quarta-feira, 6 de novembro de 2024
CityAlight ~ Ancient of Days (Lyrics)
terça-feira, 15 de outubro de 2024
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
Rosh Hashaná
SÍMBOLOS E COSTUMES DE ROSH HASHANÁ
Mergulhar no mel uma
fatia de chalá redonda e uma de maçã; saborear tâmaras, doce de abóbora ou
cenouras adocicadas são atos que fazem parte do ritual que precede a refeição
festiva, nas noites de Rosh Hashaná. pois é costume, após o kidush, provar
vários alimentos simbolicamente selecionados e sobre cada um destes fazer um
pedido para o novo ano, ao Todo-Poderoso.
Transmitido de geração em
geração, esse costume está baseado em um ensinamento talmúdico e faz parte de
vários códigos de leis. Os alimentos, escolhidos tanto por ter um sabor doce
como pela conotação sugerida por seu nome em aramaico ou hebraico, devem servir
de “bom augúrio” para o ano que se inicia.
Mas, alertam nossos
sábios, ainda que estes alimentos despertem, por seu sabor, sensações
agradáveis, o essencial é o significado espiritual que têm. Como o importante
não é o que se come, mas o porquê, foi instituída uma prece específica ou um
pedido para cada um dos mesmos. É esta pequena prece que confere à ação o seu
significado espiritual. Assim, antes de ingerir um alimento, nos dirigimos ao
Todo-Poderoso e rogamos, de todo coração: “Que seja Tua vontade, Senhor nosso
D’us, D’us de nossos pais…” “Yehi Ratzon Milefanêcha, Adonai EloHenu Velo-hê
Abotenu“.
Que alimentos são esses?
Sua escolha remonta à época talmúdica, mas, no decorrer dos séculos, foram
adotados diferentes costumes nos vários países onde os judeus se estabeleceram.
Daí a diversidade das tradições entre as diferentes comunidades. Ashquenazitas
e sefaraditas têm costumes diferentes, apesar de alguns itens serem comuns a
todos. A regra é simples: deve-se seguir o costume de sua casa.
Importância da
simbologia
Quando discute a eficácia
dos atos simbólicos, o Talmud dá uma indicação de sua importância ao declarar
que os reis de Israel devem ser coroados apenas na primavera – para que sua
soberania seja contínua, como o fluir dos rios, durante essa estação. Em seguida,
ao se referir a Rosh Hashaná, afirma: “Abaye ensina: agora que foi dito que um
augúrio tem significado, cada pessoa deve habituar-se a comer, no início do
ano, alimentos como abóbora, alho-poró, acelga e tâmaras…”.
A primeira pergunta é qual o motivo para o uso desses símbolos em Rosh Hashaná. Estes presságios servem de lembrete. Ao ingerir alimentos que têm conotações positivas e dirigir pedidos ao Todo-Poderoso, a pessoa se conscientiza que está sendo julgada por seus atos no ano que finda. Sabe que é chegado o momento de tentar aproximar-se de D’us e se arrepender por seus erros.
A segunda é qual a razão
para terem sido escolhidos certos alimentos. Variam as opiniões. Segundo Rashi,
a simbologia pode ser explicada por dois aspectos: a doçura natural de alguns
alimentos, representando um novo ano além de bom, também “doce”; enquanto
outros crescem rápido e são abundantes – o que representaria a abundância dos
méritos de todo o povo de Israel.
Outros sábios apontam o
fato de que é no nome de alguns alimentos que está contida sua simbologia. Há
os que fazem referência ao crescimento e à abundância. Estes alimentos
simbolizariam a fartura e o aumento das boas ações praticadas por Israel.
Outros fazem alusão à eliminação ou à destruição e são usados em referência aos
pecados e aos inimigos de Israel – “a todos aqueles que queiram fazer-nos mal”.
Alguns comentaristas
afirmam que a expressão “nossos inimigos”, nas preces, não é uma alusão aos
inimigos externos, mas sim aos “anjos da acusação” que nos acompanham. Segundo
o Talmud, os anjos são criados quando cometemos uma ação. Quando praticamos o bem
e obedecemos a Vontade Divina, criamos para nós mesmos um anjo defensor –
um sanegor. Mas, toda vez que praticamos uma má ação,
transgredindo a Vontade Divina, cria-se um categor – um
anjo que nos acusa perante D’us. Portanto, ao pedir a “aniquilação e a
erradicação de nossos inimigos”, pedimos a D’us que sejam eliminados todos os
inimigos de Israel – os “externos” e os “internos”, os que carregamos em nosso
íntimo e nos levam a transgredir. Pedimos também a D’us que anule os decretos
negativos e que só boas ações sejam lidas perante Ele.
