Desde a
Antiguidade existe uma busca pela compreensão daquilo que é chamado de belo. A
preocupação estética surgiu na Grécia antiga estudando a manifestação da beleza
natural e da artística. Platão afirmava que o belo era uma manifestação do bem
e da perfeição, mas também do que era verdadeiro. Na Modernidade, a maioria das
culturas sempre esteve em constante ebulição para encontrar o caminho da multiplicidade
do belo. Inclusive, o indivíduo foi transformado em objeto de beleza através de
inúmeras invenções indo para além da arte. Isso fez com que valores referentes emergissem
enquanto outros sucumbissem como forma de reorganização de determinados
conceitos estéticos. As mudanças ocorridas fizeram com que a aceitação ao
estado de naturalidade fisionômica do indivíduo entrasse em declínio. Com as
tendências da moda mundana, a busca pela perfeição estética no indivíduo “cristão”
aparece dinamizado e avassalador ao ponto de converter a modéstia e a
simplicidade da aparência outorgada pelas Escrituras a um hedonismo relativista
a que muitos adeptos do evangelicalismo contemporâneo aderiram, principalmente,
as mulheres supostamente cristãs.
As mulheres cristãs têm na
Bíblia referenciais específicos de conduta para si que lhes servem de
inspiração de vida. Algo que vai muito mais além do que mero estereótipo. As
virtudes cristãs transformam o crente em alguém agradável no qual não se
pretende enxergar o aformoseamento segundo um padrão instituído socialmente. Para
compreendermos como a conduta influencia a aparência, recorramos às características
seguintes de algumas personalidades bíblicas: a submissão de Sara a Abraão, a
fidelidade de Rute a Jeová e a Noemi, o quebrantamento de Ana, o vigor de
Prisca, a convicção de Loide e Eunice (I Tm 1:5) são exemplos para os quais as
servas de Deus devem atentar. Aquelas mulheres santas desprenderam-se dos
valores terrenos para buscarem uma comunhão efetiva com Deus. Este envolvimento
teve como efeito obras de piedade. A piedade, conquistada através da renúncia
da efemeridade, fez com que o exterior refletisse a simplicidade natural criada
por Deus. Através de um espírito devotado, o interior sentiu a satisfação na
vontade de Deus, assim como o comportamento exterior foi também contagiado.
Ora,
há um entendimento bíblico de que muitos dos valores da vida são passageiros e
pecaminosos, como o traje sensual e dispendioso e os atavios, não tendo, desta
forma, qualquer relação com a genuína espiritualidade cristã. Entretanto, no
liberalismo evangélico há um apego às vaidades femininas sem o menor rigor. Contudo,
Paulo admoesta às mulheres cristãs: Quero
também que as mulheres, em traje honesto, se ataviem com modéstia e sobriedade
e não com tranças, ouro, pérolas ou vestidos custosos; mas (como convém a
mulheres que se dizem piedosas) com boas obras (I Tm 2:9-10). As vestes,
como Paulo ensina, se referem a um traje bem arrumado, moderado e com reservas
femininas à sensualidade. Propõe o apóstolo, ainda, uma repugnância à roupa
indecorosa e aos adornos os quais causam desonra à causa do ser cristã. De
acordo com Filo (teólogo que buscou harmonizar a teologia judaica
com a filosofia grega),
a utilização de atavios e pinturas equiparariam as mulheres praticantes dessa
moda a prostitutas. Ao que deduzimos o querer de algumas “cristãs” que esbanjam
da estética artificial, demonstrando também que não têm nenhuma espiritualidade,
antes querem chamar para si a atenção cobiçosa masculina.
São
essas mulheres que enchem os salões de beleza para fomentarem as vaidades e
esvaziam os cultos de oração, promovem encontrões de fins de semana para
passear enquanto almas clamam pelos pregadores do Evangelho. São mulheres reduzidas
ao efêmero que, comparando-se aos padrões de beleza mundanos, sentem-se
desprestigiadas em razão de sua aparência, algo que nas suas conversas de
vaidades tentam contornar apontando para remediações plásticas e artificiais (que
são carnais numa linguagem bíblica), tentando reinventar a maneira de ser
evangélica com modas e incrementos a sua fisionomia para uma adequação mundana.
