quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

É LÍCITO JULGAR?


O presente estudo tem como finalidade o esclarecimento bíblico sobre a questão do julgamento. Talvez seja por falta de explicação, compreensão ou interesse acerca do tema, mas o fato é que existe uma rejeição quando se trata desse assunto e por isso observou-se a necessidade de um artigo extraindo o que a Bíblia nos ensina sobre julgar.
Em primeiro lugar, "julgar" significa atribuir valor a algo ou alguém baseado em um conjunto de fatores que nos levarão a uma determinada conclusão. Esses fatores que contribuem para a ocorrência do julgamento, poderão ser internos (valores morais, espirituais e os princípios que constituem a própria pessoa que elabora o julgamento) e/ou poderão ser externos (influência de terceiros). De todo modo, tais fatores mostrarão muito de quem atribui valor e de quem recebe a atribuição.
As decisões e escolhas que tomamos em nossa vida, tais como: com quem iremos nos casar, o que comeremos, o que vestiremos ou qual profissão teremos, são frutos de um julgamento prévio, muitas vezes, baseado em nossos princípios morais, crenças, valores éticos, gostos individuais e até mesmo, nas influências que recebemos do meio em que estamos inseridos. É graças a capacidade de julgar que fazemos as escolhas mais importantes da nossa vida, como aceitar a Cristo como nosso salvador e com quem iremos nos casar para sempre, por exemplo. Graças a Deus pela capacidade de julgar e discernir o bem do mal, o justo do injusto, o puro do impuro. Entretanto, tal capacidade, além de benéfica, pode ser muito perigosa se mal interpretada, trazendo grandes prejuízos a curto, médio e longo prazo. É por isso que analisaremos, a luz da Bíblia Sagrada que é a palavra inerrante de Deus, se é lícito ao crente julgar.
Existe uma concepção equivocada de que cristão é alguém que não julga, que sempre se mostrará compreensivo para com o pecador e o pecado. Essa visão vem, geralmente, pautada no texto: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mateus 7.1), usado, muitas vezes, para nos calar e nos impedir de tocar em questões morais ou doutrinárias. Tal interpretação está tão errada quanto a de que o cristão deve medir a espiritualidade das pessoas por suas obras. Nem isto e nem aquilo, na verdade, a Bíblia deixa bem claro como devemos proceder.
A Bíblia nos fala de dois tipos de julgamentos, e são eles: "Segundo a Aparência" e "Segundo a Reta Justiça". Vejamos o texto a seguir: "Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça" (Jo 7:24). Julgamento "segundo a aparência" é todo aquele que é proferido de forma precipitada, sem a análise ou consideração de todos os fatos. É o julgamento baseado no "eu acho" e, portanto, reprovável pela palavra de Deus. Em I Samuel 1:12-14, a Bíblia narra que o profeta Eli julgou, segundo a aparência, que Ana estava embriagada por observar que “seus lábios se moviam, mas não se ouvia a sua voz”. Em Atos 2:1-13 a Bíblia narra o primeiro batismo da igreja com o Espírito Santo e, semelhantemente a primeira narrativa, alguns judeus, julgando segundo a aparência, disseram que os discípulos estavam embriagados: "E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto" (v. 13). Uma observação interessante é que nestas passagens bíblicas, o falso julgamento pode ser associado à zombaria. Este é um erro muito comum de se cometer ao julgar sem analisar os fatos, por vezes, na intenção de expor a pessoa ao opróbrio.
Julgar segundo a aparência, fazer piadas depreciando a imagem de alguém, na intenção de gerar zombarias e expor pessoas ao ridículo, é pecado. Não se pode associar tal comportamento com o que se espera de crentes espirituais. No capítulo 5 da carta aos Efésios, Paulo lista a zombaria como um dos seis comportamentos que nem mesmo deve se nomear entre os santos.
O outro tipo de julgamento a que Jesus se refere é o "segundo a reta justiça" (Jo 7:24b). Note que Jesus, ao mesmo tempo em que condena o falso julgamento, “não julgueis segundo a aparência”, recomenda o justo julgamento, “mas julgai segundo a reta justiça”. O que seria, então, "julgar segundo a reta justiça"? Vejamos sempre, o que nos diz a Bíblia Sagrada. Paulo escreve a Timóteo e diz: "Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para... instruir em justiça" (II Tm 3:16). O escritor aos Hebreus, por sua vez, diz que a palavra de Deus "julga os pensamentos e intenções do coração" (Hb 4:12). A palavra de Deus é justiça. Julgar segundo a reta justiça é submeter o nosso julgamento ao que a Bíblia Sagrada diz; é ser fiel ao livro sagrado, mesmo que isso vá contra as nossas intenções e motivações individuais. Por exemplo: A Bíblia nos fala que Jesus veio salvar a humanidade, mas somente aqueles que se arrependem e se convertem podem alcançar esta salvação (Mt 3:2, Mt 4:17, At 3:19, I Pe 2:19). Julgamos, segundo a palavra de Deus, que aqueles que não se arrependerem e se converterem, não serão salvos da condenação eterna.
Com base nesses ensinamentos, extraímos que, apesar de nossas falhas e limitações humanas, a Bíblia deixa claro que devemos sim emitir juízos em algumas situações: “Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Se vocês hão de julgar o mundo, acaso não são capazes de julgar as causas de menor importância?” (1 Co 6.2). Em inúmeras passagens bíblicas, vemos que os apóstolos julgaram pessoas de seu tempo. É, inclusive, impossível cumprir alguns mandamentos sem avaliar as pessoas. Por exemplo, quando Paulo disse: “Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer” (1 Co 5.11), ele está recomendando algo que para obedecer é necessário avaliar a vida do cristão e ver se ele incorre em algum destes erros.
Sim, o cristão pode julgar segunda a reta justiça, mas não se esquecendo de que primeiro, deve retirar a viga de seu próprio olho, então enxergará bem para retirar o cisco do olho de seu irmão (Mt 7. 3-5). E lembremos de que a igreja possui ovelhas mais fracas e devemos ter um compromisso de amor: “Nós que somos fortes na fé devemos ajudar os que são fracos. Devemos ajudá-los nas suas fraquezas.” (Rm 15.1). Então, façamos tudo com sabedoria e amor.
Que este estudo tenha contribuído para esclarecer esse assunto e nos dar uma visão bíblica e equilibrada sobre esta delicada questão que é a de julgar os outros.

No amor de Deus,
Amanda e Welderlan Sales


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