O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Abençoado seja vosso ano novo Israel!

 


Rosh Hashaná

 SÍMBOLOS E COSTUMES DE ROSH HASHANÁ

Mergulhar no mel uma fatia de chalá redonda e uma de maçã; saborear tâmaras, doce de abóbora ou cenouras adocicadas são atos que fazem parte do ritual que precede a refeição festiva, nas noites de Rosh Hashaná. pois é costume, após o kidush, provar vários alimentos simbolicamente selecionados e sobre cada um destes fazer um pedido para o novo ano, ao Todo-Poderoso.



Transmitido de geração em geração, esse costume está baseado em um ensinamento talmúdico e faz parte de vários códigos de leis. Os alimentos, escolhidos tanto por ter um sabor doce como pela conotação sugerida por seu nome em aramaico ou hebraico, devem servir de “bom augúrio” para o ano que se inicia.

Mas, alertam nossos sábios, ainda que estes alimentos despertem, por seu sabor, sensações agradáveis, o essencial é o significado espiritual que têm. Como o importante não é o que se come, mas o porquê, foi instituída uma prece específica ou um pedido para cada um dos mesmos. É esta pequena prece que confere à ação o seu significado espiritual. Assim, antes de ingerir um alimento, nos dirigimos ao Todo-Poderoso e rogamos, de todo coração: “Que seja Tua vontade, Senhor nosso D’us, D’us de nossos pais…” “Yehi Ratzon Milefanêcha, Adonai EloHenu Velo-hê Abotenu“.

Que alimentos são esses? Sua escolha remonta à época talmúdica, mas, no decorrer dos séculos, foram adotados diferentes costumes nos vários países onde os judeus se estabeleceram. Daí a diversidade das tradições entre as diferentes comunidades. Ashquenazitas e sefaraditas têm costumes diferentes, apesar de alguns itens serem comuns a todos. A regra é simples: deve-se seguir o costume de sua casa.

Importância da simbologia

Quando discute a eficácia dos atos simbólicos, o Talmud dá uma indicação de sua importância ao declarar que os reis de Israel devem ser coroados apenas na primavera – para que sua soberania seja contínua, como o fluir dos rios, durante essa estação. Em seguida, ao se referir a Rosh Hashaná, afirma: “Abaye ensina: agora que foi dito que um augúrio tem significado, cada pessoa deve habituar-se a comer, no início do ano, alimentos como abóbora, alho-poró, acelga e tâmaras…”.



A primeira pergunta é qual o motivo para o uso desses símbolos em Rosh Hashaná. Estes presságios servem de lembrete. Ao ingerir alimentos que têm conotações positivas e dirigir pedidos ao Todo-Poderoso, a pessoa se conscientiza que está sendo julgada por seus atos no ano que finda. Sabe que é chegado o momento de tentar aproximar-se de D’us e se arrepender por seus erros.

A segunda é qual a razão para terem sido escolhidos certos alimentos. Variam as opiniões. Segundo Rashi, a simbologia pode ser explicada por dois aspectos: a doçura natural de alguns alimentos, representando um novo ano além de bom, também “doce”; enquanto outros crescem rápido e são abundantes – o que representaria a abundância dos méritos de todo o povo de Israel.

Outros sábios apontam o fato de que é no nome de alguns alimentos que está contida sua simbologia. Há os que fazem referência ao crescimento e à abundância. Estes alimentos simbolizariam a fartura e o aumento das boas ações praticadas por Israel. Outros fazem alusão à eliminação ou à destruição e são usados em referência aos pecados e aos inimigos de Israel – “a todos aqueles que queiram fazer-nos mal”.

Alguns comentaristas afirmam que a expressão “nossos inimigos”, nas preces, não é uma alusão aos inimigos externos, mas sim aos “anjos da acusação” que nos acompanham. Segundo o Talmud, os anjos são criados quando cometemos uma ação. Quando praticamos o bem e obedecemos a Vontade Divina, criamos para nós mesmos um anjo defensor – um sanegor. Mas, toda vez que praticamos uma má ação, transgredindo a Vontade Divina, cria-se um categor – um anjo que nos acusa perante D’us. Portanto, ao pedir a “aniquilação e a erradicação de nossos inimigos”, pedimos a D’us que sejam eliminados todos os inimigos de Israel – os “externos” e os “internos”, os que carregamos em nosso íntimo e nos levam a transgredir. Pedimos também a D’us que anule os decretos negativos e que só boas ações sejam lidas perante Ele.

