sábado, 26 de dezembro de 2020

Histórias de pescador do meu sogro: ilustrações para o Reino de Deus

Meu sogro sempre foi uma pessoa muito simples e humilde. Por seu comportamento gracioso, conquistou muitas posições no labor secular da pesca e na obra do mestre. Certa vez, ao ficar doente e retornar para casa por orientação do seu mestre de pesca, foi chamado, no dia seguinte, pelo dono da empresa onde trabalhava para uma entrevista, a fim de assegurar ao homem de negócios que ele poderia assumir o posto mais elevado entre os pescadores sem lhe causar prejuízo numa embarcação recém-liberada para pesca da lagosta. Segundo ele, a enfermidade foi embora em razão do susto repentino logo ao ser noticiado sobre o interesse daquele empresário em querer falar-lhe e por saber que poderia assumir o barco que clamava por um capitão, pois antigo mestre havia assumido um barco maior.

No gabinete na sede da empresa, o empresário viu um homem de roupas singelas e chapéu de palha entrar, contrastando com o escritório e com os demais participantes da reunião. Então, perguntou-lhe o empresário: “Zé Américo, você me garante trazer quantos quilos de lagosta se eu te entregar o Gaivota?” – ao que meu sogro respondeu: “Nenhum!!!”. “Como assim?!”, retrucou o homem com ar de observação. Respondeu-lhe meu sogro, então, com segurança e honestidade: “a lagosta que cair no manzuá[1], eu trarei para o senhor, mas aquela que não cair, não tenho como garantir trazer”. Aquele empresário se agradou da resposta e promoveu meu sogro para o ofício. Antes dele, haviam sido entrevistados outros dois pescadores que prometeram trazer mais lagosta do que o barco era capaz de suportar, demonstrando, assim, imperícia e falta de conhecimento necessário para aquele serviço. Em meio à satisfação pelo reconhecimento e confiança, também se deparou com a insatisfação dos pescadores antigos e mais velhos (sua tripulação) que deveriam se submeter àquele que fora anteriormente um com eles, porquanto havia sido colocado em nível superior como mestre. Foi, talvez, o primeiro grande obstáculo. Contudo, Deus tinha seus propósitos e foi nas duas primeiras viagens que qualquer estigma foi superado.

Geralmente, a viagem até o talude, circunvizinhando as regiões onde se assentavam cardumes daquele animal que era como ouro do mar (pelo menos naquela época), durava cerca de quinze dias, pois essa era a estimativa para os frigoríficos encherem. Na sua primeira viagem, como mestre de embarcação, ele pescou uma tonelada e duzentos quilos em oito dias, obrigando-o a retornar ao porto para descarregar a produção e recarregar de provisões para o restante dos dias de pescaria. Ao retornar, ainda pescou quase uma tonelada de lagosta em quatro dias ao que a empresa ordenou que ele retornasse para o porto imediatamente. O resultado foi uma produção de duas toneladas numa navegação de pequeno porte em doze dias, enquanto aquelas de maior capacidade, mesmo passando um mês no mar, não conseguiram superar uma tonelada. Foi com esses atos providenciais que meu sogro acumulou algum recurso para expandir a mensagem do Evangelho em vários distritos de Beberibe-CE: realizou centenas de cultos campais em vários lugarejos, incluindo alguns à base de luz de lamparina, proveu de equipamento de som esses cultos e os carregava nas costas nos dias marcados que eram muitos durante a semana, organizou e realizou cruzadas nos lugares centrais, comprou terrenos, construiu vários templos na região e supriu de bancos, cadeiras e outros utensílios esses templos.

Duas reflexões poderemos extrair da narrativa acima:

Essa história é um entrave para os prepotentes, para os soberbos, para os que se acham superiores, para os que não se dobram nem gostam de se submeter, para os que não respeitam e desconfiam dos humildes, para os que se fazem senhores de igrejas, para aqueles que escravizam e dominam suas igrejas para usufruto próprio.

Moral da história, a humildade é o segredo de todo o sucesso espiritual, é uma das mais encantadoras virtudes cristãs, é poder querer ajudar o próximo mesmo quando este próximo não o considera, ou o menospreza ou age com desconfiança, é poder olhar nos olhos de quem quer que seja para ser honesto (tanto homem ou mulher, autoridade ou não etc), é conhecer seu lugar no propósito de Deus e colocar seu coração à mercê de sua vontade.

Que Deus nos torne plenos de tão profunda e verdadeira virtude.

Pr. Heládio Santos

 



[1] Rede para pescar lagosta.

5 comentários:

  1. Maravilhoso! Humildade é bem aceita em todas as circunstâncias! Quem a pratica, é um homem sábio! Adorei a história do meu tio Zé Américo. Parabéns Heládio pela palavra!

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  2. Verdadeiramente um homem um amigo um pai que abdicou de luxo p se Dedicar ao Reino um exemplo de pai amigo e verdadeiro.

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  3. Como todas as histórias do meu vô Zé Américo essa é um testemunho de vida que ele sempre nos passou... Humildade e sinceridade sempre, pois assim Deus o Honrará! Grande homem e grandes palavras, obrigada tio Hilário por compartilhar essa história.

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    1. Tio Heládio* desculpe foi o corretor que modificou o nome e eu não percebi.

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