segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

A renovação espiritual Batista contra o comunismo

Há cerca de 60 anos, o Brasil passava por uma ebulição política marcada pela tentativa de implementação do comunismo como forma de governo. Isto gerou bastante inquietação naquele momento porque surgiu, então, uma simples dúvida: seria esse um meio genuíno e veraz para se alcançar uma sociedade igualitária e justa de fato ou resultaria na mesma situação de outras nações cujos governos de vertente comunista eram opressores? Na luta pelo ideal de uma sociedade livre, não querendo acreditar nesse idealismo incerto proveniente da Europa, o movimento de Renovação Espiritual Batista levantou a bandeira contra o comunismo, entendendo que o mesmo seria um retrocesso político e a abertura para um governo espúrio. 

Herdados do pós-guerra e estruturando-se a partir do idealismo marxista, com pressupostos para alcançar o status de sociedade perfeita através de determinadas etapas até chegar ao comunismo, ápice do bem estar social na visão de Karl Marx e Friederich Engels, os adeptos dessa forma de governo têm características e particularidades com significativas oposições ao “bem estar social”, ou seja, quando verificamos neles o autoritarismo governamental, o controle social, o cerceamento das liberdades e, principalmente, o ateísmo, figurando como fortes bandeiras introjetadas impositivamente em seus cidadãos, massificando e consolidando um modo governamental superado, ficamos perplexos e nos perguntando se os casos anteriores e os atuais não servem de base para reconhecermos sua ineficácia. Hoje, no Brasil, parece que um embrião do comunismo aderiu a um modelo híbrido como forma de adaptação ao contexto e à cultura para convencer de sua suposta essência humanitária, contudo, parece ainda conservar o ativismo político de forma bastante agressiva, inclusive, acenando para as práticas dominadoras daqueles países. É um tal marxismo cultural, proclamado, principalmente, nas universidades. E aí, o que pensar sobre esse assunto?

Foi refletindo sobre esses aspectos, na década de 60, que o pastor Enéas Tognini alardeou pelas terras tupiniquins seu discernimento e angústias em decorrência de um clima para sua implementação. Soube ele que uma das primeiras investidas do comunismo, caso alcançasse o poder, seria a desconstrução dos valores cristãos, quem sabe até através de ordens autoritárias de suas instituições e da delação de seus seguidores encantados em defesa da ideologia fantasiosa. Em virtude disso, o pastor Éneas Tognini agiu tempestivamente dentro de suas possibilidades e denunciou o crescimento da ideologia nas instituições: “No programa radiofônico ‘Renovação Espiritual’ que ia ao ar cada domingo, pregava contra, contra o comunismo. Um colega meu entrou para fazer curso na Universidade de São Paulo. Antes ele me disse que eu era exagerado que o comunismo não estava se alastrando assim. Depois de alguns meses na Faculdade de Filosofia, veio a mim e disse: ‘O senhor não sabe nem a metade do poder comunista em nossas faculdades. Ele domina quase todas as cátedras e se escoa pelos bancos, indo alcançar as massas’”[1] (p.55). 

Temendo o alastramento da Ideologia, na mesma medida que procurava pensar uma solução, fez a leitura de uma mensagem de Abraham Lincoln(1861-1865) à nação americana, a qual visava solucionar a situação conflituosa nos Estados Unidos e a luta pela liberdade. Tognini sentiu, então, o drama do país nortista e verificou o que fez o seu 16º presidente. Encorajado pela solicitação do Senado, a atitude mais coerente e prudente que podia tomar foi conclamar a grande nação a um dia de jejum, oração e humilhação diante de Deus. A seguir, trechos daquela mensagem de Lincoln: “Visto que o Senado dos Estados Unidos, reconhecendo devotadamente a suprema autoridade e justo governo do Deus Todo-Poderoso sobre todas as questões dos homens e das nações, requereu por uma resolução que o presidente marcasse e separasse um dia de oração e humilhação nacionais” (apud Tognini, p.56). Segundo Tognini, “a nação toda atendeu ao pedido de Lincoln. No dia 30 de abril de 1863, o povo norte-americano jejuou, orou e se humilhou diante do Todo-Poderoso, clamando-lhe por misericórdia, suplicando-lhe que afastasse a negra nuvem que escurecia a grande nação; que resolvesse os aflitivos problemas daquele povo, desviasse o furor de sua ira e derramasse bênçãos copiosas de paz, amor, compreensão e união – sobre os Estados Unidos da América do Norte” (p.57).

