O surgimento da pílula para impedir a concepção, bem como a existência da cirurgia de ligação de trompas para fazer findar a fertilidade são coisas recentes. Conhecer os efeitos dessas duas invenções é o primeiro passo para determinarmos a origem espiritual de ambas.
Até o início do século XX, era expectativa da sociedade que a mulher se preservasse casta do ponto de vista sexual para o casamento. Nos círculos cristãos, a mesma coisa era esperada dos homens. Naquela época, a linguagem vulgar, a prostituição infantil, o homossexualismo, a pedofilia e demais formas de perversões morais não aconteciam com tanta constância e evidência como se vê hoje, e os meios de comunicação não promoviam os desvios éticos que atualmente são estimulados. A família, então, era vista como a célula mater da sociedade, enquanto o casamento era apresentado como uma instituição divina a ser preservada com temor e tremor, e não como um mero contrato baseado numa reciprocidade egoísta de expectativas.
Muitos fatores contribuíram para desestruturar essa sociedade. Os principais são estes que passamos a apontar:
A religião foi perdendo a sua influência na vida comunitária em razão da descrença promovida pelo cientificismo que entronizou a falsa ciência (evolucionismo, freudianismo, etc) como uma verdadeira deusa.
A expectativa de se obter uma vida cada vez mais confortável através das descobertas científicas mudou a visão de mundo de muitas pessoas, fazendo com que as mesmas deixassem de ver a vida à luz do dever para vê-la à luz do prazer, caindo, assim, no hedonismo.
O surgimento do materialismo de todas as formas, bem como do pragmatismo colocaram em questão os valores absolutos e a vida eterna.
O movimento feminista deturpou a noção da verdadeira libertação de que carecia a mulher. Em lugar de exigir a fidelidade e castidade masculina, esse movimento incentivou a fornicação e o adultério feminino. O lesbianismo foi estimulado como forma de a mulher provar que podia viver autonomamente. Também houve a defesa do aborto, com manifesto desprezo pela vida e pela maternidade.
A pílula anticoncepcional surge em meio ao contexto de desestruturação da sociedade e ligado a todos esses fatores acima mencionados. Ela é fruto de um cientificismo ilimitado, o qual pretende fazer do homem um ser que manipula a natureza como quem brinca de ser Deus. É inspirada na filosofia materialista. Objetiva a promoção do prazer sem responsabilidade. É o instrumento que vai difundir a promiscuidade entre os jovens, tirar o compromisso do amor, além de fazer com que as mulheres percam a consideração pela maternidade, a ponto de, numa questão de tempo, o aborto não lhes ser mais tão abominável. Aqui, o homem quer usurpar o lugar do criador, violar regras morais sem sofrer conseqüências, e converter bênçãos (concepção, fertilidade) em inconveniências.
A partir da pílula anticoncepcional surgiu o desejo de clonar o homem, de fazer inseminação artificial, de alugar o ventre, de fazer manipulação genética. Agora, os pais querem ter o direito de escolher o sexo dos filhos, assim como a cor dos olhos etc. O ser humano se torna uma massa manipulável, um objeto, uma mercadoria...
A cirurgia de ligação de trompas, por outro lado, consiste num aleijamento voluntário. Aqui, o homem ignora que é alma e corpo, ou seja, que seu corpo integra a sua personalidade. O corpo, dentro dessa nova conjuntura, é visto como uma coisa que pode ser feita e refeita. Vale a pena lembrar à presente geração as palavras divinas:
Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?(Rom. 9: 20)
Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. (I Cor. 3:17)
Ou não sabeis vós que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo... (I Cor. 6:19)
Não sabeis vós que vossos corpos são membros de Cristo?(I Cor. 6:15)
Alguns, entretanto, argumentam: Não há pessoas que fazem outros tipos de cirurgia?
Respondemos assim: Somente é lícita uma cirurgia feita em caráter emergencial para sanar um defeito ou, ainda, para extirpar uma doença ou anomalia, e não aquela cujo objetivo é mudar o que é natural, fazendo uma voluntária laceração no corpo.
...nem darão golpes na sua carne(Lev. 21:5).
O homem benigno faz bem à sua própria alma, mas o cruel perturba a sua própria carne.(Prov. 11:17)
Outros replicam: Se a minha esposa já fez três cirurgias cesarianas, porque foram necessárias, não poderia ela ligar as trompas para evitar o quarto filho através de cujo nascimento ela poderia incorrer em risco de vida?