Alimentos doces

Em Rosh Hashaná, costuma-se consumir apenas bebidas e alimentos adocicados – indicando a esperança de um ano de fartura e doçura. Esta tradição aparece nos textos sagrados. No Livro de Samuel, por exemplo, o rei David e suas tropas enviaram a Nabal o carmelita, a mensagem: “Aqui viemos para o Yom Tov; por favor, dá-nos o que estiver ao teu alcance” (25:8). Segundo Rashi, era véspera de Rosh Hashaná e David não tinha alimentos para a refeição festiva. Embora Nabal tenha recusado o pedido, sua esposa, Abigail, forneceu os víveres, inclusive vinho, uvas e figos secos. Estas frutas adocicadas constituíram as refeições de Rosh Hashaná do rei David e seus homens. Foi também em Rosh Hashaná que Neemias, no capítulo 8:10, dispensou os judeus reunidos em Jerusalém, dizendo-lhes: “Vão, comam alimentos ricos, tomem bebidas doces e mandem um pouco para aqueles que nada prepararam para si mesmos, pois sagrado é este dia para o Senhor“.



O costume de consumir alimentos doces é uma das características mais marcantes das refeições de Rosh Hashaná. O kidush é feito de preferência sobre um vinho doce e, em seguida, molha-se um pedaço de chalá no mel ou no açúcar. Certas comunidades têm o hábito de molhar o pão no mel, ao invés do sal, no período de Rosh Hashaná até o sétimo dia de Sucot. As chalot usadas na festividade também são adocicadas e, diferentemente do feitio de trança geralmente usado no restante do ano, são feitas redondas para simbolizar o ciclo da vida, da continuidade e da eternidade. Feitas sem arestas, simbolizam nosso pedido para um ano sem conflitos. O feitio circular, de coroa, serve também como lembrete da Realeza de D’us, o tema mais importante da data.

Há várias simbologias no ato de se molhar a chalá no mel. Entre elas, a semelhança existente entre a chalot e o maná que alimentou Israel, durante 40 anos no deserto. Qual era o gosto do maná? “Tinha o sabor de massa frita com mel” (Êx 16:31). A própria palavra ´mel´, em hebraico, transmite a esperança na Misericórdia Divina, pois o valor numérico da palavra “dvash” (mel) equivale ao valor de “Av Ha’Rachamim” (Pai Misericordioso). Assim, o mel simboliza a esperança de que a sentença decretada por D’us seja amenizada por Sua infinita compaixão.

É também no mel que, a seguir, molhamos uma fatia de maçã – ou no açúcar, como fazem os judeus orientais, para reforçar os votos para o novo ano. Após agradecer o Todo Poderoso por Sua benevolência, pedimos que Ele nos conceda novamente um ano bom e tão doce quanto o mel.

E por que nossos sábios escolheram a maçã e não outra fruta? Porque esta representa nosso povo e, em várias ocasiões, nos textos sagrados, Israel é comparado a ´uma maçã perfumada´. Esta fruta é também usada como símbolo para representar a Torah. Em textos cabalísticos usa-se frequentemente a expressão “Campo de Maças Sagradas” para descrever a manifestação da Presença Divina. O perfume da maça é uma referência ao perfume do Jardim do Éden e é também associado à bênção que Ia´aqov recebeu de seu pai, Itzhak. Segundo nossos sábios, este fato aconteceu em Rosh Hashaná.

Sefaraditas e ashquenazitas

Segundo o costume sefaradita, os alimentos utilizados nas noites de Rosh Hashaná são tamar (tâmara), rubia (feijão de corda), carti (alho-poró), silcá (acelga), cará (abóbora), rimon (romã), tapuach (maçã), mel e rosh keves (cabeça de carneiro). Entre os ashkenazitas é costume usar tapuach (maçã), mel, guezer (cenouras), keruv (repolho), dag (peixe), rimon (romã) e rosh dag (cabeça de peixe).

