Introdução
A
origem histórica da Igreja de Deus do Sétimo Dia (IDSD) possui duas vertentes.
A primeira vertente é narrada por alguns estudiosos como tendo sido fundada por
algumas pessoas que estavam entre os peregrinos separatistas que vieram para a Nova
Inglaterra à bordo do navio Mayflower, em 1620.
Estes
peregrinos eram chamados principalmente de Puritanos e vieram para o Novo Mundo
em busca de liberdade religiosa, pois tanto na Inglaterra quanto na Holanda
estavam sendo perseguidos e massacrados por sua fé. Desembarcando na América,
esse grupo teria introduzido a doutrina da guarda do sábado e a observância da
Lei de Deus como ensinamentos fundamentais.
A
outra vertente, mais coerente e comumente aceita, aponta a origem da Igreja de
Deus do Sétimo Dia com a divisão ocasionada pelas visões e predições de Ellen
Gould White (1827 – 1915) e um grupo liderado por Gilbert Cranmer (1814 - 1903),
que discordava dessas visões junto com outros grupos, pois Cranmer percebia
inconsistências em tais visões.
O
desenvolvimento histórico da Igreja de Deus do Sétimo Dia teve início na
América a partir do século XIX, e como o
próprio nome faz referência, é uma das seitas religiosas guardadora do sábado cujos
princípios se misturam com outros movimentos que afirmavam a crença de que o sétimo
dia da criação no qual Deus descansou de toda a sua obra (Cf. Primeiro Livro de
Moisés chamado Gênesis 2.2), isto é, o sábado era um dia a ser guardado e
praticado pelos cristãos, e que o descanso sabático era um sinal da igreja
verdadeira.
Os
grupos que defendiam a guarda do Sábado foram chamados de sabatistas, Igreja
de Deus, Igreja de Cristo, Igreja dos Primogênitos, Batistas do Sétimo Dia e
Independentes. Eles diferiam em outros aspectos da doutrina cristã, mas
mantinham a crença unanimemente no ensino acerca da Parousia, ou seja, na Segunda Vinda
de Cristo (daí surge o nome Adventista, os que creem no Segundo Advento de Cristo)
e na doutrina do Sábado, entre outras crenças.
Muitos
desses grupos rejeitavam as doutrinas ortodoxas do Cristianismo,
considerando-as de origem pagãs, como por exemplo: A Imortalidade da Alma,
Doutrina da Trindade, o Batismo Trinitariano, a morada no céu, o Domingo como
dia de descanso e o Natal. Não criam no inferno eterno, acreditavam na
inconsciência da alma e eram unicistas.
Existiam
outros grupos sabatistas, mas os de maior expressão eram os da Igreja Batista
de Cristo do Sétimo Dia (em 1800, esse
grupo tirou o nome ‘Cristo’), a Igreja de Deus do Sétimo Dia (anteriormente, chamavam apenas de ‘Igreja
de Deus’, mas em 1899 foi acrescentada, entre parênteses, a expressão “7º Dia”),
e posteriormente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia (era apenas uma associação formada na cidade de Battle Creek, Michigan,
em 1861. Depois se tornou uma denominação organizada em 1863). Esta última
teve grande repercussão e crescimento devido as pretensas visões e profecias de
Ellen Harmon.
Os
líderes desse novo movimento tiveram um grande impulso, mesmo depois das
decepções experimentadas devido as profecias de William Miller sobre o retorno
de Cristo em 1844. Essa decepção ficou conhecida entre os adventistas como o
Grande Desapontamento de 1844, onde muitos dos membros das igrejas sabatistas
ficaram desapontados quanto aos equívocos nos cálculos proféticos de William
Miller, que pregava o retorno de Cristo naquele ano com base no livro do
profeta Daniel.
A
passagem bíblica do livro do profeta Daniel que chamou a atenção de Willian
Miller está contida no capítulo 8 e os versículos 13 e 14, que diz:
Depois
ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando
durará a visão do sacrifício contínuo, e da transgressão assoladora, para que
sejam entregues o santuário e o exército, a fim de serem pisados? E ele me
disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.
