Métodos sobre o controle de natalidade podem ser um assunto controverso entre muitos cristãos, mas, lembremo-nos, antes de qualquer controvérsia deve prevalecer a resposta objetiva da Bíblia Sagrada. Essa controvérsia surge em razão de alguns dizerem que a Bíblia não traz abordagens específicas sobre as formas permanentes e modernas de impedimento da concepção natural, como laqueadura ou vasectomia, sendo desnecessário o debate porque a deliberação sobre o assunto seria de livre aceitação quanto a intervenção humana ou não. Todavia, como outros, não compactuamos com o referido argumento. Antes, acreditamos existir obviedade na questão de a Bíblia não ser específica e procuramos ensinar a fé em Deus e confiança em seus propósitos para reger essa situação. Tais procedimentos eram inconcebíveis nos tempos da Igreja Primitiva e na Antiguidade. Pensá-los e ensinar contra eles no contexto bíblico, então, seria impróprio e extemporâneo. Contudo, o Santo Espírito inspirou coerentemente os escritores do cânon revelando princípios bíblicos poderosos capazes de revelar o perfeito entendimento os quais devem reger nosso entendimento, coração e ação quanto a preservação da virtude cristã e da fé ante a mutilação ou impedimento do corpo. Citaremos apenas dois.
Devemos reconhecer, primeiramente, que os filhos são um presente de Deus (Salmo 127:3-5). Os filhos não são fardos para carregar, mas bênçãos para receber com alegria. De uma perspectiva bíblica, todo casal deve querer ter filhos. A incapacidade de ter filhos, por outro lado, era considerada uma maldição, mas poderia ser remediada pela providência divina, enquanto a capacidade de conceber uma bênção. Lembremo-nos bem dessas afirmações porque o fato de Deus intervir em mulheres estéreis para fins de concepção demostra a grande contrariedade divina quanto ao impedimento de tê-los.
Outro ponto, o útero é frequentemente referenciado na Bíblia como um espaço sagrado e significativo, frequentemente descrito como estando sob a alçada da vontade de Deus. As gestações intervencionais (Sara, Raquel, Ana e Isabel) e a milagrosa (Maria) enfatizam a percepção do parto como entrelaçado com o propósito divino. A Bíblia afirma repetidamente que a conjugação da santidade de vida e a orquestração divina da concepção e do nascimento propicia a realização dos propósitos de Deus e não dos nossos. Dada essas informações, alguém poderia argumentar que qualquer intervenção para privar a concepção por meio de métodos que incapacitam o corpo, como a laqueadura e vasectomia, pode parecer interferir no plano de Deus para uma nova vida em potencial. Disto não temos dúvida, pois qualquer interferência humana no corpo ocasiona a inviabilidade da ação programada naturalmente e providencialmente preparada para um dos mais belos atos da vida: a chegada de mais um ser humano ao mundo.
Se cristãos evangélicos pensam que podem agir administrando o propósito divino como se donos dele fossem, vai um grande exemplo do catolicismo romano para eles. Muito embora tenhamos muitas divergências doutrinárias com o catolicismo porque seus dogmas prejudicam a salvação, no supracitado quesito, dão uma aula de fé e honra aos princípios bíblicos. Vejamos um pequeno trecho abordando a questão das consequências espirituais e do arrependimento moral:
Pois bem: a vasectomia e a laqueadura violam diretamente a primeira finalidade do matrimônio, já que alteram o funcionamento do sistema reprodutivo para que o indivíduo continue tendo relações sexuais, mas seja incapaz de gerar filhos. Isso é um pecado mortal, sim; mas não apenas porque “a Igreja disse que é”. Trata-se, como vimos, de uma conduta frontalmente contrária à hierarquia de valores do matrimônio.
— Quem cometeu esse pecado e se arrependeu, deve mesmo procurar a reversão do procedimento? De onde surge esse dever?
Sim, quando alguém se arrepende, tem o dever moral de procurar a reversão dessas operações, dever este que decorre da própria natureza do verdadeiro arrependimento: assim como o ladrão arrependido tem o dever moral de restituir a coisa roubada, quem fez vasectomia ou laqueadura tem o dever de, ao menos, procurar a reversão.[1]
Concluindo, vimos apenas dois princípios bíblicos porque julgamos suficientes para nos lembrar dos métodos anticonceptivos como fugas da vontade e dos propósitos divinos. Entender sua prática como uma liberdade opcional e circunstancial fere a firme convicção de dependência em Deus e da guarda de sua Palavra. Ora, se tantos outros (católicos, pessoas comuns e sem religião) acreditam na exaltação da concepção natural quanto mais se espera de cristãos que falam em nome do Criador da vida. Seria vergonhoso se não agissem nem pensassem assim.
Pr. Heládio Santos
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