A
mulher piedosa, entretanto, guarda-se desses males capazes de denegrir sua
imagem enquanto cristã, mas a não piedosa não tem esse domínio; ou porque não
entendeu os ensinos cristãos ou porque rejeitou o conveniente e o compatível
para a fé. Essa evangélica moderna pratica obras pelos caminhos da ilusão, por
isso o pedantismo delas impera: buscam a artificialidade da aparência,
utilizando-se, por exemplo, de estiramentos da cabeleira, maquiagens faciais, uso
de adornos nas orelhas, narizes e lábios, e até uso de tatuagens com uma suposta
insígnia cristã. Mas duas colocações devem ser feitas: elas se esqueceram do
zelo pelos fundamentos da fé cristã e enveredaram pelo caminho mundano da
estética. Portanto, se estão descaracterizadas em relação ao paradigma cristão,
será que elas podem ser consideradas cristãs?
A
moda efervescente do momento é alisar cabelos ou pintá-los, desrespeitando,
então, o natural, aquilo que o Artista divino criou, conforme dizia Tertuliano (De cultu feminarum). Muitas cristãs têm
cedido ao marketing midiático que proclama a novidade, num processo de
massificação imperceptível a essas virgens imprudentes. Com isso, estão desonrando
a feitura de Deus. Desponta assim um sentimento medíocre de querer fazer uma
autovalorização de si pelos caminhos tortuosos da ilusão. Não valorizam sua
naturalidade porque se incomodam pela aparência concedida por Deus. Fazem-nos
pensar o seguinte: indiretamente, dizem a Deus, “por que me fizeste assim com
aparência desprovida de beleza? Inquieta estou, por isso, mudarei o que sou,
ainda que tenhas dito ser eu uma criatura feita dentro da Tua vontade, porque
acho que a tua criação em mim, ó
Deus, não alcançou o padrão de beleza que eu
desejava para mim”. Estão, assim,
lutando com Deus pelo supérfluo. Porém, não é por esse caminho que devem
seguir. A Escritura, contrariamente, valoriza o eu natural, como o exemplo a seguir indica: A sua cabeça é como o ouro mais apurado, as suas guedelhas são crespas
e pretas como o corvo (Cântico 5:11). A jovem sulamita cortejou seu esposo
realçando sua beleza natural. Ela olhou as guedelhas dele, mas não se incomodou
se eram cabelos desgrenhados(despenteados), nem muito menos se eram encrespados.
Isso é o sinal de valorização da identidade natural. O que importa é resgatar o
amor pelo que a pessoa do esposo é. Como se não bastasse, chama seu esposo de
cândido, o puro e imaculado, aquele que não foi tocado pelo perfeccionismo
estético da vaidade artificial.
Outra
questão em causa é a ânsia de querer parar o tempo, conservar-se sempre jovem e
não permitir que as marcas dos anos deixem suas cicatrizes. Essas cristãs
vaidosas não querem envelhecer (têm vergonha ou sentem uma baixa estima
terrível pela velhice). Contudo, passar e chegar aos áureos tempos da
experiência deveria voltar a ser honrado. Aos velhos, sua beleza está nas cãs
(Provérbios 20:29b). Seus cabelos brancos (cãs) não devem ser escondidos,
porque coroam uma vida de experiências capaz de transmitir a justiça. Salomão expressou
com sabedoria este patamar da vida: Coroa
de glória são as cãs, a qual se achará o caminho da justiça (Provérbios
16:31). Dentre os Hebreus, os cabelos brancos representavam a majestade divina,
porque assim estava caracterizado o Senhor (Daniel 7:10, Apocalipse 1:14). Era também
a aspiração de Davi alcançar a velhice e demonstrá-la para poder orientar a
geração subsequente: Ó Deus, tu me tens
ensinado desde a minha mocidade; e até agora tenho declarado as tuas
maravilhas. Até à velhice e às cãs, ó Deus, não me desampares;
até que eu tenha declarado a tua força à geração vindoura (Salmos 71:17-18).
Por isso, é dever do cristão valorizar seus honrados cabelos brancos. Até mesmo
os jovens que já têm uma mecha desse prêmio da vida devem tratá-los com
simpatia, porque refletem o degrau da vida que alcançaram. Alterar esse
sentimento é desprestigiar a si, aos que são rebentos e, principalmente, é
desonrar aquele que, com perfeição, definiu pormenorizadamente nosso ente humano:
noutras palavras, é pecar contra Deus!
