Numa era de consumo e da libertação do
imoral que privilegia o ego, quem não se rende às suas imposições? Quem não
cede aos impulsos e inquietações sucintas, aspergidas pelo ímpio e pela
infâmia? Quem não se vê coagido a prestar um (des)favor ao inusitado porque
cedeu ao inadequado, julgando-se minorado pela usurpação do mal? Certamente, o
crente vigilante cujo barco veleja para o norte.
O crente vigilante não é
qualquer cristão, mas alguém consciente dos arrodeios pelos quais passam as
ideias e tendências voluptuosas da vida cujo fim é a perdição, sem, contudo, provocar
em si um desvanecer de suas autênticas convicções, outrora firmadas na rocha
inabalável. Muito embora haja embates constantes (sobre isso Jesus havia
alertado), a conservação do que sempre foi e continuará sendo não depende da
sua essência ou de seu bom caráter simplesmente. Decorre de MAIOR comunhão com o
Senhor, a fim de produzir uma majoração do bem, do belo, do sereno, do
harmônico, e uma minoração do mal, principalmente, no que diz respeito ao
desvencilhamento da vida efêmera com seus valores e ao apreço desmedido aos pensamentos
medonhos do ser humano, desabonado tantas vezes na insigne Escritura.
Com esse comportamento, reconhecemos
nossa dependência ao Autor da nossa fé e asseveramos nosso consentimento para
operação dele em nós. Deixar seu Espírito nos guiar pelos caminhos de sua
vontade, pela operacionalização dos nossos talentos e pela distribuição de
nossos bens para os necessitados, confere ao final a certeza da grandiosa
experiência interior não vista pela maioria dos que estão ao nosso redor, mas
certamente satisfez àquele que está no alto e no sublime trono com olhar
perscrutador sondando mentes e corações para encontrar verdade, sinceridade e
honestidade (muitos cristãos, no entanto, deveriam ver isso, não para
pronunciarem elogios aos praticantes, mas para se renderem aos grandes exemplos
em suas comunidades a fim de estabelecerem maior respeito, honra uns pelos
outros e abandono da desconfiança, pois esse último sentimento é muito
sorrateiro e é capaz de minar e arruinar vidas).
Debaixo da vívida unção,
o cristão, por reconhecer quem é e o que pode fazer, também pensa no outro,
independentemente do que tenha cometido ou cometa, como tenha vivido ou deixe
de viver. Aliás, Jesus nos ensinou a prática do bem ao próximo sempre,
incluindo, caso necessário, o ato mais altruísta. Afinal, este é o Cristianismo
prático, pois entender a doutrina é o mais elementar da trajetória cristã. Para
saber se o conteúdo doutrinário, no entanto, provocou o devido efeito, faz-se
necessária a consumação da prática através da relação com próximo, podendo ser
manifesta através do ato de compaixão na evangelização a um mendigo, a um
homossexual, a um orgulhoso, a um materialista, a uma pessoa normal, a um rico,
a um intelectual, a um desviado, a uma pessoa sem instrução convencional, a um
apóstata ou nas relações comunitárias a um irmão em Cristo. Qualquer uma dessas
pessoas carece de atenção, apesar de algumas delas acharem absurda a ideia. O
cristão vigilante, através da voz do Mestre, tem a honra de estender sua mão em
prol daquele por quem Cristo morreu na cruz, a fim de levá-lo para o aprisco do
bom pastor, por isso, ignorar o fato e a possibilidade de ajudá-los pode estar revelando
o fermento farisaico e a paixão mundana. Aliás, lembrando sobre os efeitos da
interação entre os membros da ecclessia,
é na proximidade entre os remidos que encontramos o ideal da koinonia (do grego
κοινωνία). Segundo a unidade proposta pelo apóstolo Paulo: “Vivei, acima de
tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou
estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só
espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica” (Filipenses
1:27, tradução revista e atualizada).
Assim, aborrecer o mal
com a prática do bem parece ser uma boa expressão para essa conjuntura. Apesar
da forte expressão, revela-se também urgente em meio aos turbulentos tempos de
avançada penumbra, cujos efeitos penetram tão severamente na alma de alguns que
conseguem cegá-los para não enxergarem a necessidade dos que nos acenam insistentemente
sem perceberem, aguardando silenciosa e solitariamente quem os possa ajudar. A
simplicidade e a humildade, desta maneira, nos ajudam a compreender o outro
para assim prestarmos o que lhe for necessário e que esteja ao nosso alcance.
Saibamos disso, pois, é uma regra cristã. Como disse A.W. Tozer: “É preciso
simplicidade e humildade para servir a Deus de maneira aceitável”, para mais,
acrescento sensibilidade sem a qual não se gera empatia. Por isso, conclamamos:
cristãos vigilantes vivam para a glória de Deus!
Pr. Heládio Santos
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