Mesmo havendo distinção entre as situações: nos EUA, o problema da divisão e da guerra de secessão, e no Brasil, o crescimento da ideologia comunista através do marxismo cultural, o pastor Enéas Tognini fez um paralelismo sobre aquele momento histórico estadunidense (1863) e o do seu país (1963). Sentiu que era o porta-voz de Deus para profetizar contra o acalorado debate político do Brasil de João Goulart. Assim, ousadamente, mas com certo temor, resolveu se opor àquele idealismo disfarço que convergiria contra o povo brasileiro, pois apesar dos ares de boas políticas, poderia manifestar-se opressor como em vários países. Assim, o pastor Enéas inspirado pela atitude do presidente Lincoln, independente do que pudesse ocorrer-lhe redigiu um manifesto de conclamação pedindo apoio às lideranças evangélicas, conclamando a nação evangélica para a luta em oração e tomou outras ações. Nesse ínterim, relatou algumas ocorrências que lhe surpreenderam naqueles momentos: 

 

Com essa mensagem no coração e na mão troquei ideia com alguns pastores, estabelecendo o paralelismo: 1863 e 1963. Estados Unidos e Brasil. Aqui o comunismo, lá a divisão e a luta interna. Se lá deu resultado, aqui daria também. Lá o povo americano atendeu ao presidente e a nação teve a vitória. Aqui Deus nos daria também a vitória sobre o comunismo. Alguns pastores concordaram comigo, mas a maior parte discordou e me combateu pelo rádio e pela imprensa. Era abril. O comunismo ganhava terreno espantosamente. Combater o comunismo era arriscar a própria vida. O chefe do serviço secreto do II Exército me mandou chamar. Tive medo, pois o comunismo já se infiltrara nas Forças Armadas, na Igreja Católica e dalguns pastores evangélicos e seminaristas nossos militavam na “esquerda”. Chegaram a ser chamados de “melancia”, verde por fora e vermelho por dentro. Atendi ao chamado. Na presença desse oficial fui logo dizendo: não sei a sua ideologia, agora quero lhe dizer que sou contra, contra, contra o comunismo! “Também eu sou”, foi a sua resposta. Há pouco fora apreendido em Paris, o Plano Quinquenal dos chineses para conquistar o Brasil. Nesse “plano” se declarava que dois óbices encontravam para ganhar o Brasil para a China de Mau-Tse-Tung: a Igreja Católica e as Forças Armadas. Estes, entretanto, já estavam minados pelos “amarelos” e “vermelhos”. Esse ilustre militar me disse que o “comunismo” é uma força espiritual do diabo, e para combatê-lo só uma força espiritual de Deus. Nossa esperança para salvar o Brasil das garras do comunismo está em vocês, evangélicos”. Apresentei-lhe o plano Lincoln. Depois de inteirar-se do plano, disse-me: “Reverendo, se o senhor fizer isso, será a salvação do Brasil” (p.57-58).

