Às
vésperas das eleições para prefeito e vereadores de 2012, grandes manifestações
são vistas pelas ruas da capital alencarina e pelos meios midiáticos. A
intensificação das panfletagens, dos grupos de bandeirantes nas esquinas deixando
as insígnias partidárias tremularem ao vento, das propagandas com propostas incríveis,
dos debates televisivos com alguns dos candidatos, que não têm mais ideologias
partidárias, e de longas carreatas de “vitória” acontece neste momento
decisivo.
O que mais nos chama a atenção não é
essa expressão política típica de quem espera algo de bom nesta vida, mas o que
nas entrelinhas está passando despercebido do grande público. Uma delas é o
misto de política e religião. Por exemplo, o candidato petista à prefeitura de
Fortaleza faz menção a sua atividade religiosa e católica desde a época de sua
juventude. Tentativa essa de mostrar alguma moral cristã em meio às propostas
por ele defendidas. Há pouco tempo, se essa proposta fosse apresentada no
partido, certamente, seria menosprezada, uma vez que, antigamente, o PT tinha
uma visão marxista, ou seja, cética. Portanto, um paradoxo para quem defendeu o
socialismo como meio de governar.
Outra
observação importante que gostaríamos de fazer é o apoio ao PT de Igrejas e de
membros de alguns movimentos evangélicos à candidatura a prefeito de Fortaleza.
A nosso ver, uma grande contradição. Muitos evangélicos se uniram à campanha
petista, mas não levaram em consideração suas propostas que desentoam dos
ideais cristãos. O PT, talvez por uma visão nietzschiana (também de Sartre e de
Foucault), aderiu aos anseios do movimento homossexual de legalização do
casamento e de outros favorecimentos civis dessa união. Na visão evangélica, essas
propostas são um agravo à moral e à conduta digna. Unir pessoas do mesmo sexo não
é bíblico, dizem. Além disso, o governo petista da presidente Dilma permitiu, liberando
verba, a confecção de uma cartilha nas quais crianças seriam induzidas a
práticas homossexuais na idade da inocência. A prefeita Luiziane Lins,
inclusive, se manifestou muito favorável, em diversas entrevistas, a semelhantes
medidas. Essas cartilhas não foram distribuídas por força das objeções, mas,
segundo informações de sites, estão impressas e aguardando, quem sabe, um governo
hegemônico petista ou de conchaves partidários para serem distribuídas nas
escolas públicas. Para demonstrarmos a tensão corrente entre esses polos, basta
nos lembrarmos das manifestações do pastor Silas Malafaia, em Brasília, contra
o projeto de lei 122/2006, as diversas rejeições da bancada evangélica na
câmara federal em votá-la e as reações dos grupos GLS.
Segundo
alguns estudiosos, a prática homossexual é uma prática hedonista, mas figura
como uma evolução social. Infelizmente, não percebem o contrassenso que estão proferindo.
Não discernem que tal conduta não é pró-criativa. Se não é pró-criativa, não é lógica,
pois o lógico é a união capaz de conceber e procriar. Para classificação de
família, a lógica autêntica provém da união entre homem e mulher. A única forma
de proliferação da espécie (tal qual ensina a Bíblia e também entendeu Platão,
filósofo grego). Na verdade, o conflito gira em torno do ideal cristalizado de
família que querem alterar. Porém, não é à toa que temos a Bíblia. A Carta
Magna de 1988, a Constituição Cidadã, trouxe muito do entendimento bíblico que
preza pelo valor e imutabilidade da família. Infelizmente, foi interpretada de
forma diferente pelo STF. É necessário entendermos que o cidadão necessita de
um padrão para poder viver num estado de direito, pois sem esse o homem não poderia
viver e desfrutar da tal liberdade. A liberdade tem limites e deverá ser
cuidadosamente explorada. Hoje, com a união estável entre pessoas do mesmo sexo,
valores foram ultrajados e superados sem o menor discernimento. Em outros
tempos, isso seria entendido como a superação da liberdade pela libertinagem. A
liberdade, porém, é um conceito simples de ser tratado, mas está sendo discutido
na academia como algo de grande complexidade, pois o objetivo é promovê-la como
algo estritamente relativa. Assim, aqueles valores são tornados obsoletos, mas lembramos-vos
que foram esses valores que sustentaram a humanidade até hoje. Porém, da forma
como andam as diretrizes partidárias, amanhã outras questões virão à tona, como
o caso da maconha. Ela poderá ser liberada e os filhos de quem permitiu essa
liberação estarão morrendo de overdose. Depois aceitarão a pedofilia e os
filhos dos filhos de quem liberou estarão nesta prática etc. Essa liberdade
preconizada pelo governo petista é permissiva, tende a derrocar os pilares,
apesar de limitados, que alcançamos. Uma mudança desse paradigma seria
coerente.
