Endereço: rua Nogueira Acioli, 2195 - Joaquim Távora - Fortaleza - CE
Autor: Francisco Heládio Cunha dos Santos
Editora: Moriá Publicações
Páginas: 164
Formato: 14x21 cm
Preço de lançamento: R$ 19,90*
*após o evento das conferências anabatistas (de 24 a 28/11) o preço será de R$ 24,90.
A fé cristã
sempre enfrentou desafios, tanto externos como internos. Um desses desafios que
se apresentou ao longo de sua história e até hoje se faz presente é o
equilíbrio entre a igreja como corpo de Cristo, habitado e vivificado pelo
Espírito Santo e a igreja enquanto instituição. Muitos são os riscos que se
apresentam a igreja quando ela se envereda no caminho de privilegiar apenas um
desses componentes de sua vida, como fica evidente ao lançarmos nosso olhar
para a história eclesiástica.
O momento mais emblemático dessa
relação tensa foi certamente o período em que a igreja geral defrontou-se com o
movimento da Nova Revelação ou Nova Profecia, como se chamavam, ou Montanismo,
nome dado por seus opositores. Entre tantos outros movimentos surgidos no
período pós-apostólico, esse se apresentou como um retorno ao cristianismo
primitivo, dirigido pelo Espírito e baseado nas Escrituras.
Originário da Frígia, na Ásia, o
movimento teve como seu líder inicial Montano, convertido do paganismo à fé cristã
e que, na metade do segundo século, começou a proclamar sua experiência
particular com o Espírito Santo, acompanhado posteriormente por duas mulheres
Priscila (Prisca) e Maximila, que
juntamente com ele afirmavam ser usados pelo Espírito no dom carismático da
profecia.
Com uma teologia que defendia a
prática da glossolalia e do profetismo, o quiliasmo ou o reino milenar em
Jerusalém, a intolerância quanto às inovações doutrinárias e a insubordinação à
hierarquia institucionalizada, o rigor ascético, a proibição do matrímônio e a
fuga dos martírios, foram eles alvo da condenação por parte dos bispos da igreja geral.
Mas o que realmente foi esse
movimento? Fruto do milenarismo asiático
influenciado pelo Apocalipse? Uma tentativa de retorno à Igreja das origens,
sufocada pela organização sistemática?
Um movimento político religioso das igrejas rurais contra as igrejas
urbanas e seus bispos centralizadores ou uma reação do conservadorismo presente
nas regiões rurais contra a modernização, ou helenização, das igrejas urbanas
que vão abandonando a origem carismática?
Buscando uma resposta ao que foi
realmente a Nova Revelação ou Nova Profecia, Francisco Heládio Cunha dos Santos
usa primeiramente a Bíblia como base para analisar o comportamento do movimento,
bem como a sociologia e as fontes históricas disponíveis, tanto contrárias como
as favoráveis a Montano e seus seguidores.
Diante do leitor surge assim um
panorama muito mais vivo e amplo desse momento histórico da igreja cristã, com
sólida base bíblica e teórica: uma igreja que enfrenta um momento de
institucionalização e hierarquização, com a centralização do poder nas mãos dos
bispos com base na sucessão apostólica e tradição oral, vê surgir em seu seio
um movimento que busca viver o cristianismo primitivo, questionando tais
mudanças.
Entre vários méritos da presente
obra, temos o do autor ter escolhido um momento histórico da igreja, em
especial a brasileira, muito apropriado para lançar um novo olhar sobre um
dos mais incompreendidos movimentos da
igreja cristã primitiva.
Diante do quadro hoje presente
no universo evangélico brasileiro, onde vemos desde aqueles que usando como
pálida desculpa uma pseudo direção do Espírito Santo se insurgem contra
qualquer forma de liderança, como aqueles que buscam centralizar o poder e
proíbem ou demonizam as manifestações espirituais, uma das observações feitas
pelo autor é muito pertinente:
A autoridade e o carisma não
poderiam caminhar isolados um do outro. São pré-requisitos para a boa ordem da
comunidade a fim de que vivam em sintonia com os ideais doutrinários e
devocionais. Montano não pareceu um insurgente, mas mostrou-se um crente
restaurador que vivia no contexto da Igreja. Sobre ele ocorreu uma visitação
espiritual com intenções de alcançar os demais cristãos, ainda que eles fossem
nominais e sem a experiência pentecostal. Os bispos não o observaram sobe este
ângulo, antes o viram pelo viés da ameaça e desestabilização do poder. Como
evidenciou-se, os bispos estavam tão afundados no racionalismo e no formalismo
que a Igreja perdeu o vigor e o brilho do Cristianismo dinâmico. (p.105)
A presente obra, rica em seu
conteúdo, revela o profundo conhecimento do autor sobre o Montanismo. Trata-se
de um trabalho objetivo, muito bem documentado e com fontes bem selecionadas;
representa uma grande contribuição tanto para compreendermos melhor a história
passada, como um alerta para avaliarmos o nosso proceder hoje como Igreja do
Senhor.
Esequias
Soares
Jundiaí, SP,
13 de outubro de 2011.