Alimentos doces
Em Rosh Hashaná,
costuma-se consumir apenas bebidas e alimentos adocicados – indicando a
esperança de um ano de fartura e doçura. Esta tradição aparece nos textos
sagrados. No Livro de Samuel, por exemplo, o rei David e suas tropas enviaram a
Nabal o carmelita, a mensagem: “Aqui viemos para o Yom Tov; por favor,
dá-nos o que estiver ao teu alcance” (25:8). Segundo Rashi, era véspera de
Rosh Hashaná e David não tinha alimentos para a refeição festiva. Embora Nabal
tenha recusado o pedido, sua esposa, Abigail, forneceu os víveres, inclusive
vinho, uvas e figos secos. Estas frutas adocicadas constituíram as refeições de
Rosh Hashaná do rei David e seus homens. Foi também em Rosh Hashaná que
Neemias, no capítulo 8:10, dispensou os judeus reunidos em Jerusalém,
dizendo-lhes: “Vão, comam alimentos ricos, tomem bebidas doces e mandem um
pouco para aqueles que nada prepararam para si mesmos, pois sagrado é este dia
para o Senhor“.
O costume de consumir
alimentos doces é uma das características mais marcantes das refeições de Rosh
Hashaná. O kidush é feito de preferência sobre um vinho doce e, em seguida,
molha-se um pedaço de chalá no mel ou no açúcar. Certas comunidades têm o hábito
de molhar o pão no mel, ao invés do sal, no período de Rosh Hashaná até o
sétimo dia de Sucot. As chalot usadas na festividade também são adocicadas e,
diferentemente do feitio de trança geralmente usado no restante do ano, são
feitas redondas para simbolizar o ciclo da vida, da continuidade e da
eternidade. Feitas sem arestas, simbolizam nosso pedido para um ano sem
conflitos. O feitio circular, de coroa, serve também como lembrete da Realeza
de D’us, o tema mais importante da data.
Há várias simbologias no
ato de se molhar a chalá no mel. Entre elas, a semelhança existente entre
a chalot e o maná que alimentou Israel, durante 40 anos no deserto. Qual era o
gosto do maná? “Tinha o sabor de massa frita com mel” (Êx 16:31). A
própria palavra ´mel´, em hebraico, transmite a esperança na
Misericórdia Divina, pois o valor numérico da palavra “dvash” (mel) equivale ao
valor de “Av Ha’Rachamim” (Pai Misericordioso). Assim, o mel simboliza a
esperança de que a sentença decretada por D’us seja amenizada por Sua infinita
compaixão.
É também no mel que, a
seguir, molhamos uma fatia de maçã – ou no açúcar, como fazem os judeus
orientais, para reforçar os votos para o novo ano. Após agradecer o Todo
Poderoso por Sua benevolência, pedimos que Ele nos conceda novamente um ano bom
e tão doce quanto o mel.
E por que nossos sábios
escolheram a maçã e não outra fruta? Porque esta representa nosso povo e, em
várias ocasiões, nos textos sagrados, Israel é comparado a ´uma maçã
perfumada´. Esta fruta é também usada como símbolo para representar a Torah. Em
textos cabalísticos usa-se frequentemente a expressão “Campo de Maças Sagradas”
para descrever a manifestação da Presença Divina. O perfume da maça é uma
referência ao perfume do Jardim do Éden e é também associado à bênção que
Ia´aqov recebeu de seu pai, Itzhak. Segundo nossos sábios, este fato aconteceu
em Rosh Hashaná.
Sefaraditas e
ashquenazitas
Segundo o costume
sefaradita, os alimentos utilizados nas noites de Rosh Hashaná
são tamar (tâmara), rubia (feijão de
corda), carti (alho-poró), silcá
(acelga), cará (abóbora), rimon (romã), tapuach (maçã),
mel e rosh keves (cabeça de carneiro). Entre os ashkenazitas é costume
usar tapuach (maçã),
mel, guezer (cenouras), keruv (repolho), dag (peixe), rimon (romã)
e rosh dag (cabeça de peixe).