(Daniel 8.13-14)
O historiador adventista John Norton Loughborough (1832
- 1924), que presenciou muitos dos acontecimentos envolvendo as profecias de
William Miller e o surgimento do movimento Adventista, indica qual era a
interpretação que se tinha dessa passagem do livro de Daniel. Ele cita o
depoimento de 21 testemunhas em 1888 que fizeram um abaixo assinado, afirmavam
que
Esses crentes acreditavam, em harmonia com
Apocalipse 3:7, 8, e outras passagens, que ao final dos 2.300 dias de Daniel
8:14, Cristo encerrou sua obra no primeiro compartimento do santuário celestial,
e transferiu Seu ministério para o santíssimo, adentrando na obra do juízo, e
assumindo, então, uma nova relação para com o plano de salvação. (LOUGHBOROUGH, 2014, pg. 186)
Wiliam Miller e o Grande
Desapontamento de 1844
Em
1840, houve na América grande efervescência devido as profecias do “Fim do
Mundo” que estavam sendo anunciadas por um jovem estudante de profecias. William
Miller (1782 – 1849) se interessou pelos estudos das profecias, o que lhe
chamou a atenção foram as predições acerca das 2.300 tardes e manhãs ligadas à
crença da purificação do santuário terrestre. Miller chegou à conclusão de que
Jesus retornaria em 1843, como a profecia falhou, ele remarcou para o ano
seguinte, que de novo veio a frustração.
Alguns
dos que estavam na expectativa pelo Segundo Advento de Jesus Cristo abandonaram
a crença, retomando as suas vidas comuns. Outro grupo veio a dar novas
interpretações às profecias de William Miller. No intuito de amenizar as
decepções, este último grupo, liderado por Ellen Gould White, deram início e
formaram a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em 1863.
Entre
os que, naquela época, esperavam o Advento de Cristo estava Gilbert Cranmer
(1814 – 1903), que em 1843 havia recebido esclarecimento sobre a questão do
sábado através de um artigo no Midnight Cry, uma
publicação milerita, escrito por JC Day de Ashburhan, Massachusetts.
Gilbert Cranmer e os Adventistas do Sétimo Dia
Gilbert Cranmer nasceu
em Newfield, Condado de Timpkins, Nova York em 18 de Janeiro de 1814, e faleceu
em 17 de Dezembro de 1903. Gilbert perdeu seu pai quando tinha onze anos. Quando
completou 17 anos de idade, ele se juntou aos metodistas e foi convidado por
eles para pregar. Dois anos depois, Cranmer deixou a comunidade dos
metodistas porque achava que eles estavam errados sobre a questão da Divindade,
ele discordava da doutrina da Trindade. Possivelmente, Cranmer teve
posicionamentos teológicos unitaristas.
Ele então se juntou à
Igreja Cristã, recebeu uma licença para pregar e durante três anos foi um
pregador itinerante, principalmente a pé, em Nova York, Pensilvânia, Ohio,
Kentucky, no sul de Indiana e no Canadá. Quando se mudou para St. Joseph,
Michigan, em 1840, recebia dessa igreja certa quantia em dinheiro, no final
acabou tendo decepções com essa organização, pois recebeu bem menos do que
havia acertado, o que levou Cranmer a desprezar qualquer tipo de salário e passou
a pregar de forma independente.
Nesse período, em
Michigan, as profecias de Wiliam Miller vieram à tona e isso chamou a atenção
de Gilbert Cranmer, conferindo-as e afirmando a sua veracidade, em 1842. Por
volta de 1843, tomou consciência da guarda do Sábado, através de uma publicação
milerita, mas foi a partir de 1845 que passou a professar publicamente a crença
na doutrina da guarda do sábado através de Joseph Bates (1792 – 1872),
influente pregador do movimento adventista, em Battle Creek. Nesse período, Cranmer
estava morando em Comstock, no condado de Kalamazoo, Michigan.
Em 1846, o
ensinamento da guarda do sábado estava sendo disseminado por vários lugares da
América. Joseph Bates havia sido influenciado a guardar o sábado da Lei (Quarto
Mandamento) através de um grupo de pessoas em Washington, New Hampshire que
também observavam a guarda do sábado como lei vigente. Joseph Bates começou
então a difundir em vários locais a mesma doutrina. Influenciou na guarda do
sábado à Tiago White, que era esposa de Ellen G. White, e que por sua vez influenciou
a sua esposa a, também, observar essa doutrina, estes se tornaram os pioneiros
do Adventismo do Sétimo Dia no século XIX.
Embora Gilbert
Cranmer tenha sido influenciado por Joseph Bates na questão do sábado, e tenha
se tornado cooperador no início, na obra do Advento, todavia, logo teve
divergências com alguns do grupo que, então, passaram a dar mais ênfase nas visões
posteriores de Ellen G. White. Ele questionou a validade dessas visões e por
isso apartou-se do grupo.
A Igreja de Deus do Sétimo Dia
A partir de 1860, o
trabalho realizado por Gilbert Cranmer em Michigan se expandiu e passou a
contar com novos adeptos de sua mensagem. Ele fundou várias comunidades em
Waverly, Alamo, Gobles, Bloomingdale, Hartford, Casco, Kirby, Hamilton, Olive
Ocidental e em outros lugares.