Respondemos a esta colocação dizendo que a pessoa pode evitar os filhos por uma abstinência controlada e mais demorada. Além disso, a pessoa pode crer em Deus tanto para não ter o quarto filho, como para tê-lo e não morrer, como para tê-lo e, se morrer, acreditar que essa foi a vontade de Deus. Esta, entretanto, é a argumentação pelo extremo. Afirmamos que o casal pode abster-se de sexo para sempre nesse caso. Afinal de contas, não era isso que haveriam de fazer caso ainda não se tivesse inventado a cirurgia de ligação de trompas?
Ninguém venha me dizer que seria errada a abstinência perpétua, pois se um acidente impossibilitasse um dos cônjuges de ter relações sexuais, eles só teriam a abstinência como opção. Além disso, os membros da Igreja de Corinto aprenderam com Paulo que o corpo não foi criado prioritariamente para o sexo, já que na ressurreição teremos um corpo e não haverá sexo. O corpo é um instrumento para cumprirmos a vontade do Senhor:
...Mas o corpo não é para a fornicação, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo.(I Cor. 6:13)
Vejamos, agora, as reprovações bíblicas ao uso de anticoncepcionais:
1) O caso de Onã
A Bíblia reprova o uso de preservativos à medida que eles implicam na busca do prazer sexual com a contenção das conseqüências naturais. Em lugar de controlar a possibilidade de ter filhos pela abstinência planejada, aqueles que usam os preservativos querem ter o prazer irrestrito sem se responsabilizarem pelas conseqüências. O cristianismo não despreza a noção de prazer, mas a associa à idéia de disciplina e responsabilidade.
Onã foi um personagem bíblico que queria gozar o prazer sem assumir responsabilidades. Vejamos como o seu ato foi visto por Deus:
Onã, porém, soube que esta descendência não havia de ser para ele; e aconteceu que, quando possuía a mulher de seu irmão, derramava o sêmen na terra, para não dar descendência a seu irmão. E o que fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou. (Gênesis 38: 9)
Onã, em cumprimento a um costume da época, casou-se com a esposa de seu irmão falecido. Como os filhos que ambos tivessem seriam contados na genealogia do que falecera, Onã evitou filhos, lançando fora o sêmen, mas não se absteve do sexo. Por certo, o pecado de Onã não foi apenas o de egoísmo, manifestado na intenção de não suscitar descendência ao nome de seu irmão. Deus não o teria matado se ele simplesmente não tivesse tido relações sexuais com a mulher, ou, ainda, se não tivesse casado com ela, o que não lhe acarretaria a sentença de morte, mas uma mera sanção cerimonial (Dt 25:5-10).
Lugar de Deus
Em Gênesis, no capítulo trinta, versículo primeiro, a Bíblia registra que Raquel, esposa de Jacó, insatisfeita por não gerar tantos filhos quanto a irmã, dirigiu um pedido ao seu esposo, dizendo: Dá-me filhos, se não morro. A resposta de Jacó foi a seguinte:
Então se acendeu a ira de Jacó contra Raquel, e disse: Estou eu no lugar de Deus, que te impediu o fruto de teu ventre?(Gênesis 30:2).
A resposta de Jacó, o pai da nação de Israel, deixa claro e evidente que somente Deus pode legitimamente impedir o fruto do ventre. Dessa maneira, aquele que, de modo arbitrário, intervir na capacidade de frutificar do ventre estará como o Anticristo, tentando tomar o lugar de Deus (II Tess. 2:4).
O Deus da fertilidade
Em Isaías 66:9, nós temos dois princípios. Pelo primeiro, se condena o uso de anticoncepcionais, e, pelo segundo, se condena o aborto:
Abriria eu a madre, e não geraria? diz o Senhor; geraria eu, e não faria nascer? diz o teu Deus.(Is. 66: 9)
Em outras palavras, podemos parafrasear : Acaso, eu que dei a fertilidade, aprovarei o impedimento da concepção? Eu, que faço conceber, serei favorável a que se impeça de nascer?
Conclusão
A conclusão a que chegamos é que o uso de anticoncepcionais artificiais para evitar filhos e a ligação de trompas com o mesmo propósito são atos pecaminosos. Além disso, observamos que:
1) A abstinência parcial ou total é a única alternativa prática para casais que já não querem ter mais filhos.
2) A fertilidade sempre deve ser vista como uma benção. Destruir a fertilidade feminina é tão irracional quanto o agricultor destruir a fertilidade da terra.
A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor.(Salmo 128 : 3 e 4)
Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho
Membro do Presbitério Anabatista da Igreja em Fortaleza
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