Ao se analisar a raiz
hebraica ou aramaica dos nomes dos alimentos que, ao longo dos anos, foram
integrados ao ritual, conseguimos entender o significado das bênçãos e sua
ligação com a história judaica. Sobre certos alimentos, invocamos a D’us pelo
“aumento” de nossos méritos e nossas virtudes. Este é o pedido feito quando
ingerimos, por exemplo, feijão de corda – em hebraico, rubia. O
nome hebraico provém do radical rava, ‘aumentar’.
Na realidade, o uso de algum alimento que aluda ao termo “aumentar” não se
limita às espécies mencionadas no Talmud ou ao seu nome em hebraico. Pode ser
utilizado, também, algum alimento cujo nome lembre este termo, no idioma local
usado pelos judeus, em uma determinada região. Por isso, muitas comunidades que
falavam ídiche passaram a usar cenouras no lugar de rubia –
planta comum no Oriente Médio, mas não na Europa. Cenoura, em ídiche, é mehren.
Esta palavra significa também “aumentar” ou ” multiplicar”. De forma similar, a
palavra alemã para cenoura é mohrube, muito semelhante às palavras
mehr – ‘mais’ – e rubia.
Ao ingerir peixe, os
ashquenazitas pedem a D’us que possam “multiplicar-se como os peixes”. O
costume também é interpretado como uma proteção contra o mau-olhado. Ensina o
Talmud que o mau-olhado não tem poder sobre aquilo que está escondido dos olhos
e, como os peixes vivem dentro d’água, o mau-olhado não os pode afetar. Já a
romã serve para invocar o aumento de nossos méritos, para que nos tornemos
repletos de boas ações, como a profusão de sementes dessa fruta. A simbologia,
neste caso, é simples, pois a romã possui 613 grãos – o número das mitzvot da
Torah.
Com os outros alimentos,
pedimos a D’us que nos afaste de tudo aquilo que nos faz mal ou leva a fazê-lo.
Assim, comemos tâmaras, cujo nome tamar lembra o radical tam –
“exterminar”.
E pedimos que sejam
exterminados todos os nossos inimigos e aqueles que nos queiram fazer mal. Em
aramaico, alho-poró é cartie e, em hebraico, carat,
que também significa ‘eliminar’.
Assim, ao comer o
alho-poró, pedimos a D’us que elimine nossos inimigos. Com a silcá,
acelga, cuja palavra vem da raiz silec, ‘afastar’, pedimos
que sejam afastados aqueles que querem o nosso mal. Entre os alimentos doces,
os sefaraditas costumam comer um doce feito de abóbora, em hebraico, cara,
termo que nos remete à palavra cará, ‘anular’. Ao comê-lo,
pedimos que nesse dia de julgamento sejam anulados os maus decretos e apenas os
nossos méritos sejam lidos perante D’us.
Finalmente o último
pedido: ao comer alguma parte da cabeça de um animal ou peixe pedimos para ser
bem-sucedidos, colocados “na cabeça e não na cauda”. Mas por que há uma
aparente redundância nas palavras? Para lembrar Israel a não ser subserviente a
nenhum outro poder – a não ser a D’us. Para este pedido, costuma-se usar uma
parte da cabeça do carneiro. Assim, D’us se recordará, para o nosso bem, o
mérito do sacrifício de Yitzhak – que, à última hora, foi substituído por um
carneiro.
Outros costumes
Em algumas comunidades
costuma-se comer uma fruta nova da estação na segunda noite de Rosh Hashaná,
para justificar a bênção de Shehecheianu que fazemos sempre
que temos prazer com coisas novas.
Com o tempo, foram
adotados vários outros costumes específicos, inspirados nos nomes de certos
alimentos. Os judeus da Ucrânia, por exemplo, costumavam dar aos filhos, em
Rosh Hashaná, fígado de galinha. Isto porque em ídiche, fígado é leberlach um
homófono da palavra leb ehrlic – ‘viver honestamente‘.
Há os que não comem nozes nesta festividade, porque a soma das letras da
palavra egoz (noz) tem o mesmo valor numérico do que chet,
o termo hebraico para ‘pecado’.
Alguns grupos assam a
chalá em feitio de espiral como um lembrete de que D’us decidirá quem subirá e
quem descerá os degraus da vida. Um costume menos conhecido é o de fazer a
chalá no formato de um pássaro, como está descrito em Isaías (31:5): “Como pássaros
flutuando, assim o IHVH protegerá Jerusalém”. Enquanto em certos lares
sefaraditas, oriundos de países do Mediterrâneo e do Oriente Médio, é comum
começar a refeição festiva com um peixe inteiro – como expressão do desejo de
prosperidade, fertilidade e boa sorte no ano vindouro – há judeus marroquinos
que não comem peixe em Rosh Hashaná. Segundo esta tradição, o peixe deve ser
evitado pois em hebraico a palavra para peixe é Dag e
lembraria a palavra D’agá, que significa ´preocupação´.
