Era
início da década de 90 quando o irmão Assis dos Anjos e sua comitiva
ingressaram em nossa Igreja. Com ele, o irmão Gustavo, irmão de sangue e de fé.
Durante esses quase 32 anos o irmão Gustavo realizou entre nós uma obra
singular com os ares daquele espírito da Igreja primitiva. Não dependia de
homens, mas confiava em Deus para cumprir sua vocação. Louvamos a Deus pela
comunhão, exemplo e experiências entre nós. Aprendemos muito com o irmão
Gustavo.
Coube
ao Senhor convocá-lo durante a noite para as mansões celestiais onde habitará
com o Mestre e Salvador Jesus pela eternidade. Ali, certamente, também reencontrou
o irmão Assis dos Anjos (Imagino a gargalhada que ele deu... que saudades desse
gesto tão espontâneo). O que muito nos inspira, pois, mesmo enfrentando nesses
últimos dias uma dura enfermidade, conservou a fé e aguardou em sua esperança.
O presbitério
da Igreja Batista Renovada Moriá presta suas condolências à família e ora para
que o Senhor possa confortá-los na mesma medida da fé do nosso herói Gustavo
Santos. Sua vida nos inspira a querermos fazer a obra de Deus sem objeções.
Há cerca de 60 anos, o Brasil passava por uma ebulição política marcada pela tentativa de
implementação do comunismo como forma de governo. Isto gerou bastante
inquietação naquele momento porque surgiu, então, uma simples dúvida: seria esse um
meio genuíno e veraz para se alcançar uma sociedade igualitária e justa de fato
ou resultaria na mesma situação de outras nações cujos governos de vertente
comunista eram opressores? Na luta pelo ideal de uma sociedade livre, não
querendo acreditar nesse idealismo incerto proveniente da Europa, o movimento de
Renovação Espiritual Batista levantou a bandeira contra o comunismo, entendendo
que o mesmo seria um retrocesso político e a abertura para um governo espúrio.
Herdados
do pós-guerra e estruturando-se a partir do idealismo marxista, com
pressupostos para alcançar o status de sociedade perfeita através de determinadas
etapas até chegar ao comunismo, ápice do bem estar social na visão de Karl Marx
e Friederich Engels, os adeptos dessa forma de governo têm características e
particularidades com significativas oposições ao “bem estar social”, ou seja, quando
verificamos neles o autoritarismo governamental, o controle social, o
cerceamento das liberdades e, principalmente, o ateísmo, figurando como fortes
bandeiras introjetadas impositivamente em seus cidadãos, massificando e
consolidando um modo governamental superado, ficamos perplexos e nos perguntando
se os casos anteriores e os atuais não servem de base para reconhecermos sua ineficácia. Hoje, no Brasil, parece que um embrião do comunismo
aderiu a um modelo híbrido como forma de adaptação ao contexto e à cultura para
convencer de sua suposta essência humanitária, contudo, parece
ainda conservar o ativismo político de forma bastante agressiva, inclusive,
acenando para as práticas dominadoras daqueles países. É um tal marxismo cultural, proclamado, principalmente, nas universidades. E aí, o que pensar sobre
esse assunto?
Foi
refletindo sobre esses aspectos, na década de 60, que o pastor Enéas Tognini
alardeou pelas terras tupiniquins seu discernimento e angústias em decorrência
de um clima para sua implementação. Soube ele que uma das
primeiras investidas do comunismo, caso alcançasse o poder, seria a
desconstrução dos valores cristãos, quem sabe até através de ordens autoritárias
de suas instituições e da delação de seus seguidores encantados em defesa da
ideologia fantasiosa. Em virtude disso, o pastor Éneas Tognini agiu tempestivamente
dentro de suas possibilidades e denunciou o crescimento da ideologia nas
instituições: “No programa radiofônico ‘Renovação Espiritual’ que ia ao ar cada
domingo, pregava contra, contra o comunismo. Um colega meu entrou para fazer
curso na Universidade de São Paulo. Antes ele me disse que eu era exagerado que
o comunismo não estava se alastrando assim. Depois de alguns meses na Faculdade
de Filosofia, veio a mim e disse: ‘O senhor não sabe nem a metade do poder
comunista em nossas faculdades. Ele domina quase todas as cátedras e se escoa
pelos bancos, indo alcançar as massas’”[1](p.55).