Agora, fico a pensar na situação daqueles
evangélicos que apoiam a candidatura petista. Por esse ter um governo
permissivo e sem a moral cristã, hoje apoiam as questões supracitadas; amanhã,
na levada do vento, outras cujas práticas também serão contra a moral cristã,
enfim, distanciarão o sujeito envolvido da visão bíblica. Mas, o que está
realmente se passando pelas mentes evangélicas desses apoiadores? Não têm a
visão cristã preceituada nas Escrituras? Perderam o fundamento doutrinário da
legítima fé? Ou será que são devedores de favores a políticos que os colocaram
em função pública por “debaixo dos panos”, para que, em tempos de eleições, fossem
cobrados apoio e agrupamento de pessoas para votarem no candidato da legenda?
Se essa última hipótese se confirma, sabemos que a história se repete mais uma
vez. Se verificarmos a folha de pagamento do pessoal de cargo em comissão (veja
nos sites de órgãos públicos o “Acesso a informação”) ficaremos espantados. Veremos
indivíduos que ganham muito bem as nossas custas, não trabalham o suficiente
para justificarem os salários e fazem um trabalho antidemocrático, pois
trabalham para perpetuar o governo que está no poder, possivelmente, em vistas
de garantirem mais quatro anos de trabalhos fáceis e de ganho certo. Não seria
balela dizer que alguns setores dos órgãos públicos municipais parecem estar
mal-assombrados. Isso é seria resultado das intervenções de alguns agentes políticos
que se aproveitam do poder que tem e agem na máquina pública para beneficiarem
a si e os seus partidários às nossas custas? Quem não conhece pessoas nessa
situação? Na semana passada saiu uma notícia em jornal local fazendo menção a
situações como essa. Agentes políticos extrapolam em suas funções tendo como
cúmplices os apadrinhados, inclusive alguns que se intitulam evangélicos. Fico
indignado e revoltado ao ver pessoas que professam a mesma fé que professo e
estão se vendendo para angariarem posição dentro do funcionalismo público à
custa da desonestidade, do jeitinho brasileiro e mau-caratismo. Para DaMatta, isto é um ato de malandragem
típico do ser brasileiro, viciado pela conduta da esperteza e pela cultura do “se
dar bem” . Ele mesmo diz:
A malandragem,
assim, não é simplesmente uma singularidade inconsequente de todos nós,
brasileiros. Ou uma revelação de cinismo e gosto pelo grosseiro e pelo
desonesto. É muito mais que isso. De fato, trata-se mesmo de um modo – jeito ou
estilo – profundamente original e brasileiro de viver, e às vezes sobreviver,
num sistema em que a casa nem sempre fala com a rua e as leis formais da vida
pública nada têm a ver com as boas regras da moralidade costumeira que governam
a nossa honra, o respeito e, sobretudo, a lealdade que devemos aos amigos, aos
parentes e aos compadres. (DaMatta, Roberto. O que faz o brasil Brasil? Editora
Rocco: Rio de Janeiro, 1984, pg. 104-105).
Ser
brasileiro, na análise de DaMatta, é ser alguém que não está preocupado com os parâmetros
das leis e insurge-se contra esse sistema. Um evangélico que se porta tal qual o
brasileiro de DaMatta, presta-se ao prejuízo moral que não é nada proveitoso
para o Reino de Deus, identificando-se, assim, com a corrupção. O crente deve
ser exemplo, luz e sal para este mundo. Pessoas que se dizem cristãs e
permitiram-se entrar no serviço público por favores de políticos são tão
desonestos como foram aqueles, e não merecem respeito, antes censura e
disciplina por terem alcançado um status
social de forma incomum, pois, além disso, afrontaram ao trabalhador honesto e à
sociedade. Portanto, se algum cristão quer entrar no serviço público faça-o com
honra e dignidade: estude para passar em concurso público e não aceite os
favores de políticos desonestos que abrem as portas das instituições do
munícipio como se fosse um lugar em que qualquer pessoa poderia entrar e
trabalhar. Eles não fazem o mesmo com as portas de suas casas, pois para eles,
as instituições públicas não têm dono. Porém, gostaríamos de dizer que há donos
que precisam se identificar enquanto tais para inibir a corrupção e a política
dos favores.
Apesar
de acreditarmos que a política em si desentoa do ideal cristão desde sua
instituição, oro para que Deus nos dê um governo sério cujo objetivo seja
conservar os valores morais, principalmente os da família, já que isso é uma das
poucas intervenções que um cristão deve fazer: Admonesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações,
intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos
os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em
toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus
nosso Salvador (I Tm 2:1-3). Entendemos que a visão cristã não preza pelas
ideologias deste mundo, mas pela verdade do Reino de Deus e dos céus. Unir
Igreja e estado (política) sempre foi um problema e sempre será, porquanto seus
ideais são antagônicos. No cristianismo encontramos uma moral autêntica que
inclusive preza pela decência, pela moral, pelo pacifismo e tem poder de
transformar uma sociedade e elevá-la ao equilíbrio tão desejado.