quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Vivendo na simplicidade, na humildade e servindo ao outro

 


Numa era de consumo e da libertação do imoral que privilegia o ego, quem não se rende às suas imposições? Quem não cede aos impulsos e inquietações sucintas, aspergidas pelo ímpio e pela infâmia? Quem não se vê coagido a prestar um (des)favor ao inusitado porque cedeu ao inadequado, julgando-se minorado pela usurpação do mal? Certamente, o crente vigilante cujo barco veleja para o norte.

O crente vigilante não é qualquer cristão, mas alguém consciente dos arrodeios pelos quais passam as ideias e tendências voluptuosas da vida cujo fim é a perdição, sem, contudo, provocar em si um desvanecer de suas autênticas convicções, outrora firmadas na rocha inabalável. Muito embora haja embates constantes (sobre isso Jesus havia alertado), a conservação do que sempre foi e continuará sendo não depende da sua essência ou de seu bom caráter simplesmente. Decorre de MAIOR comunhão com o Senhor, a fim de produzir uma majoração do bem, do belo, do sereno, do harmônico, e uma minoração do mal, principalmente, no que diz respeito ao desvencilhamento da vida efêmera com seus valores e ao apreço desmedido aos pensamentos medonhos do ser humano, desabonado tantas vezes na insigne Escritura.

Com esse comportamento, reconhecemos nossa dependência ao Autor da nossa fé e asseveramos nosso consentimento para operação dele em nós. Deixar seu Espírito nos guiar pelos caminhos de sua vontade, pela operacionalização dos nossos talentos e pela distribuição de nossos bens para os necessitados, confere ao final a certeza da grandiosa experiência interior não vista pela maioria dos que estão ao nosso redor, mas certamente satisfez àquele que está no alto e no sublime trono com olhar perscrutador sondando mentes e corações para encontrar verdade, sinceridade e honestidade (muitos cristãos, no entanto, deveriam ver isso, não para pronunciarem elogios aos praticantes, mas para se renderem aos grandes exemplos em suas comunidades a fim de estabelecerem maior respeito, honra uns pelos outros e abandono da desconfiança, pois esse último sentimento é muito sorrateiro e é capaz de minar e arruinar vidas).

Debaixo da vívida unção, o cristão, por reconhecer quem é e o que pode fazer, também pensa no outro, independentemente do que tenha cometido ou cometa, como tenha vivido ou deixe de viver. Aliás, Jesus nos ensinou a prática do bem ao próximo sempre, incluindo, caso necessário, o ato mais altruísta. Afinal, este é o Cristianismo prático, pois entender a doutrina é o mais elementar da trajetória cristã. Para saber se o conteúdo doutrinário, no entanto, provocou o devido efeito, faz-se necessária a consumação da prática através da relação com próximo, podendo ser manifesta através do ato de compaixão na evangelização a um mendigo, a um homossexual, a um orgulhoso, a um materialista, a uma pessoa normal, a um rico, a um intelectual, a um desviado, a uma pessoa sem instrução convencional, a um apóstata ou nas relações comunitárias a um irmão em Cristo. Qualquer uma dessas pessoas carece de atenção, apesar de algumas delas acharem absurda a ideia. O cristão vigilante, através da voz do Mestre, tem a honra de estender sua mão em prol daquele por quem Cristo morreu na cruz, a fim de levá-lo para o aprisco do bom pastor, por isso, ignorar o fato e a possibilidade de ajudá-los pode estar revelando o fermento farisaico e a paixão mundana. Aliás, lembrando sobre os efeitos da interação entre os membros da ecclessia, é na proximidade entre os remidos que encontramos o ideal da koinonia (do grego κοινωνία). Segundo a unidade proposta pelo apóstolo Paulo: “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica” (Filipenses 1:27, tradução revista e atualizada).

Assim, aborrecer o mal com a prática do bem parece ser uma boa expressão para essa conjuntura. Apesar da forte expressão, revela-se também urgente em meio aos turbulentos tempos de avançada penumbra, cujos efeitos penetram tão severamente na alma de alguns que conseguem cegá-los para não enxergarem a necessidade dos que nos acenam insistentemente sem perceberem, aguardando silenciosa e solitariamente quem os possa ajudar. A simplicidade e a humildade, desta maneira, nos ajudam a compreender o outro para assim prestarmos o que lhe for necessário e que esteja ao nosso alcance. Saibamos disso, pois, é uma regra cristã. Como disse A.W. Tozer: “É preciso simplicidade e humildade para servir a Deus de maneira aceitável”, para mais, acrescento sensibilidade sem a qual não se gera empatia. Por isso, conclamamos: cristãos vigilantes vivam para a glória de Deus!

Pr. Heládio Santos

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário