O Anabatismo emerge dentro do contexto da Reforma. Porém, existem algumas
dúvidas para afirmar categoricamente que eles surgiram neste momento histórico (para a
maioria dos estudiosos, essa é a suposição mais defendida) ou se são anteriores
às Reformas ocorridas na Europa (como sinalizou H.H. Muirhead). O apego incondicional ao texto
bíblico fez surgir o termo “Radical”, daí seu movimento ser chamado de Reforma
Radical. Essa atitude de apropriação exclusiva dos textos sagradas
geraram uma rejeição às autoridades religiosas consolidadas e àquelas que
estavam surgindo sem o amparo dos preceitos apostólicos porque se opunham à vontade divina. Para eles (os
anabatistas), importava seguir os preceitos cristãos a todo custo, independentemente da vontade das autoridades, de modo que
esse sentimento definiu o caráter e a personalidade que tomou forma, trazendo
ao movimento o nobre status de fiel
seguidor do Cristo.
Dois quesitos fundamentais da fé anabatista foram a
não resistência e a liberdade. Eles acreditavam que Jesus era a figura central de suas vidas, porquanto a Bíblia atestava para esse fim, sendo também contrária da tradição do clero católico, do estado católico ou protestante,
das hierarquias e dos rituais cujo objetivo tentava apaziguar os anseios do
povo alienado. Opunham-se ao sistema hegemônico e religioso que operava no
sentido de controle; entretanto a oposição anabatista verificava-se no campo da
argumentação, nunca sendo seu teor a agressividade da luta armada ou das
guerras. Suas premissas eram convencer a sociedade e as autoridades religiosas
através da persuasão proveniente da livre interpretação das Escrituras de que esses entes religiosos estavam equivocados. Essa
liberdade de interpretar os institutos bíblicos era vista como uma prerrogativa
do cristão cuja vocação não poderia ser renunciada nem entregue a um clero
envolvido com negócios desta vida (política, corrupção moral, autoritarismo
etc). Essa liberdade saltava dos textos bíblicos para se incorporar na vida cotidiana
de cada um, pois acima de qualquer outra orientação, a orientação precisa era originada
nas Escrituras no qual se encontrava clareza e objetividade.
Ao proporem esse tipo de conduta, obrigatoriamente, acarretaram sobre si duras reações e perseguições. Para o clero corrupto,
ninguém poderia assumir uma posição livre diante do contexto dominado pela
religião majoritária, visto que se constituía um ultraje para as pretensões políticas, religiosas
e espúrias do clero. Entretanto, em meio às perseguições, os anabatistas sempre
asseveravam a fé autêntica, nunca reagindo contra seus agressores e demonstrando
firmeza em suas convicções.
Não
podemos dizer que as ações anabatistas eram erradas, já que estavam pautadas nas
Escrituras. Podemos dizer que se constituíram contrárias aos ditames
clericais e estatais porque na visão radical representavam a submissão de Deus aos homens. A crítica ao batismo infantil, citando caso análogo,
extrapolava as fronteiras religiosas e alcançava os ares da condução estatal,
visto que o infante era reivindicado pelo Estado para lhe ser um cidadão obediente, ou seja, ir para guerras, pagar tributos religiosos equivocados, fazer juramentos e reverenciar o suserano como Senhor de sua vida.
O batismo anabatista significava uma vinculação com o Cristo que é o Senhor e
uma rejeição aos césares terrenos cujos intentos propunham uma sujeição às suas autoridades imorais, opondo-se aos elementos constituintes da fé
cristã. Portanto, ao associar pacifismo e liberdade encontramos agrupamentos de
cristãos que reivindicam a chancela apostólica, não por ideologia, mas por uma
mentalidade pura e fundamentada nas verdades absolutas do texto sagrado para resgatar os princípios da Igreja Primitiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário