Todos os atentos
leitores de Atos dos Apóstolos verificam um fato inegável no momento que
ingressam no exame do texto: a escolha de Matias em substituição de Judas
Iscariotes para o apostolato. Pedro, o cabeça da articulação, suscitou a
necessidade e estabeleceu alguns critérios que julgou pertinentes para elegerem
um indivíduo com caráter irrepreensível e compatível com as exigências do
ministério. Após nenhuma objeção, Matias é eleito pelo colegiado apostólico,
formado inicialmente pelo Cristo.
Encontramos
referências a Matias na eleição de Atos 1:15-16 e, de forma sucinta, em Atos
6:2 e Atos 9:27, quando ficou frente a frente com Paulo. Percebe-se, então, que
houve nas Escrituras certa preferência nos relatos do início e da expansão do
Cristianismo sobre as histórias vivenciadas por esses arautos do Evangelho da
Igreja Primitiva. Não só Matias, mas também outros apóstolos não tiveram suas
histórias relatadas nos Atos dos Apóstolos. Praticamente, Atos dos apóstolos
elege Paulo, o apóstolo concebido “fora de tempo”, compondo a grande parte do
texto, Pedro e João, no início, a fim de transmitir o ideal apostólico. Apesar
de a maioria dos apóstolos não terem sido contemplados em suas atividades eclesiásticas
na História da Igreja, esse critério não poderia ser utilizado para referendar
a veracidade do ministério individual.
Apesar
disso, o que causa certa estranheza diante da eleição de Matias é o fato de os outros
ministros apóstolos terem sido eleitos diretamente por Jesus (Mateus 10:1-4), em
razão de não ser essa uma atribuição dos apóstolos em si, ou seja, de eleger outro
igual. Desta forma, levando em consideração a instituição desse ministério, podemos
questionar se a escolha de Matias pelo colegiado apostólico teria sido
legitimada por Cristo ou não. Realmente, nas Escrituras nada há,
explicitamente, de objeção. Razão que leva muitos a acreditarem na
autenticidade da escolha e sua validade. Mas, é muito importante lembrar que
não existia uma regra prévia instituída por Jesus para a eleição do ministro
apostólico, já que foi ele quem primeiro escolheu os apóstolos, porém não os
primeiros, mas os únicos (é bom chamarmos atenção a esse fato). Jesus escolheu
homens que figurariam como alicerce doutrinário e a base fundamental para
regras de fé e prática. Isto se refere à limitação quantitativa e escolha única
dos homens vocacionados para a função. Jesus, inicialmente, escolheu doze
homens, mas sabendo de antemão que um não estaria vinculado com os propósitos
apostólicos devido ao comportamento que se verificou em seu trajeto entre os
demais, demonstrando sua incapacidade e pecaminosidade. Antecipadamente, pelo atributo
da Onisciência, Jesus sabia quem fecharia o número dos doze. Seria este Matias
ou Paulo?
Sem
dúvida, a forma como a conversão de Paulo se deu, através de seu ingresso
imediato na obra e de sua abnegação incondicional para o serviço cristão,
colocaram em dúvidas a escolha de Matias, pois, além disso, a vinculação do
termo apóstolo nas cartas paulinas tornou um problema à escolha de Matias,
visto que Paulo assume categoricamente a lacuna deixada por Judas Iscariotes.
Como justificativa plausível a esta construção, quando Jesus ordenou Ananias
visitar Paulo em Damasco asseverou que Paulo era para Ele “um vaso escolhido”.
Levando em consideração a forma de escolha em Mateus 10, o número doze, enfim,
encontrou seu lugar junto ao grupo de pilares apostólicos da fé cristã. O
número doze foi definido para o colegiado apostólico desde Mateus até
Apocalipse.
Por
outro lado, qual a implicação negativa para a aceitação do ministério
apostólico de Matias? A possibilidade das autoridades eclesiásticas poderem tomar
decisões como se o Senhor Jesus o fossem, estabelecendo novos conceitos e
paradigmas. Na verdade, muitos Pais da Igreja incorreram neste problema e
promoveram uma série de inovações dogmáticas no seio da Igreja. Esse problema
tornou a Igreja vulnerável às invencionices de homens, algo que em muitos
momentos da literatura apostólica foi censurado. A inobservância aos princípios
fez com que hoje algumas lideranças religiosas reivindicassem o título de
apóstolo para si, como se fossem algum expoente maior (redundância) do
movimento cristão pós-moderno. Um equívoco proveniente daqueles primeiros ares
e uma terrível falta de espiritualidade.
A
ânsia pelo poder, a ganância e a apostasia repousaram seguras nestes centros
que não prezam pelas santas palavras das Escrituras. Rejeitaram as orientações
precisas para se deixarem levar pelos caprichos particulares. Demonstraram não
saberem interpretar as Escrituras nem possuírem o Santo Espírito que nos leva a
toda verdade. Quem não se sente compungido diante de uma situação como esta, na
verdade, deixou-se endurecer pelo erro e pelo desvio. Queira Deus libertar
muitos que estão enganados pelas falácias dos falsos mestres.
A Deus seja a
Glória!
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