Independentemente do
costume adotado em cada comunidade, nós, assim como todas as gerações que nos
precederam, continuaremos invocando, também neste Rosh Hashaná, a Bênção Divina
sobre o povo de Israel. Que seja para todos um ano bom e doce!
Bibliografia:
“Rosh Hashanah, Its
significance, laws and prayers, a presentation anthologized from Talmudic and
traditional sources”, The ArtScroll Mesorah Series, Mesorah Publications
“Rosh Hashaná, Yom Kipur
e Sucot”, compilados por Rabino Isaac Dishi, edição Congregação Mekor Haim.
fonte: https://shemaysrael.com/simbolos-e-costumes-de-rosh-hashana/
quarta-feira, 11 de setembro de 2024
Nosso trabalho foi em vão?
Uma
das promessas mais impressionantes nas Escrituras é que “o vosso trabalho no
Senhor não é em vão” (I Coríntios 15:58). Esse termo “trabalho no Senhor”
significa muito mais do que as tarefas “espirituais” de evangelismo e oração;
vão muito além.
Isso
parece incrível, mas às vezes pode ser difícil ver como. É reconfortante para nós
que até mesmo o grande apóstolo Paulo duvidou da significância de sua obra. Em I
Tessalonicenses 3:5, ele admitiu: “Eu temia que… nossos labores pudessem ter
sido em vão.” E ainda assim ele escreveu I Coríntios 15:58 assegurando a si
mesmo e a seus leitores da promessa de Deus. Paulo também reclamou dos gálatas
(Gl 4:11). Teria sido o seu trabalho pastoral na Galácia em vão? O que estava
em causa? Aconteceu que os gálatas estavam em uma ação reversa da sua história.
Utilizando-se do seu exemplo, Paulo libertou-se do farisaísmo para o
cristianismo, demonstrando um testemunho prevalecente. Mas alguns gálatas
estavam retornando do cristianismo para a mentalidade legalista judaica, que coisa?
Veja,
este é um ato de fé. Mesmo quando não conseguimos ver como, confiamos que Deus
usará tudo o que fizermos por ele, mesmo que seja algo aparentemente insignificante.
Tenhamos fé nessa promessa hoje, crente. Deleite-se no conhecimento de que tudo
o que fizermos “para o Senhor” reverberará por toda a eternidade, mesmo que
crentes e Igrejas nos decepcionem e tentem desabonar todo o serviço prestado a eles!
terça-feira, 10 de setembro de 2024
Princípios bíblicos e a anticoncepção
Métodos sobre o controle de natalidade podem ser um assunto controverso entre muitos cristãos, mas, lembremo-nos, antes de qualquer controvérsia deve prevalecer a resposta objetiva da Bíblia Sagrada. Essa controvérsia surge em razão de alguns dizerem que a Bíblia não traz abordagens específicas sobre as formas permanentes e modernas de impedimento da concepção natural, como laqueadura ou vasectomia, sendo desnecessário o debate porque a deliberação sobre o assunto seria de livre aceitação quanto a intervenção humana ou não. Todavia, como outros, não compactuamos com o referido argumento. Antes, acreditamos existir obviedade na questão de a Bíblia não ser específica e procuramos ensinar a fé em Deus e confiança em seus propósitos para reger essa situação. Tais procedimentos eram inconcebíveis nos tempos da Igreja Primitiva e na Antiguidade. Pensá-los e ensinar contra eles no contexto bíblico, então, seria impróprio e extemporâneo. Contudo, o Santo Espírito inspirou coerentemente os escritores do cânon revelando princípios bíblicos poderosos capazes de revelar o perfeito entendimento os quais devem reger nosso entendimento, coração e ação quanto a preservação da virtude cristã e da fé ante a mutilação ou impedimento do corpo. Citaremos apenas dois.
Devemos reconhecer, primeiramente, que os filhos são um presente de Deus (Salmo 127:3-5). Os filhos não são fardos para carregar, mas bênçãos para receber com alegria. De uma perspectiva bíblica, todo casal deve querer ter filhos. A incapacidade de ter filhos, por outro lado, era considerada uma maldição, mas poderia ser remediada pela providência divina, enquanto a capacidade de conceber uma bênção. Lembremo-nos bem dessas afirmações porque o fato de Deus intervir em mulheres estéreis para fins de concepção demostra a grande contrariedade divina quanto ao impedimento de tê-los.
