quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Participando do reino deste mundo


O cristão anabatista participa de qualquer forma da política deste mundo? Esta é uma questão relevante para os anabatistas tradicionais: já que qualquer militância, participação, envolvimento, tende a inseri-lo no sistema que é inerentemente oportuno ao anticristo. Dentre outros conflitos em potencial, os governos - até mesmo os melhores governos democráticos - confiam no uso da força para conseguir o que querem. Isso afeta desproporcionalmente grupos marginalizados que são prejudicados, inclusive, os que querem viver piedosamente em Cristo (hoje a Igreja vive um temor pelo futuro devido às propostas nada tradicionais de muitos partidos). Mas, até que ponto podemos ser parte de tal sistema, enquanto afirmamos seguir a Jesus que viveu e ensinou a viver de maneira, às vezes, opostas a este sistema de coisas?
Para mim, a questão em grande parte se concentra em quem você coloca sua esperança. Temos a escatologia bíblica em andamento, não resta dúvida. Cada parte mundanizada vai propondo sua abordagem à governança anticristã iminente, mesmo que essas ações demonstrem uma utopia em seus discursos atuais. Entretanto, como cristãos, nossa esperança deve ser inteiramente em Jesus. Ele é a fonte de alegria e paz e amor no mundo. 
Fora do contexto da Igreja e dissociado dela, já que a noiva de Cristo não quer se prostituir com os reis da terra, diferentes partidos políticos podem fazer coisas ruins e muito ruins, por isso temos que mantê-los distantes em perspectiva diferente da nossa, não sendo solidários nem estimulando outros a participarem de suas ideologias. Nosso brado e compromisso se resume na prática do Evangelho e nos seus estatutos. Para Hillerbrand: “Os anabatistas, com uma visão basicamente negativa em relação ao mundo e ao Estado, tinham pouca esperança de melhorar a sociedade. Essa atitude negativa, quando combinada com a natureza coercitiva do Estado no século XVI, levou os anabatistas a acreditar que um cristão não poderia ocupar um cargo político” [1].  
Quando um quadro anormal a esse aparece contagiando cristãos tradicionais, percebe-se um surgimento do medo que domina muitos corações, enegrecidos pelos discursos políticos de partidos opositores aos ideais cristãos. Muito embora como cristãos somos chamados a não ter medo do mundo, porque Jesus superou o mundo, alguns vacilam desprezando esse ensino. Porém, temos uma participação na conduta política do mundo: orar pelas autoridades constituídas para termos paz. Caso não tenhamos, o Espírito nos encherá quando formos colocados perante os governantes e magistrados para defender nossa fé. E isso nos basta! 


[1] Hans J. Hillerbrand, “An Early Anabaptist Treatise on the Christian and State,” The Mennonite Quarterly Review 32 (1958): 30-32; Kreider, “Anabaptists and the State,” pp. 190-1.

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