Retornando a questão das
mulheres, em termos gerais, está difícil encontrarmos uma evangélica pura em
nossos dias. É mais fácil encontrarmos muitas religiosas emproadas desprezando
a moral cristã. A ética cristã não é restrita aos conceitos neotestamentários,
encontra-se respaldada desde a Criação porque é proveniente de um Deus moral
que não muda, nem inova. Isaías, o profeta messiânico, adverte veementemente
aquelas religiosas altivas, pois diz: Porque
as filhas de Sião são altivas, e andam com o pescoço emproado... e passeiam
andando a passos contados e fazendo tinir os ornamentos dos seus pés, portanto
Jeová tornará caspenta a mioleira da cabeça das filhas de Sião e
descobrir-lhes-á a nudez. Naquele dia, tirará Jeová o enfeite de anéis dos
artelhos, e das coifas, e das luetas; os pendentes e os braceletes, e os véus
leves; os diademas... e os cintos, e os vasos de perfume, e os amuletos; os
anéis, e as joias pendentes... Será que em lugar de perfume, haverá mau cheiro;
e, por cinto, corda; e, por cabelo encrespado, calva; e, por faixa de peito, cinto
de cilício; marca a fogo em lugar de formosura (Isaías 3:16-24). O presente
ordenamento está em vigor ainda hoje. Porém, muitos “pastores” (doutores do
saber intelectualizado e liberalizante) têm assumido o papel de Deus, redefinindo
práticas mundanas com aparência cristã que seu rebanho deve seguir. Para eles é
normalíssimo ter uma cristã igual a uma mundana, porém isso foge ao princípio
da diferenciação estabelecido nas Escrituras. O discurso facilitador destes
pastores é propor um evangelho sem renúncias das vaidades mundanas. Dizem,
diretamente, às suas ovelhas que continuem vivendo uma vida de aparências
externas, ainda que estas contradigam as Escrituras. Argumentam que se trata de
uma questão meramente cultural (ao dizerem isso, não têm ideia do que
represente o conceito de cultura numa visão antropológica e teológica). Não
consigo compreender como uma pessoa que se diz salva não tenha prazer em
obedecer aos ensinos do Salvador. Desatino, irreverência e apostasia é o que na
verdade está acontecendo!
Quem faz uso da artificialidade
estética, mesmo conhecendo as Escrituras, não entende que está criando uma
outra pessoa, desvalorizando quem é. Relacionando isso com algumas passagens
das Escrituras, ela está equiparando-se a uma prostituta, como disse Filo, que
tenta encantar seus clientes pela falsa imagem de uma pessoa que não é. Tertuliano,
grande apologeta da fé cristã do século III, deu parecer sobre a maneira pela
qual deveriam se comportar as mulheres cristãs. Chamando-as “ó diletíssimas irmãs”,
mostra-lhes que a simplicidade era/é necessária em razão do pecado de Eva: “Uma
cristã, que aspira ao céu e se lembra de que é herdeira de Eva e do seu pecado,
deve sonhar menos com adornos... Com efeito, foi depois da falta, que a
condenava a morrer, que Eva, sentindo a sua nudez, pôde sonhar cobrir-se de
adornos e enfeites: esses são, portanto, adereços de morte, de enterros, que a
mulher não deve procurar se quiser reencontrar a plenitude da vida anterior ao
pecado” (TERTULIANO, 1974, p. 37-38). À mulher que abdica dessa simplicidade
cristã para cumprir com os caprichos da vaidade, diz: “és a porta do diabo”,
pois permite uma adaptação da igreja às conveniências do mundo. Uma cristã que
se preza afastar-se-á de toda essa conduta! Como Filo, Tertuliano afirma: “Na
verdade, são claras as prescrições a respeito do modo de vestir e dos
ornamentos. Também Pedro, com idênticas palavras, porque, no mesmo espírito de
Paulo, condena a presunção nos vestidos, a arrogância no uso do ouro, a
impertinência em cabeleiras mais próprias de prostitutas” (TERTULIANO, 2011, p.
34).
Para concluir, o(a) cristão(ã)
deve entender o propósito de Deus quanto à estética. Deus criou homem e mulher
sem qualquer artificialidade, nem incentivou o homem a criar algo nesse
sentido. Sempre proclamou um padrão equilibrado e moderado para não contrariar
sua moral. Quando vemos o incremento da artificialidade no meio evangélico
atual, lamentamos e oramos para que os cristãos reconheçam a necessidade de
retornar ao padrão de simplicidade bíblico, percebendo o grande prejuízo à
causa do Evangelho que trazem se continuarem assim. E, no mais, as mulheres devem
salgar e alumiar como cristãs autênticas e não devem ser fermentadas, como estão, pelos encantos do mundo de ilusões.
(1)
Tertuliano. A moda
feminina. Lisboa-São Paulo: Verbo,
1974.
(2) _____________. Tratado sobre oração. Juiz de
Fora, MG: Edições Subiaco, 2011.
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