quarta-feira, 27 de março de 2019

Breve meditação sobre as intenções do nosso coração


Por Antonio Welderlan da Silva Sales


                                      “Naquela hora chegaram-se a Jesus os discípulos e perguntaram: Quem é o maior no reino dos céus?” (Mt 18:1)

Qual discípulo era mais amado por Jesus? Qual, dentre eles, seria coroado com maior honra em seu reino? Qual seria suas recompensas diante de tal esforço? Muito além de uma dúvida, a pergunta dos discípulos mostra-nos uma disposição de seus corações.

Lúcifer, motivado por um sentimento de inveja e superioridade em relação aos seus pares, chegou a ponto de dizer ao próprio coração: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte” (Is 14:13); O desejo de ser superior aos demais anjos criados por Deus era enorme. Lúcifer não só não aceitou sua condição de criatura, como quis assemelhar-se ao criador em grandeza e poder, como diz-nos a continuação do texto aludido: “subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo(Is 14:14).

O homem, por sua vez, quando enganado pela serpente (Gn 3:6) abriu-se-lhe os olhos e o pecado passou a reinar sobre o mesmo, de tal modo que tornou-se ambicioso e ávido pelo poder. Gênesis 11:1-4 revela-nos que o homem, assim como Lúcifer, quis diferenciar-se dos demais e, podemos inferir, assemelhar-se ao Senhor em grandeza:

“Ora, toda a terra tinha uma só língua e um só idioma. E deslocando-se os homens para o oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e ali habitaram. Disseram uns aos outros: Eia pois, façamos tijolos, e queimemo-los bem. Os tijolos lhes serviram de pedras e o betume de argamassa. Disseram mais: Eia, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.”

Algumas lições podemos extrair desse texto: 1) Porque uma torre que chegasse ao céu? Podemos conjecturar que a ideia que os homens tinham de Deus era de um ser impessoal, que vivia no céu, distante dos problemas e dilemas enfrentados por eles. Talvez, a percepção que eles tinham era que, ao chegarem lá (no céu), seriam semelhantes a Deus; 2) O sentimento que os levava a agir de tal forma era, antes de tudo, a ambição, pois queriam “fazer um nome” (v.v. 4) e ser reconhecidos como povo forte e destemido. Mais uma vez, portanto, vemos a história se repetindo e a criatura buscando ser semelhante ao criador.

A bíblia sagrada, entretanto, mostra-nos que um dos atributos divinos do nosso Senhor é a onipotência; Ele próprio ratifica tal atributo quando se revela a Moisés como o “EU SOU O QUE SOU” (Ex 3:14) demonstrando não se limitar a moldes e rótulos humanos; Jó, em outro momento, se refere a Ele como aquele “que tudo podes” (Jó 42:2) e o anjo que apareceu a Maria, ao relatar a concepção de Isabel, que era estéril e já avançada em idade, disse que “para Deus nada será impossível” (Lc 1:37). Tal atributo divino o coloca acima de tudo e de todos, a ponto de o próprio Deus, em um período no qual Israel estava tão envolto no pecado da idolatria, declarar a Isaías: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não a darei...” (Is 42:8).

Tudo o que falei até agora, entretanto, serviu-me apenas por introdução ao texto de Mateus 18:1 que revela-nos muito mais que uma simples pergunta. O texto fala-nos que “chegaram-se a Jesus os discípulos”, ou seja, a dúvida era comum a todos e houve um diálogo entre eles, levando-os a um consenso. O Dr. Lucas, ao relatar esse mesmo episódio, revela-nos o sentimento que havia em seus corações. Vejamos: “E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mas Jesus, percebendo o pensamento de seus corações, tomou uma criança, pô-la junto de si, e disse-lhes...” (Lc 9:46-48a). estava havendo uma discussão ali, mas Jesus, que vê muito além, atentou-se para aquilo que era mais profundo, para “o pensamento de seus corações”. Aquela discussão revelava muito mais sobre eles do que eles imaginavam, pois mostrava vossas intenções mais profundas e obscuras, enraizadas nos seus corações.

Quando questionado pelos fariseus por seus discípulos não lavarem as mãos antes de se alimentarem (Mt 15:2), Jesus responde de forma clara e concisa: “Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que contamina… o que sai da boca procede do coração..” (Mt 15:11,18). Nosso coração é enganoso (Jr 17:9), dele procede nossos tesouros (Lc 6:45a) e falamos daquilo que ele está cheio (Lc 6:45b).

Jesus responde aos seus discípulos de forma inusitada e sábia: “Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse-lhes: Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizeres como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.” (Mt 18:2,3). Crianças são puras, não desejam mal, não invejam, não são orgulhosas nem fazem acepção.

Que Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, faça-nos como crianças com o coração disposto a perdoar, a amar e a obedecer ao nosso Senhor em amor.



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