O
presente estudo tem como finalidade o esclarecimento bíblico sobre a questão do
julgamento. Talvez seja por falta de explicação, compreensão ou interesse
acerca do tema, mas o fato é que existe uma rejeição quando se trata desse
assunto e por isso observou-se a necessidade de um artigo extraindo o que a Bíblia
nos ensina sobre julgar.
Em
primeiro lugar, "julgar" significa atribuir valor a algo ou alguém
baseado em um conjunto de fatores que nos levarão a uma determinada conclusão. Esses
fatores que contribuem para a ocorrência do julgamento, poderão ser internos (valores
morais, espirituais e os princípios que constituem a própria pessoa que elabora
o julgamento) e/ou poderão ser externos (influência de terceiros). De todo
modo, tais fatores mostrarão muito de quem atribui valor e de quem recebe a
atribuição.
As
decisões e escolhas que tomamos em nossa vida, tais como: com quem iremos nos
casar, o que comeremos, o que vestiremos ou qual profissão teremos, são frutos
de um julgamento prévio, muitas vezes, baseado em nossos princípios morais,
crenças, valores éticos, gostos individuais e até mesmo, nas influências que
recebemos do meio em que estamos inseridos. É graças a capacidade de julgar que
fazemos as escolhas mais importantes da nossa vida, como aceitar a Cristo como
nosso salvador e com quem iremos nos casar para sempre, por exemplo. Graças a
Deus pela capacidade de julgar e discernir o bem do mal, o justo do injusto, o
puro do impuro. Entretanto, tal capacidade, além de benéfica, pode ser muito
perigosa se mal interpretada, trazendo grandes prejuízos a curto, médio e longo
prazo. É por isso que analisaremos, a luz da Bíblia Sagrada que é a palavra
inerrante de Deus, se é lícito ao crente julgar.
Existe
uma concepção equivocada de que cristão é alguém que não julga, que sempre se
mostrará compreensivo para com o pecador e o pecado. Essa visão vem,
geralmente, pautada no texto: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mateus
7.1), usado, muitas vezes, para nos calar e nos impedir de tocar em questões
morais ou doutrinárias. Tal interpretação está tão errada quanto a de que o
cristão deve medir a espiritualidade das pessoas por suas obras. Nem isto e nem
aquilo, na verdade, a Bíblia deixa bem claro como devemos proceder.
A
Bíblia nos fala de dois tipos de julgamentos, e são eles: "Segundo a
Aparência" e "Segundo a Reta Justiça". Vejamos o texto a seguir:
"Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça"
(Jo 7:24). Julgamento "segundo a aparência" é todo aquele que é
proferido de forma precipitada, sem a análise ou consideração de todos os fatos.
É o julgamento baseado no "eu acho" e, portanto, reprovável pela
palavra de Deus. Em I Samuel 1:12-14, a Bíblia narra que o profeta Eli julgou,
segundo a aparência, que Ana estava embriagada por observar que “seus lábios se
moviam, mas não se ouvia a sua voz”. Em Atos 2:1-13 a Bíblia narra o primeiro
batismo da igreja com o Espírito Santo e, semelhantemente a primeira narrativa,
alguns judeus, julgando segundo a aparência, disseram que os discípulos estavam
embriagados: "E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto" (v.
13). Uma observação interessante é que nestas passagens bíblicas, o falso
julgamento pode ser associado à zombaria. Este é um erro muito comum de se
cometer ao julgar sem analisar os fatos, por vezes, na intenção de expor a
pessoa ao opróbrio.
Julgar
segundo a aparência, fazer piadas depreciando a imagem de alguém, na intenção
de gerar zombarias e expor pessoas ao ridículo, é pecado. Não se pode associar
tal comportamento com o que se espera de crentes espirituais. No capítulo 5 da
carta aos Efésios, Paulo lista a zombaria como um dos seis comportamentos que
nem mesmo deve se nomear entre os santos.
O
outro tipo de julgamento a que Jesus se refere é o "segundo a reta
justiça" (Jo 7:24b). Note que Jesus, ao mesmo tempo em que condena o falso
julgamento, “não julgueis segundo a aparência”, recomenda o justo julgamento, “mas
julgai segundo a reta justiça”. O que seria, então, "julgar segundo a reta
justiça"? Vejamos sempre, o que nos diz a Bíblia Sagrada. Paulo escreve a
Timóteo e diz: "Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa
para... instruir em justiça" (II Tm 3:16). O escritor aos Hebreus, por sua
vez, diz que a palavra de Deus "julga os pensamentos e intenções do
coração" (Hb 4:12). A palavra de Deus é justiça. Julgar segundo a reta
justiça é submeter o nosso julgamento ao que a Bíblia Sagrada diz; é ser fiel
ao livro sagrado, mesmo que isso vá contra as nossas intenções e motivações
individuais. Por exemplo: A Bíblia nos fala que Jesus veio salvar a humanidade,
mas somente aqueles que se arrependem e se convertem podem alcançar esta
salvação (Mt 3:2, Mt 4:17, At 3:19, I Pe 2:19). Julgamos, segundo a palavra de
Deus, que aqueles que não se arrependerem e se converterem, não serão salvos da
condenação eterna.
Com
base nesses ensinamentos, extraímos que, apesar de nossas falhas e limitações
humanas, a Bíblia deixa claro que devemos sim emitir juízos em algumas
situações: “Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Se vocês hão
de julgar o mundo, acaso não são capazes de julgar as causas de menor
importância?” (1 Co 6.2). Em inúmeras passagens bíblicas, vemos que os
apóstolos julgaram pessoas de seu tempo. É, inclusive, impossível cumprir
alguns mandamentos sem avaliar as pessoas. Por exemplo, quando Paulo disse: “Mas
agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que,
dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão.
Com tais pessoas vocês nem devem comer” (1 Co 5.11), ele está recomendando algo
que para obedecer é necessário avaliar a vida do cristão e ver se ele incorre
em algum destes erros.
Sim,
o cristão pode julgar segunda a reta justiça, mas não se esquecendo de que
primeiro, deve retirar a viga de seu próprio olho, então enxergará bem para retirar
o cisco do olho de seu irmão (Mt 7. 3-5). E lembremos de que a igreja possui
ovelhas mais fracas e devemos ter um compromisso de amor: “Nós que somos fortes
na fé devemos ajudar os que são fracos. Devemos ajudá-los nas suas fraquezas.”
(Rm 15.1). Então, façamos tudo com sabedoria e amor.
Que
este estudo tenha contribuído para esclarecer esse assunto e nos dar uma visão
bíblica e equilibrada sobre esta delicada questão que é a de julgar os outros.
No
amor de Deus,
Amanda
e Welderlan Sales
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