terça-feira, 8 de novembro de 2016

Memórias de Moriá - conflitos e conversão

Era um sábado (26/11/1988) quando aquele culto aconteceu, na Rua Joaquim Tôrres, 935, no bairro de Joaquim Távora. Naquela singela casa antiga, o pregador e os ouvintes, a pregação com conversões e a alegria do céu. Esse foi o marco na história de algumas vidas, tanto dos que estavam lá quanto dos que não estavam.
O quarteto de outrora ficou resumido a dois jovens que tentaram dissuadir os outros dois agora redimidos. Apesar de algum esforço, não conseguiram e resolveram continuar a trajetória da “geração coca-cola” sem seus principais articuladores. Fracasso. Tentaram substituí-los, sem sucesso. Não poderiam ser substituídos. Como último recurso, o jovem mais disposto a mudar aquele quadro inscreveu-se para a crisma a fim de aprender as Escrituras para, através delas, trazer os amigos à velha vida. Que absurdo! No entanto, um erro acertado, pois com a leitura do Evangelho o Santo Espírito começou a mudar paulatinamente os pensamentos do seu coração. Mas, participava das missas semanais na sua paróquia e juntamente com os professores da crisma discutia, dentro do que sabia (lógica juvenil), com os antigos amigos nas tardes de domingo enquanto eles evangelizavam em frente à igreja católica da Piedade.
Passado alguns meses, após a conversão de George e Kito (apelido carinhoso de Assis com o qual era tratado pelos familiares e amigos), o jovem perdido busca nos antigos amigos respostas para o que não entedia nas Escrituras. Na crisma, o grupo de jovens que conduzia as reuniões só falava de problemas sociais e cantavam, por incrível que pareça, “Legião Urbana”. A sede de Deus brotava naquele coração simples que não resistiu ao convencimento divino, por isso buscou amparo em quem podia confiar e contar para solucionar seus dilemas, pois seus mestres religiosos eram vazios. Apesar disto, não tinha interesses em tornar-se cristão como os amigos. Assis, como um verdadeiro amigo, fazia muitas incursões para levar o amigo ao culto. Certa vez, estavam jogando futebol quando de repente ele surgiu, entrando no terreno batido de areia. Ele pediu para participar daquele jogo para no final convidá-los para um culto de jovens na antiga Igreja do jovem pregador Glauco. Como era de se esperar, não aceitaram, ficando, inclusive, chateados pelo ato do sincero amigo.
No entanto, alguns dias depois, aquele jovem da crisma atende a um novo convite para um culto. Já era fevereiro de 1989. Os crentes de Moriá não mais se reuniam no local do primeiro culto, mudaram para outro endereço: Rua Pinho Pessoa, 494. Uma casa alugada com muro baixo pintado de amarelo, portão gradeado e mediano na cor branca, com uma frente destinada à garagem, sem coberta. As partes interiores não eram utilizadas, pelo menos para a realização dos cultos. Naquele local, além dos ouvintes que estavam dentro da área de garagem, os transeuntes, os motoristas, os passageiros de ônibus (linha Parque Americano) podiam ver e ouvir a mensagem do evangelho quando transitavam pela rua.
O local de culto era de uma área com uns 4 (quatro) metros de largura por 5 (cinco) metros de profundidade, talvez menos. Após o espaço da garagem, havia uma escada de dois degraus que dava para a elevação do imóvel quando começava propriamente a casa. Esse patamar superior era semelhante a uma puxada frontal de onde o pregador anunciava sua mensagem com uma pequena caixa de som, enquanto os demais se acomodavam em cadeiras, banquetes e puffs. Muita gente diferente. Para alguém que nunca tinha participado de um culto, e além disso estava exposto a quem passava na rua, podendo, inclusive, ser reconhecido por pessoas do seu convívio que ao verem naquele ambiente estranho poderiam em seguida o delatarem aos seus pais, aquela visita tornou-se algo extremamente embaraçosa. Naquele dia, em razão desse drama pessoal nada entendeu, não prestou atenção, queria sair correndo dali porque estava mais preocupado em não ser visto. Em muitos momentos ficou se questionando os por quês de ter chegado àquele lugar. A sensação era de grande vergonha. Saiu dali com algumas literaturas com as quais passou a comparar com o Novo Testamento das Edições Paulinas que possuía. Ficou tão convencido e ao mesmo tempo tão acovardado que tentava mostrar sua mãe as razões da fé. Sua mãe temendo que seu filho se tornasse um fanático derramou-se em lágrimas diante dele, “obrigando-o” a jogar fora aquela boa literatura. Resolveu-se não mais pensar em ir para aquele “projeto de Igreja”, decidindo-se também não participar mais da crisma. Achou-se enganado com o dogmatismo católico e suas falácias. Os homens de preto caíram no seu descrédito.
Os meses que se seguiram foram de estudos seculares, mas também de exame das Escrituras. Agora, solitariamente, não permitindo a influência de outrem cedeu ao chamado do Espírito. Após programar sua despedida da vida mundana para a festa de 15 anos de sua irmã, nosso jovem, com uma semana de antecedência, visitou um dos amigos, informando-o que iria para sua Igreja no domingo seguinte.

Em 08 de outubro de 1989, após meses de embates e conflitos, o jovem perdido encontra guarida nos braços do Cristo. Foi num culto tremendo: George tocava violão entoando louvores ao Criador, o jovem pregador Glauco pregava sobre o arrebatamento da Igreja (o jovem fixou aquela doutrina e nunca se esqueceu daquela pregação) e muitos irmãos se alegravam naquele local. Era contagiante. O culto estava sendo realizado na cozinha da mesma casa de meses anteriores com o aparato dos bancos, de um singelo púlpito e de cadeiras. Tudo muito simples. Estavam ali: Glauco, Glívia, Geisa, Marcos, George, Assis, Geovani, Marleide, Maria (irmã da Assembleia de Deus de Tauá que se congregou durante algum tempo conosco), Airton, João, Tereza, Haroldo, Flávio, Manoel, Carlos Alberto, Cláudio, Henrique e Marquinhos (a maior parte de novos convertidos). A Igreja Moriá começava a se tornar conhecida no bairro, levando pessoas a Cristo e iniciando um forte trabalho de evangelização.

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