Outro ponto, o útero é frequentemente referenciado na Bíblia como um espaço sagrado e significativo, frequentemente descrito como estando sob a alçada da vontade de Deus. As gestações intervencionais (Sara, Raquel, Ana e Isabel) e a milagrosa (Maria) enfatizam a percepção do parto como entrelaçado com o propósito divino. A Bíblia afirma repetidamente que a conjugação da santidade de vida e a orquestração divina da concepção e do nascimento propicia a realização dos propósitos de Deus e não dos nossos. Dada essas informações, alguém poderia argumentar que qualquer intervenção para privar a concepção por meio de métodos que incapacitam o corpo, como a laqueadura e vasectomia, pode parecer interferir no plano de Deus para uma nova vida em potencial. Disto não temos dúvida, pois qualquer interferência humana no corpo ocasiona a inviabilidade da ação programada naturalmente e providencialmente preparada para um dos mais belos atos da vida: a chegada de mais um ser humano ao mundo.
Se cristãos evangélicos pensam que podem agir administrando o propósito divino como se donos dele fossem, vai um grande exemplo do catolicismo romano para eles. Muito embora tenhamos muitas divergências doutrinárias com o catolicismo porque seus dogmas prejudicam a salvação, no supracitado quesito, dão uma aula de fé e honra aos princípios bíblicos. Vejamos um pequeno trecho abordando a questão das consequências espirituais e do arrependimento moral:
Pois bem: a vasectomia e a laqueadura violam diretamente a primeira finalidade do matrimônio, já que alteram o funcionamento do sistema reprodutivo para que o indivíduo continue tendo relações sexuais, mas seja incapaz de gerar filhos. Isso é um pecado mortal, sim; mas não apenas porque “a Igreja disse que é”. Trata-se, como vimos, de uma conduta frontalmente contrária à hierarquia de valores do matrimônio.
— Quem cometeu esse pecado e se arrependeu, deve mesmo procurar a reversão do procedimento? De onde surge esse dever?
Sim, quando alguém se arrepende, tem o dever moral de procurar a reversão dessas operações, dever este que decorre da própria natureza do verdadeiro arrependimento: assim como o ladrão arrependido tem o dever moral de restituir a coisa roubada, quem fez vasectomia ou laqueadura tem o dever de, ao menos, procurar a reversão.[1]
Concluindo, vimos apenas dois princípios bíblicos porque julgamos suficientes para nos lembrar dos métodos anticonceptivos como fugas da vontade e dos propósitos divinos. Entender sua prática como uma liberdade opcional e circunstancial fere a firme convicção de dependência em Deus e da guarda de sua Palavra. Ora, se tantos outros (católicos, pessoas comuns e sem religião) acreditam na exaltação da concepção natural quanto mais se espera de cristãos que falam em nome do Criador da vida. Seria vergonhoso se não agissem nem pensassem assim.
Pr. Heládio Santos
terça-feira, 3 de setembro de 2024
Grupo de Estudos - GEPMOR
Há muito desejávamos um grupo de estudos que aprofundasse a discussão sobre a História da Igreja cristã, principalmente, focando aqueles movimentos denominados reacionários cujas ações criaram cismas na Igreja. Não entenda, entretanto, reacionário do ponto de vista ideológico, político ou revolucionário, mas como pensamento de restauração pelo qual comunidades sentiram a urgente necessidade de retornar aos padrões da Igreja Primitiva em contraponto aos desvios e às severas mudanças pelas quais passava a Igreja majoritária de seu tempo.
O movimento reacionário no contexto cristão por parte de comunidades menores caracterizou-se pela sua reação de não aceitação às invencionices religiosas praticadas e ensinadas por agentes superiores hierarquicamente da Igreja geral. Muito embora sua argumentação partisse das Escrituras, não eram reputados como seus intérpretes legítimos porque estavam no estrato da laicidade. Contudo, o sentido intelectual e prático desse reacionarismo de determinados grupos visava apenas a conservação dos valores neotestamentários porque estavam sob forte ataque da Igreja em franco caminho de institucionalização ou já institucionalizada. É, portanto, uma abordagem centrada na contrariedade ante os processos de inovação de uma Igreja cristã que não percebia seus erros, mas que era inquietada por aqueles que percebiam a mudança dos seus rumos e como tentativa de solucionar o problema procuraram colocar freios na situação “ladeira a baixo”.