Ao se analisar a raiz hebraica ou aramaica dos nomes dos alimentos que, ao longo dos anos, foram integrados ao ritual, conseguimos entender o significado das bênçãos e sua ligação com a história judaica. Sobre certos alimentos, invocamos a D’us pelo “aumento” de nossos méritos e nossas virtudes. Este é o pedido feito quando ingerimos, por exemplo, feijão de corda – em hebraico, rubia. O nome hebraico provém do radical rava‘aumentar’. Na realidade, o uso de algum alimento que aluda ao termo “aumentar” não se limita às espécies mencionadas no Talmud ou ao seu nome em hebraico. Pode ser utilizado, também, algum alimento cujo nome lembre este termo, no idioma local usado pelos judeus, em uma determinada região. Por isso, muitas comunidades que falavam ídiche passaram a usar cenouras no lugar de rubia – planta comum no Oriente Médio, mas não na Europa. Cenoura, em ídiche, é mehren. Esta palavra significa também “aumentar” ou ” multiplicar”. De forma similar, a palavra alemã para cenoura é mohrube, muito semelhante às palavras mehr – ‘mais’ – e rubia.

Ao ingerir peixe, os ashquenazitas pedem a D’us que possam “multiplicar-se como os peixes”. O costume também é interpretado como uma proteção contra o mau-olhado. Ensina o Talmud que o mau-olhado não tem poder sobre aquilo que está escondido dos olhos e, como os peixes vivem dentro d’água, o mau-olhado não os pode afetar. Já a romã serve para invocar o aumento de nossos méritos, para que nos tornemos repletos de boas ações, como a profusão de sementes dessa fruta. A simbologia, neste caso, é simples, pois a romã possui 613 grãos – o número das mitzvot da Torah.

Com os outros alimentos, pedimos a D’us que nos afaste de tudo aquilo que nos faz mal ou leva a fazê-lo. Assim, comemos tâmaras, cujo nome tamar lembra o radical tam – “exterminar”.

E pedimos que sejam exterminados todos os nossos inimigos e aqueles que nos queiram fazer mal. Em aramaico, alho-poró é cartie e, em hebraico, carat, que também significa ‘eliminar’.

Assim, ao comer o alho-poró, pedimos a D’us que elimine nossos inimigos. Com a silcá, acelga, cuja palavra vem da raiz silec, ‘afastar’, pedimos que sejam afastados aqueles que querem o nosso mal. Entre os alimentos doces, os sefaraditas costumam comer um doce feito de abóbora, em hebraico, cara, termo que nos remete à palavra cará, ‘anular’. Ao comê-lo, pedimos que nesse dia de julgamento sejam anulados os maus decretos e apenas os nossos méritos sejam lidos perante D’us.

Finalmente o último pedido: ao comer alguma parte da cabeça de um animal ou peixe pedimos para ser bem-sucedidos, colocados “na cabeça e não na cauda”. Mas por que há uma aparente redundância nas palavras? Para lembrar Israel a não ser subserviente a nenhum outro poder – a não ser a D’us. Para este pedido, costuma-se usar uma parte da cabeça do carneiro. Assim, D’us se recordará, para o nosso bem, o mérito do sacrifício de Yitzhak – que, à última hora, foi substituído por um carneiro.

Outros costumes

Em algumas comunidades costuma-se comer uma fruta nova da estação na segunda noite de Rosh Hashaná, para justificar a bênção de Shehecheianu que fazemos sempre que temos prazer com coisas novas.



Com o tempo, foram adotados vários outros costumes específicos, inspirados nos nomes de certos alimentos. Os judeus da Ucrânia, por exemplo, costumavam dar aos filhos, em Rosh Hashaná, fígado de galinha. Isto porque em ídiche, fígado é leberlach um homófono da palavra leb ehrlic – ‘viver honestamente‘. Há os que não comem nozes nesta festividade, porque a soma das letras da palavra egoz (noz) tem o mesmo valor numérico do que chet, o termo hebraico para ‘pecado’.

Alguns grupos assam a chalá em feitio de espiral como um lembrete de que D’us decidirá quem subirá e quem descerá os degraus da vida. Um costume menos conhecido é o de fazer a chalá no formato de um pássaro, como está descrito em Isaías (31:5): “Como pássaros flutuando, assim o IHVH protegerá Jerusalém”. Enquanto em certos lares sefaraditas, oriundos de países do Mediterrâneo e do Oriente Médio, é comum começar a refeição festiva com um peixe inteiro – como expressão do desejo de prosperidade, fertilidade e boa sorte no ano vindouro – há judeus marroquinos que não comem peixe em Rosh Hashaná. Segundo esta tradição, o peixe deve ser evitado pois em hebraico a palavra para peixe é Dag e lembraria a palavra D’agá, que significa ´preocupação´.

Independentemente do costume adotado em cada comunidade, nós, assim como todas as gerações que nos precederam, continuaremos invocando, também neste Rosh Hashaná, a Bênção Divina sobre o povo de Israel. Que seja para todos um ano bom e doce!

