obra pode ser considerada como uma ‘ação’, mas que pode ser maculada por interesses vãos e egoístas do homem caído e essencialmente religioso quando vê o sacramento como apenas um mandamento religioso.
Ao se falar de responsabilidade pessoal e profissão de fé consciente conclui-se que o batismo só deve ser aplicado àqueles cujas vidas tenham sofrido uma mudança paradigmática, denominada de novo nascimento, e a consciência de que o crente fazendo profissão de fé está anunciando através do batismo o selo de submissão voluntária a Cristo e ao seu corpo, a Igreja.
Lederach diz que “em sua essência, o batismo é o meio através do qual o crente regenerado dedica-se a uma vida de obediência, na comunhão com outros crentes, arrolado dentro da comunidade visível dos salvos (a saber, a Igreja) ”. Outra colocação oportuna faz o autor quando diz: “A natureza da Igreja, a natureza da salvação e a natureza da vida cristã estão envolvidas na compreensão do batismo do ponto de vista anabatista...”
Outro aspecto que os anabatistas consideravam importantes era que o novo nascimento era o critério essencial e indispensável para o batismo cristão. Assim como a conversão exige arrependimento e fé, o batismo exige o mesmo.
O batismo infantil, defendido pelos reformadores da época da Reforma, não é coerente com a perspectiva anabatista nem com o preceito bíblico.  Os infantes não precisam do novo nascimento até que sejam capazes de fazer preferência pelo bem ou mal. Em suma, os radicais que se distinguiam dos reformadores em alguns aspectos veem que “o conceito da vida cristã como uma peregrinação empresta importância ao batismo”. É esta causa a partir da qual o batismo só deve ser aplicado aqueles cujas vidas de alguma maneira evidenciaram uma escolha voluntária por Cristo através do arrependimento e fé e foi demonstrada pelo novo andar de vida.

Esse pequeno passeio no olhar anabatista acerca do batismo pretendeu mostrar dois aspectos importantes para esse importante movimento da História da Igreja. Esperamos que a história de nossa fé, muitas vezes evidenciada através do sangue de seus personagens nos inspire a olhar para o passado com um olhar mais apreciativo e também encoraje nossa cosmovisão bíblica hoje para cumprirmos aquilo que nossos irmãos na fé obedeceram. 

Heberth Batista Ventura

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