Esses reacionários
receberam designações diversas. Às vezes, ganhavam uma nomenclatura associada
aos líderes; outras, em referência aos lugares onde estavam; semelhantemente, pelas
práticas batismais e, talvez, a razão mais consistente seria pela abordagem pura
das doutrinas, gerando convicções pautadas nas Escrituras Sagradas, mas não
entendida desta forma pelos seus opositores que em tom de ironia os designavam.
Consiste,
deste modo, num grande desafio tomar documentos históricos, analisá-los e
propor um conhecimento que esteja de acordo com as perspectivas daqueles cristãos
que muitas vezes foram/são chamados de hereges, amiúde, equivocadamente. O
simples fato de assim nomeá-los criou um grande obstáculo ou uma densa bruma
para alguns pesquisadores, estudiosos ou leigos que queiram saber mais sobre o
assunto porque já são introduzidos no contexto de forma enviesado e eivado pela
falsa interpretação. Outrossim, o título pejorativo dado pelos muitos religiosos
incomodados com as pregações e ensinos dos reacionários cristãos revelou também
um desgosto pela crítica indireta à sua hipocrisia religiosa recheada de
pomposidade e deleites mundanos por parte de homens e mulheres comuns não institucionalizados
nem hierarquizados. Por certo, um tema bastante interessante para dialogarmos
com a História.
Não
obstante, um pequeno grupo da Igreja Batista Renovada Moriá, Fortaleza (CE), vem
reunindo-se mensalmente com sede de conhecer mais da História da Igreja para
poder transmitir informações honestas sobre cada movimento. Não será, no
entanto, um trabalho rápido e ágil, pois uma pesquisa desta envergadura dura
anos e perpetuasse. O trabalho tem consistido em análises pontuais e progressivas
dos anais históricos e de autores nacionais e estrangeiros, bem como na tradução
dos tratados originais em latim, outros em inglês, espanhol e francês e sua contextualização.
A pretensão para a entrega de resultados está programada para os eventos da
Igreja cujos temas tenha igual abordagem, assim como a produção textual para
publicação a partir do próximo ano.
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
terça-feira, 27 de agosto de 2024
E o coelho branco, o que significa?
A
metáfora do coelho no livro “Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, é muito
interessante para podermos aplicá-la tanto para buscarmos a compreensão do
mundo e dos indivíduos nele inseridos, como a de nós mesmos. Vejamos o texto:
Resumindo: um coelho
branco é retirado de uma cartola. Como é um coelho enorme, esse truque leva
bilhões de anos para acontecer. Na ponta dos pelinhos nascem todas as crianças.
E como elas se encantam com esse truque de mágica! Mas, à medida que
envelhecem, elas vão afundando lentamente para a base dos pelos do coelho. E
por lá ficam. Tão confortáveis que jamais ousarão subir de volta para a ponta
dos pelos. Somente os filósofos ousam retomar essa jornada perigosa rumo à fronteira
da linguagem e da existência.
Alguns deles
escorregam e despencam no caminho, mas outros se agarram bem aos pelos do
coelho e lá do alto gritam para serem ouvidos pelos que ficaram ali embaixo,
acomodados na pelagem macia do coelho, refestelando-se com boa comida e bebida.
— Senhoras e
senhores — gritam eles —, estamos flutuando pelo espaço!
Mas ninguém ali presta
atenção no que gritam os filósofos.
— Puxa, mas que gente mais
barulhenta! — dizem.
E seguem conversando
como antes: será que você poderia me passar a manteiga? Qual é o saldo da
poupança que temos no banco hoje? Quanto está o quilo do tomate? Você viu que a
Lady Di vai ter mais um bebê?
Segundo
leitores, a referida metáfora se encontra como uma das mais utilizadas do livro
para exercícios e reflexões sobre a vida. Focada também sob o ponto de vista
alegórico, Gaarder faz alusão sobre a necessidade de se escalar o conhecimento
para alcançar a positividade de um pensamento crítico.
A
figura do coelho, para darmos algumas pinceladas em seu significado, serviu
como meio para ilustrar a comodidade da vida na qual os sujeitos do mundo ficam
absorvidos nesse mundinho e vivem sem perceber onde sua potencialidade pode
chegar, ocasionando uma inversão de rumo, pois a falta de reflexões e
questionamentos, começando pelos fundamentais até os mais complexos, os faz
desviar ilusoriamente.