Bibliografia:

“Rosh Hashanah, Its significance, laws and prayers, a presentation anthologized from Talmudic and traditional sources”, The ArtScroll Mesorah Series, Mesorah Publications

“Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sucot”, compilados por Rabino Isaac Dishi, edição Congregação Mekor Haim.

fonte: https://shemaysrael.com/simbolos-e-costumes-de-rosh-hashana/

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Nosso trabalho foi em vão?

 

Uma das promessas mais impressionantes nas Escrituras é que “o vosso trabalho no Senhor não é em vão” (I Coríntios 15:58). Esse termo “trabalho no Senhor” significa muito mais do que as tarefas “espirituais” de evangelismo e oração; vão muito além.

Isso parece incrível, mas às vezes pode ser difícil ver como. É reconfortante para nós que até mesmo o grande apóstolo Paulo duvidou da significância de sua obra. Em I Tessalonicenses 3:5, ele admitiu: “Eu temia que… nossos labores pudessem ter sido em vão.” E ainda assim ele escreveu I Coríntios 15:58 assegurando a si mesmo e a seus leitores da promessa de Deus. Paulo também reclamou dos gálatas (Gl 4:11). Teria sido o seu trabalho pastoral na Galácia em vão? O que estava em causa? Aconteceu que os gálatas estavam em uma ação reversa da sua história. Utilizando-se do seu exemplo, Paulo libertou-se do farisaísmo para o cristianismo, demonstrando um testemunho prevalecente. Mas alguns gálatas estavam retornando do cristianismo para a mentalidade legalista judaica, que coisa?

Veja, este é um ato de fé. Mesmo quando não conseguimos ver como, confiamos que Deus usará tudo o que fizermos por ele, mesmo que seja algo aparentemente insignificante. Tenhamos fé nessa promessa hoje, crente. Deleite-se no conhecimento de que tudo o que fizermos “para o Senhor” reverberará por toda a eternidade, mesmo que crentes e Igrejas nos decepcionem e tentem desabonar todo o serviço prestado a eles!


terça-feira, 10 de setembro de 2024

Princípios bíblicos e a anticoncepção

Métodos sobre o controle de natalidade podem ser um assunto controverso entre muitos cristãos, mas, lembremo-nos, antes de qualquer controvérsia deve prevalecer a resposta objetiva da Bíblia Sagrada. Essa controvérsia surge em razão de alguns dizerem que a Bíblia não traz abordagens específicas sobre as formas permanentes e modernas de impedimento da concepção natural, como laqueadura ou vasectomia, sendo desnecessário o debate porque a deliberação sobre o assunto seria de livre aceitação quanto a intervenção humana ou não. Todavia, como outros, não compactuamos com o referido argumento. Antes, acreditamos existir obviedade na questão de a Bíblia não ser específica e procuramos ensinar a fé em Deus e confiança em seus propósitos para reger essa situação. Tais procedimentos eram inconcebíveis nos tempos da Igreja Primitiva e na Antiguidade. Pensá-los e ensinar contra eles no contexto bíblico, então, seria impróprio e extemporâneo. Contudo, o Santo Espírito inspirou coerentemente os escritores do cânon revelando princípios bíblicos poderosos capazes de revelar o perfeito entendimento os quais devem reger nosso entendimento, coração e ação quanto a preservação da virtude cristã e da fé ante a mutilação ou impedimento do corpo. Citaremos apenas dois.

Devemos reconhecer, primeiramente, que os filhos são um presente de Deus (Salmo 127:3-5). Os filhos não são fardos para carregar, mas bênçãos para receber com alegria. De uma perspectiva bíblica, todo casal deve querer ter filhos. A incapacidade de ter filhos, por outro lado, era considerada uma maldição, mas poderia ser remediada pela providência divina, enquanto a capacidade de conceber uma bênção. Lembremo-nos bem dessas afirmações porque o fato de Deus intervir em mulheres estéreis para fins de concepção demostra a grande contrariedade divina quanto ao impedimento de tê-los.

Outro ponto, o útero é frequentemente referenciado na Bíblia como um espaço sagrado e significativo, frequentemente descrito como estando sob a alçada da vontade de Deus. As gestações intervencionais (Sara, Raquel, Ana e Isabel) e a milagrosa (Maria) enfatizam a percepção do parto como entrelaçado com o propósito divino. A Bíblia afirma repetidamente que a conjugação da santidade de vida e a orquestração divina da concepção e do nascimento propicia a realização dos propósitos de Deus e não dos nossos. Dada essas informações, alguém poderia argumentar que qualquer intervenção para privar a concepção por meio de métodos que incapacitam o corpo, como a laqueadura e vasectomia, pode parecer interferir no plano de Deus para uma nova vida em potencial. Disto não temos dúvida, pois qualquer interferência humana no corpo ocasiona a inviabilidade da ação programada naturalmente e providencialmente preparada para um dos mais belos atos da vida: a chegada de mais um ser humano ao mundo.