Temendo
o alastramento da Ideologia, na mesma medida que procurava pensar uma solução,
fez a leitura de uma mensagem de Abraham Lincoln(1861-1865) à nação americana,
a qual visava solucionar a situação conflituosa nos Estados Unidos e a luta
pela liberdade. Tognini sentiu, então, o drama do país nortista e verificou o que
fez o seu 16º presidente. Encorajado pela solicitação do Senado, a atitude mais
coerente e prudente que podia tomar foi conclamar a grande nação a um dia de
jejum, oração e humilhação diante de Deus. A seguir, trechos daquela mensagem
de Lincoln: “Visto que o Senado dos Estados Unidos, reconhecendo devotadamente
a suprema autoridade e justo governo do Deus Todo-Poderoso sobre todas as
questões dos homens e das nações, requereu por uma resolução que o presidente
marcasse e separasse um dia de oração e humilhação nacionais” (apud Tognini, p.56).
Segundo Tognini, “a nação toda atendeu ao pedido de Lincoln. No dia 30 de abril
de 1863, o povo norte-americano jejuou, orou e se humilhou diante do
Todo-Poderoso, clamando-lhe por misericórdia, suplicando-lhe que afastasse a
negra nuvem que escurecia a grande nação; que resolvesse os aflitivos problemas
daquele povo, desviasse o furor de sua
ira e derramasse bênçãos copiosas de paz, amor, compreensão e união – sobre
os Estados Unidos da América do Norte” (p.57).
Mesmo
havendo distinção entre as situações: nos EUA, o problema da divisão e da
guerra de secessão, e no Brasil, o crescimento da ideologia comunista através do marxismo cultural, o pastor
Enéas Tognini fez um paralelismo sobre aquele momento histórico estadunidense
(1863) e o do seu país (1963). Sentiu que era o porta-voz de Deus para
profetizar contra o acalorado debate político do Brasil de João Goulart. Assim,
ousadamente, mas com certo temor, resolveu se opor àquele idealismo disfarço que
convergiria contra o povo brasileiro, pois apesar dos ares de boas políticas, poderia
manifestar-se opressor como em vários países. Assim, o pastor Enéas inspirado
pela atitude do presidente Lincoln, independente do que pudesse ocorrer-lhe redigiu
um manifesto de conclamação pedindo apoio às lideranças evangélicas, conclamando a nação
evangélica para a luta em oração e tomou outras ações. Nesse ínterim, relatou
algumas ocorrências que lhe surpreenderam naqueles momentos:
Com
essa mensagem no coração e na mão troquei ideia com alguns pastores,
estabelecendo o paralelismo: 1863 e 1963. Estados Unidos e Brasil. Aqui o
comunismo, lá a divisão e a luta interna. Se lá deu resultado, aqui daria
também. Lá o povo americano atendeu ao presidente e a nação teve a vitória.
Aqui Deus nos daria também a vitória sobre o comunismo. Alguns pastores
concordaram comigo, mas a maior parte discordou e me combateu pelo rádio e pela
imprensa. Era abril. O comunismo ganhava terreno espantosamente. Combater o
comunismo era arriscar a própria vida. O chefe do serviço secreto do II Exército
me mandou chamar. Tive medo, pois o comunismo já se infiltrara nas Forças
Armadas, na Igreja Católica e dalguns pastores evangélicos e seminaristas
nossos militavam na “esquerda”. Chegaram a ser chamados de “melancia”, verde
por fora e vermelho por dentro. Atendi ao chamado. Na presença desse oficial
fui logo dizendo: não sei a sua ideologia, agora quero lhe dizer que sou
contra, contra, contra o comunismo! “Também eu sou”, foi a sua resposta. Há
pouco fora apreendido em Paris, o Plano Quinquenal dos chineses para conquistar
o Brasil. Nesse “plano” se declarava que dois óbices encontravam para ganhar o
Brasil para a China de Mau-Tse-Tung: a Igreja Católica e as Forças Armadas.
Estes, entretanto, já estavam minados pelos “amarelos” e “vermelhos”. Esse
ilustre militar me disse que o “comunismo” é uma força espiritual do diabo, e
para combatê-lo só uma força espiritual de Deus. Nossa esperança para salvar o
Brasil das garras do comunismo está em vocês, evangélicos”. Apresentei-lhe o
plano Lincoln. Depois de inteirar-se do plano, disse-me: “Reverendo, se o
senhor fizer isso, será a salvação do Brasil” (p.57-58).