A
pretensão seria uma provocação aos leitores para que desenvolverem pensamentos
instigantes que mantenham o entusiasmo pela vida, assim como provavelmente
tinham na mais tenra infância.
Essa
leitura é também um bom exercício para podermos desenvolver não só nosso
intelecto inato, mas também a vida espiritual instaurada em nosso espírito que
ora pode ter sido esquecida em virtude de tantas agruras da vida ou outros
empecilhos mil. Como cristãos, temos o poder de conhecer e saber o que foi, o
que é e o que será. O exame escriturístico comungado com a vida piedosa diante
do altar divino conjugam a maneira ideal de sermos não um filósofo, segundo a
proposta da obra, mas porta-vozes da verdade ensinada pelo mestre e salvador
Jesus. Não percamos mais tempo.
Comentário sobre "Breve História Sobre o Anticristo" de Vladimir Solovyov
“Mas
teria eu de me prostrar perante Ele como uma velha senhora polonesa, como um
camponês russo, e dizer: ‘Tenha misericórdia de mim!’?”
–
Anticristo colocando-se acima de Cristo, tal qual o homem moderno
Personagens
Principais Anticristo – líder da elite globalista
Apolônio – mago esotérico auxiliar do Anticristo Papa Pedro II – líder católico
(nome do último papa na profecia de Malaquias) Ancião João – líder dos cristãos
ortodoxos Professor Ernest Pauli – líder dos protestantes
Personagens
Secundárias Em uma cidade situada no Mediterrâneo,
cinco russos se encontraram por acaso: um velho general, um político, um jovem
príncipe, uma senhora, e um desconhecido (Senhor Z – que lerá o manuscrito Breve
História Sobre o Anticristo para os demais).
Interpretação
Publicada
em 1900, em meio a eferverscência de transformações tecnológicas que
envaideciam o homem, exacerbando sua húbris, esta curta narrativa se revelou
profética. Num futuro incerto, após vencer duas sucessivas guerras contra
muçulmanos e asiáticos, a Europa dissolve as nações independentes e forma a
União dos Estados Europeus, que progressivamente assume a posição de governo
global comandada por tecnocratas de espírito cientificista.
Da elite governamental emerge o Anticristo com o discurso de concentração de poder para permitir a “paz universal e bem-estar geral” – insanidade que parte do princípio de que o mal ocorre no mundo em função do livre arbítrio (liberdade) dos homens, e estes cometem atos maus, logo é preciso coibir, via um Estado forte (i.e. totalitário), a liberdade humana.
O Anticristo não tem nome, mas é também denominado super-homem (übermensch nietzschiano) e “o homem vindouro” – o “novo homem” prometido pelas ideologias revolucionárias. Jovem, filho de uma mulher de vida fácil, vegetariano, e dono de uma grande retórica, o Anticristo é aclamado por todos os jornais – a mídia totalmente corrompida.
Gradativamente o Anticristo compara-se cada vez mais favoravelmente com Cristo até colocar-se acima Dele: “Cristo veio antes de mim; eu vim em segundo, mas aquilo que na ordem do tempo aparece depois é, em essência, de maior importância. Eu vim pelo fim, o fim da história, e por essa mesma razão eu sou o mais perfeito. Sou o salvador final do mundo e Cristo é meu precursor. Sua vocação foi de antecipar e preparar minha vinda.” – a mais perfeita definição do progressismo (teoria alimentada pelo engodo evolucionista que reveste o simples avanço temporal de melhora em todos os aspectos culturais).
A promessa de um mundo sem sofrimento engana as multidões, mas um número cada vez mais reduzido de cristãos (católicos, ortodoxos e protestantes) se recusa a prostrar-se diante o Anticristo – perda quantitativa e melhora qualitativa da Igreja (em toda escatologia sempre resta um pequeno grupo que será a base do novo renascer, e.g. arca de Noé e o mito de Deucalião e Pirra).
Ao final, os três líderes cristãos, com um punhado remanescente de fiéis, condicionam seguirem a liderança do Anticristo somente se ele subordinar-se ao Cristo. Em resposta o Anticristo revolta-se, provoca a morte do Papa Pedro II e do Ancião João, abre as portas do inferno, e elege Apolônio como o novo líder de uma igreja universal subordinada ao governo – sincretismo religioso em uma nova crença imanente.