Se cristãos evangélicos pensam que podem agir administrando o propósito divino como se donos dele fossem, vai um grande exemplo do catolicismo romano para eles. Muito embora tenhamos muitas divergências doutrinárias com o catolicismo porque seus dogmas prejudicam a salvação, no supracitado quesito, dão uma aula de fé e honra aos princípios bíblicos. Vejamos um pequeno trecho abordando a questão das consequências espirituais e do arrependimento moral:

Pois bem: a vasectomia e a laqueadura violam diretamente a primeira finalidade do matrimônio, já que alteram o funcionamento do sistema reprodutivo para que o indivíduo continue tendo relações sexuais, mas seja incapaz de gerar filhos. Isso é um pecado mortal, sim; mas não apenas porque “a Igreja disse que é”. Trata-se, como vimos, de uma conduta frontalmente contrária à hierarquia de valores do matrimônio.

— Quem cometeu esse pecado e se arrependeu, deve mesmo procurar a reversão do procedimento? De onde surge esse dever?

Sim, quando alguém se arrepende, tem o dever moral de procurar a reversão dessas operações, dever este que decorre da própria natureza do verdadeiro arrependimento: assim como o ladrão arrependido tem o dever moral de restituir a coisa roubada, quem fez vasectomia ou laqueadura tem o dever de, ao menos, procurar a reversão.[1]

Concluindo, vimos apenas dois princípios bíblicos porque julgamos suficientes para nos lembrar dos métodos anticonceptivos como fugas da vontade e dos propósitos divinos. Entender sua prática como uma liberdade opcional e circunstancial fere a firme convicção de dependência em Deus e da guarda de sua Palavra. Ora, se tantos outros (católicos, pessoas comuns e sem religião) acreditam na exaltação da concepção natural quanto mais se espera de cristãos que falam em nome do Criador da vida. Seria vergonhoso se não agissem nem pensassem assim.

 

Pr. Heládio Santos     



[1] https://padrepauloricardo.org/blog/esta-verdade-cai-como-uma-bomba-nas-familias

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Grupo de Estudos - GEPMOR

Há muito desejávamos um grupo de estudos que aprofundasse a discussão sobre a História da Igreja cristã, principalmente, focando aqueles movimentos denominados reacionários cujas ações criaram cismas na Igreja. Não entenda, entretanto, reacionário do ponto de vista ideológico, político ou revolucionário, mas como pensamento de restauração pelo qual comunidades sentiram a urgente necessidade de retornar aos padrões da Igreja Primitiva em contraponto aos desvios e às severas mudanças pelas quais passava a Igreja majoritária de seu tempo.



O movimento reacionário no contexto cristão por parte de comunidades menores caracterizou-se pela sua reação de não aceitação às invencionices religiosas praticadas e ensinadas por agentes superiores hierarquicamente da Igreja geral. Muito embora sua argumentação partisse das Escrituras, não eram reputados como seus intérpretes legítimos porque estavam no estrato da laicidade. Contudo, o sentido intelectual e prático desse reacionarismo de determinados grupos visava apenas a conservação dos valores neotestamentários porque estavam sob forte ataque da Igreja em franco caminho de institucionalização ou já institucionalizada. É, portanto, uma abordagem centrada na contrariedade ante os processos de inovação de uma Igreja cristã que não percebia seus erros, mas que era inquietada por aqueles que percebiam a mudança dos seus rumos e como tentativa de solucionar o problema procuraram colocar freios na situação “ladeira a baixo”.



Esses reacionários receberam designações diversas. Às vezes, ganhavam uma nomenclatura associada aos líderes; outras, em referência aos lugares onde estavam; semelhantemente, pelas práticas batismais e, talvez, a razão mais consistente seria pela abordagem pura das doutrinas, gerando convicções pautadas nas Escrituras Sagradas, mas não entendida desta forma pelos seus opositores que em tom de ironia os designavam.