 

Como consequência, fez uma forte divulgação do referido dia do clamor pelas rádios. Produziu material impresso e divulgaram aos montes. Recebeu ofertas para custear as grandes despesas com aquela "ação de enfrentamento". Houve disposição entre muitos irmãos para se deslocarem para os Estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e outros a fim de divulgarem o grande jejum nacional para o Brasil em 15 de novembro de 1963 (os meios de comunicação eram limitadíssimos). O pastor Enéas Tognini relatou a efervescência espiritual daqueles dias com as seguintes palavras: “As igrejas oraram. Alguns começaram na noite de 14 e foram até a noite de 15 de novembro. Houve lágrimas, profecias, revelações. De norte a sul, de leste a oeste e centro, todos os evangélicos do Brasil jejuaram e oraram e se humilharam diante do Senhor Todo-Poderoso. O Espírito de Deus foi derramado sobre todo o Brasil. Coisa nunca vista. Na propaganda do “jejum”, canais de TV, rádios e jornais abriram suas portas para a promoção desse dia singular. E Jesus foi vitorioso. Aleluia... E a resposta a esta batalha do céu foi 31 de março de 1964” (p.62).  

Para ele, o dia da resposta constou nos anais do Ministério da Defesa, como segue: “O século XX foi marcado por dois grandes conflitos bélicos mundiais e pela expansão de ideologias totalitárias, com importantes repercussões em todos os países. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo, contando com a significativa participação do Brasil, havia derrotado o nazi-fascismo. O mapa geopolítico internacional foi reconfigurado e novos vetores de força disputavam espaço e influência. A Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica. Havia ameaça real à paz e à democracia. Os brasileiros perceberam a emergência e se movimentaram nas ruas, com amplo apoio da imprensa, de lideranças políticas, das igrejas, do segmento empresarial, de diversos setores da sociedade e das Forças Armadas, interrompendo a escalada conflitiva, resultando no chamado movimento de 31 de março de 1964”[2]


Para finalizar, precisamos ter um olhar pela lente do discernimento espiritual assim como teve o pastor Enéas Tognini. Em nosso tempo, estamos assistindo à demolição dos valores cristãos, protagonizadas por autoridades seculares, às tentativas de amordaçar os pregadores cujas falas versam contra atos pecaminosos, às inusitadas decisões contra a liberdade de expressão e à privação de liberdade em si dentro de um Estado que pretende ser Democrático. Principalmente, porque está em causa a tão preciosa liberdade. Tirá-la de seus cidadãos, algo muito peculiar no sistema de países comunistas, não parece razoável, pois mesmo que partidos políticos representantes do comunismo garantam não se intrometer nesse quesito, vemos, é com refinada contradição que apresentam projetos de leis, induzindo, inclusive, muitos da população desapercebidamente, por muitos meios midiáticos, a unirem-se no mesmo ideal para diminuírem os valores morais e se posicionarem contra os pilares cristãos. Esse "bem" (a liberdade) caro e conquistado jamais deveria ser impugnado, pois, conscientemente, age sem violência. No âmbito de nossas convicções cristãs, haja vista o movimento cristão evangélico ser responsável por inúmeros projetos sociais e comunitários, apartidários, que gera reinserção social, diminui a violência e atende comunidades carentes sem o apoio estatal. Por isso, aquele espírito de discernimento está levantando muitos cristãos para clamarem por essa nação, pois como diz o hino do cantor Armando Filho: “Dos homens não vem solução pra restaurar essa nação...”, mas sabemos “só Deus segura esse país”. Por isso, não podemos perder mais tempo. Chegou a hora de clamarmos e orarmos mais uma vez pelo Brasil. Chegou a hora da intercessão!          

Bem-aventurada a nação cujo Deus é o Senhor (Salmos 33;12a)

 

 

Ouça a pregação do pastor Enéas Tognini daquele tempo. Ela ainda ecoa!

 


 

 

  

 



[1] Tognini, Enéas. Renovação Espiritual no Brasil. Editora Renovação Espiritual: São Paulo, S/D.

[2] https://www.gov.br/defesa/pt-br/centrais-de-conteudo/noticias/ordem-do-dia-alusiva-ao-31-de-marco-de-1964-2021

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