Os poucos fiéis remanescentes migram para o deserto para orar e aguardar a volta do Cristo. Posteriormente recuperam os corpos do Papa Pedro II e do Ancião João que ressuscitam, havendo a reunificação, agora verdadeira, da Igreja – a ressuscitação da Igreja. O Anticristo foi desmascarado e o mundo está pronto para o retorno do Cristo – simbolismo do retorno do Rei (o legítimo herdeiro do trono).
O Anticristo é um impostor envolto com uma falsa auréola de beneficência, uma paródia de Cristo. Ele não se manifesta necessariamente numa entidade ou pessoa, mas sim como um conjunto de inverdades (o maravilhoso mundo prometido pela revolução) que afasta o homem do Belo, Bom e Verdadeiro. As personagens secundárias descrevem uma atmosfera de dificuldade em ver as coisas claramente, como uma premunição de catástrofe – relativismo, desinteresse e incapacidade de buscar a Verdade, “o diabo com seu rabo põe uma névoa na claridade divina”.
O Anticristo já está entre nós? A atual falsificação de tudo, a pseudo-espiritualidade e confusão intelectual reinantes diz que sim – o reino do Anticristo é o reino da “contra-tradição”, é anticivilizatório (ver O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos de René Guénon). E o caos será levado ao paroxismo antes que este conjunto de inverdades desmorone e o Cristo retorne – o Anticristo gozará de um breve triunfo antes de sua derrota final e a retomada de um novo ciclo.
Notas
·
Vladimir Solovyov (1853-1900) nasceu em
Moscou, Rússia.
·
Filósofo e místico, reagiu ao
racionalismo europeu (positivismo, idealismo, empirismo, etc) buscando uma
síntese da filosofia religiosa, das ciências e da ética no contexto de um
Cristianismo universal unindo as igrejas Ortodoxa e Católica sob a liderança
papal.
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Breve História Sobre o Anticristo foi publicado em 1900. Este relato se torno
complemento de Três Conversas posteriormente publicadas em War
Progress and the End of History. As três conversas versam sobre o mal e os
métodos de combatê-lo.
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Outras obras destacadas: The Crisis
of Western Philosophy: Against the Positivists (1874) e The Meaning of
Love (post mortem).
·
William Butler Yeats (1865-1939),
preocupado com o crescente espírito revolucionário e o relativismo, escreveu The
Second Coming versando sobre a vinda do Anticristo: Turning and turning
in the widening gyre The falcon cannot hear the falconer; Things
fall apart; the centre cannot hold; Mere anarchy is loosed upon the
world, The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere The
ceremony of innocence is drowned; The best lack all conviction, while
the worst Are full of passionate intensity. Surely some
revelation is at hand; Surely the Second Coming is at hand. The Second
Coming! Hardly are those words out When a vast image out of Spiritus Mundi Troubles
my sight: somewhere in sands of the desert A shape with lion body and the head
of a man, A gaze blank and pitiless as the sun, Is moving its slow thighs,
while all about it Reel shadows of the indignant desert birds. The darkness
drops again; but now I know That twenty centuries of stony sleep Were
vexed to nightmare by a rocking cradle, And what rough beast, its hour come
round at last, Slouches towards Bethlehem to be born?
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A vinda do Anticristo é narrada no Apocalipse
de São João.
Disponível em: https://www.culturaanimi.com.br/post/breve-hist%C3%B3ria-sobre-o-anticristo-de-vladimir-solovyov
segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Barrocão para Cristo
Durante o terceiro final
de semana de agosto/2024, a congregação de Barrocão, Itaitinga, Ceará, celebrou
4 (quatro) anos de sua fundação. Esta obra iniciou desafiando as circunstâncias
devido à pandemia de 2020. Naquela ocasião, noticiava-se momentos de desespero
e preocupação com o vírus matador, mas isso não foi o bastante para impedir o
trabalho do Reino de Deus. Os irmãos ousaram evangelizar crianças e adultos em busca
de quem queria confiar em Cristo e muitos se converteram tomando parte na
comunidade Moriá do lugar. Hoje, a obra tem recebido a adesão de irmãos de
outras congregações que mudaram de domicílio para darem apoio e continua em
plena atividade através das ações de evangelização, realizando cultos na
pequena graciosa capela, adquirida a pouco tempo, e reunindo-se a igreja nos
lares. Os irmãos têm o privilégio de contarem com o apoio dos irmãos Michel e
evangelista Maurício, entre outros, na assistência e representação do
presbitério.
Que Deus abençoe toda a
congregação.