            Consiste, deste modo, num grande desafio tomar documentos históricos, analisá-los e propor um conhecimento que esteja de acordo com as perspectivas daqueles cristãos que muitas vezes foram/são chamados de hereges, amiúde, equivocadamente. O simples fato de assim nomeá-los criou um grande obstáculo ou uma densa bruma para alguns pesquisadores, estudiosos ou leigos que queiram saber mais sobre o assunto porque já são introduzidos no contexto de forma enviesado e eivado pela falsa interpretação. Outrossim, o título pejorativo dado pelos muitos religiosos incomodados com as pregações e ensinos dos reacionários cristãos revelou também um desgosto pela crítica indireta à sua hipocrisia religiosa recheada de pomposidade e deleites mundanos por parte de homens e mulheres comuns não institucionalizados nem hierarquizados. Por certo, um tema bastante interessante para dialogarmos com a História.



            Não obstante, um pequeno grupo da Igreja Batista Renovada Moriá, Fortaleza (CE), vem reunindo-se mensalmente com sede de conhecer mais da História da Igreja para poder transmitir informações honestas sobre cada movimento. Não será, no entanto, um trabalho rápido e ágil, pois uma pesquisa desta envergadura dura anos e perpetuasse. O trabalho tem consistido em análises pontuais e progressivas dos anais históricos e de autores nacionais e estrangeiros, bem como na tradução dos tratados originais em latim, outros em inglês, espanhol e francês e sua contextualização. A pretensão para a entrega de resultados está programada para os eventos da Igreja cujos temas tenha igual abordagem, assim como a produção textual para publicação a partir do próximo ano.







terça-feira, 27 de agosto de 2024

E o coelho branco, o que significa?

 


A metáfora do coelho no livro “Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, é muito interessante para podermos aplicá-la tanto para buscarmos a compreensão do mundo e dos indivíduos nele inseridos, como a de nós mesmos. Vejamos o texto:

Resumindo: um coelho branco é retirado de uma cartola. Como é um coelho enorme, esse truque leva bilhões de anos para acontecer. Na ponta dos pelinhos nascem todas as crianças. E como elas se encantam com esse truque de mágica! Mas, à medida que envelhecem, elas vão afundando lentamente para a base dos pelos do coelho. E por lá ficam. Tão confortáveis que jamais ousarão subir de volta para a ponta dos pelos. Somente os filósofos ousam retomar essa jornada perigosa rumo à fronteira da linguagem e da existência.

Alguns deles escorregam e despencam no caminho, mas outros se agarram bem aos pelos do coelho e lá do alto gritam para serem ouvidos pelos que ficaram ali embaixo, acomodados na pelagem macia do coelho, refestelando-se com boa comida e bebida.

— Senhoras e senhores — gritam eles —, estamos flutuando pelo espaço!

Mas ninguém ali presta atenção no que gritam os filósofos.

— Puxa, mas que gente mais barulhenta! — dizem.

E seguem conversando como antes: será que você poderia me passar a manteiga? Qual é o saldo da poupança que temos no banco hoje? Quanto está o quilo do tomate? Você viu que a Lady Di vai ter mais um bebê?

 

Segundo leitores, a referida metáfora se encontra como uma das mais utilizadas do livro para exercícios e reflexões sobre a vida. Focada também sob o ponto de vista alegórico, Gaarder faz alusão sobre a necessidade de se escalar o conhecimento para alcançar a positividade de um pensamento crítico.

A figura do coelho, para darmos algumas pinceladas em seu significado, serviu como meio para ilustrar a comodidade da vida na qual os sujeitos do mundo ficam absorvidos nesse mundinho e vivem sem perceber onde sua potencialidade pode chegar, ocasionando uma inversão de rumo, pois a falta de reflexões e questionamentos, começando pelos fundamentais até os mais complexos, os faz desviar ilusoriamente.

A pretensão seria uma provocação aos leitores para que desenvolverem pensamentos instigantes que mantenham o entusiasmo pela vida, assim como provavelmente tinham na mais tenra infância.

Essa leitura é também um bom exercício para podermos desenvolver não só nosso intelecto inato, mas também a vida espiritual instaurada em nosso espírito que ora pode ter sido esquecida em virtude de tantas agruras da vida ou outros empecilhos mil. Como cristãos, temos o poder de conhecer e saber o que foi, o que é e o que será. O exame escriturístico comungado com a vida piedosa diante do altar divino conjugam a maneira ideal de sermos não um filósofo, segundo a proposta da obra, mas porta-vozes da verdade ensinada pelo mestre e salvador Jesus. Não percamos mais tempo.