segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

As consequências das convicções anabatistas

Pintura Johann Alpenhütte retratando Michael Sattler instruindo discípulos anabatistas 

É importante compreendermos que os Anabatistas do século XVI não pretendiam inovar em questões doutrinárias, nem tinham a intenção de seguir os postulados Protestantes emergentes diante da crise imposta pelo romanismo e o obscurantismo religioso. O grande objetivo era resgatar os preceitos fundamentais da fé a partir do fundamento apostólico, medida que gerou muitas objeções e consequências para o grupo.
Para Arnold Snyder, podemos elencar alguns pontos os quais geraram um olhar de rejeição religioso dos movimentos majoritários do fim do Medievo. Apesar da rejeição desses líderes religiosos, havia também uma repulsa anabatista da forma como o Evangelho era distorcido, principalmente, pelo catolicismo romano. Essa rejeição do movimento que buscava a restauração dos ensinos bíblicos em sua pureza criou uma mentalidade antipatizante nos seus opositores, culminando com severas críticas e perseguições. Entretanto, os anabatistas tinham pontos relevantes em destaque e suas convicções eram muito bem amparadas, vejamos.  
Sobre a Igreja, eles acreditavam que era formada por crentes, nascida pelo Espírito e centralizada em Cristo:

Uma consequência da maneira na qual os Anabatistas discerniram a vontade de Deus era que todos os membros eram crentes os quais haviam nascido do Espírito. Na Igreja não devia havia pessoas com o privilégio “sacerdotal” de interpretar a vontade de Deus, se não que a comunidade foi constituída por membros com a capacidade de interpretar e discernir. Esta comunidade surgiu como resultado da atividade do Espírito Santo. Era uma comunidade cujo discernimento devia estar de acordo com a pessoa e as palavras de Cristo (p. 10).

Tinham o cuidado de capacitar biblicamente cada membro da comunidade a fim de testemunharem acerca de suas convicções:

A ênfase anabatista em uma Igreja de crentes tinha como consequência que todos os seus membros deviam se capacitar biblicamente. Embora a maioria dos Anabatistas não pudesse ler ou escrever, no entanto sabiam de cor extensas porções da Escrituras, organizadas por tema. Hora após hora, os anabatistas que estavam em prisões deixavam seus carcereiros assombrados recitando de memória os fundamentos bíblicos de suas convicções, por capítulo e versículo. Esperava-se que os membros assumissem sua fé e fossem capazes de explicá-la e defendê-la biblicamente. As crônicas demonstram uma notável quantidade de conhecimento bíblico por parte de homens e mulheres comuns que haviam abraçado o Anabatismo (p. 20-21).

Sobre a Igreja visível, acreditavam ser necessário a manifestação dos crentes com a finalidade de testemunharem sua obediência plena ao Evangelho:

Uma consequência da interpretação anabatista da salvação era que a Igreja verdadeira devia ser bem visível, integrada por aqueles que decidiram abertamente dizer “sim” à oferta da graça em Cristo. A Igreja não deve ser “conhecida somente por Deus”, mas deve ser visível para qualquer observador humano. Esta Igreja devia ser reconhecida pelo arrependimento, novo nascimento e nova vida de seus membros. Seria uma Igreja de discípulos obedientes, empenhada em seguir seu Senhor e Mestre, Jesus Cristo (p.21).

De forma singular, os Anabatistas do século XVI demonstraram a simplicidade exigida pelo Evangelho e transformaram a visão religiosa de seu tempo. Fizeram muitos migrarem da religiosidade murcha para uma vida piedosa de devoção a Deus. Um selo que distingue o movimento Anabatista ao longo da História da Igreja Cristã.

Referência
Snyder, C. Arnold. De semilla Anabautista: el núcleo histórico de la identidade Anabautista. Canadá: Pandora Press, 1999.

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