Como
consequência, fez uma forte divulgação do referido dia do clamor pelas rádios.
Produziu material impresso e divulgaram aos montes. Recebeu ofertas para
custear as grandes despesas com aquela "ação de enfrentamento". Houve disposição
entre muitos irmãos para se deslocarem para os Estados do Sul, Sudeste,
Centro-Oeste e outros a fim de divulgarem o grande jejum nacional para o Brasil
em 15 de novembro de 1963 (os meios de comunicação eram limitadíssimos). O
pastor Enéas Tognini relatou a efervescência espiritual daqueles dias com as
seguintes palavras: “As igrejas oraram. Alguns começaram na noite de 14 e foram
até a noite de 15 de novembro. Houve lágrimas, profecias, revelações. De norte
a sul, de leste a oeste e centro, todos os evangélicos do Brasil jejuaram e
oraram e se humilharam diante do Senhor Todo-Poderoso. O Espírito de Deus foi
derramado sobre todo o Brasil. Coisa nunca vista. Na propaganda do “jejum”,
canais de TV, rádios e jornais abriram suas portas para a promoção desse dia
singular. E Jesus foi vitorioso. Aleluia... E a resposta a esta batalha do céu
foi 31 de março de 1964” (p.62).
Para ele, o
dia da resposta constou nos anais do Ministério da Defesa, como segue: “O século
XX foi marcado por dois grandes conflitos bélicos mundiais e pela expansão de
ideologias totalitárias, com importantes repercussões em todos os países. Ao
fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo, contando com a significativa
participação do Brasil, havia derrotado o nazi-fascismo. O mapa geopolítico
internacional foi reconfigurado e novos vetores de força disputavam espaço e
influência. A Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um
cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica.
Havia ameaça real à paz e à democracia. Os brasileiros perceberam a emergência
e se movimentaram nas ruas, com amplo apoio da imprensa, de lideranças políticas,
das igrejas, do segmento empresarial, de diversos setores da sociedade e das
Forças Armadas, interrompendo a escalada conflitiva, resultando no chamado
movimento de 31 de março de 1964”[2]
Para
finalizar, precisamos ter um olhar pela lente do discernimento espiritual assim
como teve o pastor Enéas Tognini. Em nosso tempo, estamos assistindo à
demolição dos valores cristãos, protagonizadas por autoridades seculares, às
tentativas de amordaçar os pregadores cujas falas versam contra atos
pecaminosos, às inusitadas decisões contra a liberdade de expressão e à
privação de liberdade em si dentro de um Estado que pretende ser Democrático. Principalmente, porque está em causa a tão preciosa
liberdade. Tirá-la de seus cidadãos, algo muito peculiar no sistema de países comunistas, não parece razoável, pois mesmo que
partidos políticos representantes do comunismo garantam não se intrometer nesse quesito, vemos, é
com refinada contradição que apresentam projetos de leis, induzindo, inclusive, muitos da população desapercebidamente, por muitos meios midiáticos, a unirem-se
no mesmo ideal para diminuírem os valores morais e se posicionarem contra os pilares cristãos.
Esse "bem" (a liberdade) caro e conquistado jamais deveria ser impugnado, pois, conscientemente, age sem violência. No
âmbito de nossas convicções cristãs, haja vista o movimento cristão evangélico
ser responsável por inúmeros projetos sociais e comunitários, apartidários, que
gera reinserção social, diminui a violência e atende comunidades carentes sem o
apoio estatal. Por isso, aquele espírito de
discernimento está levantando muitos cristãos para clamarem por essa nação,
pois como diz o hino do cantor Armando Filho: “Dos homens não vem solução pra
restaurar essa nação...”, mas sabemos “só Deus segura esse país”. Por isso, não
podemos perder mais tempo. Chegou a hora de clamarmos e orarmos mais uma vez
pelo Brasil. Chegou a hora da intercessão!
Bem-aventurada
a nação cujo Deus é o Senhor (Salmos 33;12a)
Ouça
a pregação do pastor Enéas Tognini daquele tempo. Ela ainda ecoa!
[1]
Tognini, Enéas. Renovação Espiritual no Brasil. Editora Renovação Espiritual:
São Paulo, S/D.