Em 1863, foi criado
pelos membros da Igreja de Deus do Sétimo Dia um jornal chamado A Esperança de Israel, tornando-se o
principal veículo de disseminação dessa denominação. Através dessa literatura
esse movimento se expandiu tanto para o Missouri quanto para Nebraska e
Canadá.
Em 1869, Gilbert
Cranmer realizou uma viagem ao norte de Michigan, passando por Denver e Newaygo
County, nesse lugar fez novos adeptos de sua doutrina. No Condado de Ottowa,
Cranmer pregou entre os adventistas do sétimo dia, mostrando as imperfeições e
os erros das visões da Sra. White, e "seu modo antibíblico de governo da
igreja".
Em 1879, Cranmer contraiu
um novo matrimônio com Sophia Branch, sua quarta esposa (as anteriores vieram a
falecer), essa união formou fortes laços com a famosa família Branch. Gilbert
Cranmer morreu em 17 de dezembro de 1903, no White Cloud Sanatorium.
A Igreja de Deus do
Sétimo Dia está sediada em Denver, no condado do Colorado
nos Estados Unidos, de acordo com os dados estatísticos do Arquivo Histórico do Conselho Nacional de
Igrejas e de edições recentes do Anuário das Igrejas Americanas e Canadenses, a
Igreja de Deus do Sétimo Dia até o ano de 2010 possuía em torno de 14.000
membros oficialmente integrados e o total de 233 igrejas.
No
Brasil, a Igreja de Deus do Sétimo Dia foi fundada em 1979, na cidade de
Campinas (SP), por representantes vindo dos Estados Unidos e México. Dois
missionários de nome Carl Palmer e Carlos Garcia Bacerril se comunicaram com
representantes da Igreja dos Primogênitos, movimento de origem adventista. Na
década de 80, conforme informações no site da própria Igreja de Deus do Sétimo
Dia no Brasil[8],
um grupo de obreiros foram batizados e ordenados pelos ministros da Igreja de
Deus do exterior, iniciando, portanto, na cidade de Campinas-SP com sistema
congregacional.
Em
1995, houve o primeiro cisma dentro dessa denominação por questões relacionadas
à administração e doutrinas. Alguns ministros não aceitaram as orientações da
Igreja de Deus vindas do exterior, e fundaram uma nova organização chamada de
Organização Geral das Igrejas de Deus – OGID, sediada em Cachoeira Paulista –
SP.
Em
2001, novamente surgem controvérsias doutrinárias no seio desta denominação,
desta vez sobre a questão do Dízimo e Sistema Eclesiástico Congregacional ou
Autônomo. Um grupo se aparta e forma a Igreja de Deus Congregacional ou
Autônomas.
Em
2004, outra divisão ocorre na Igreja de Deus do Sétimo Dia no Brasil, dando
origem a outro grupo que foram identificados com o nome de Congregação
Israelita da Nova Aliança – CINA, com sede em Curitiba – PR, passaram a
professar o Judaísmo Messiânico. Por sua vez, dentro da Congregação Israelita
se instaura uma nova divisão em 2005, dando origem a um novo segmento conhecido
como União Nacional das Igrejas de Deus do Sétimo Dia – UNID com sede em
Laranjeiras do Sul – PR.
Apesar
das muitas divisões, a Igreja de Deus do Sétimo Dia no Brasil afirma permanecer
vinculada ao tronco original da Igreja de Deus do Sétimo Dia trazida pelos
missionários Carl Palmer e Carlos Garcia Bacerril. Doutrinariamente, essa
denominação acredita no retorno iminente de Jesus Cristo (Parousia), rejeita a
doutrina da imortalidade da alma e afirmam que não haverá morada eterna no céu.
São guardadores do sábado e se opõem a Doutrina Bíblica da Trindade.
Ivanildo Mendes Farias
Bacharel em Teologia pela UMESP
Professor de História Eclesiástica do Instituto Pietista de Cultura – IPC
Professor do Instituto Bíblico da Graça
Pesquisador do Instituto de Estudos Independentes – INTESI
Ver Um Esboço da
História Americana. Departamento de Estado dos Estados Unidos. Escritório de
Assuntos Públicos. 2012. Revisado e Atualizado por Alonzo L. Hamby. P. 13. “Durante o período de turbulência religiosa do século XVI, um
grupo de homens e mulheres, denominados Puritanos, tentou atuar dentro da
Igreja Estabelecida da Inglaterra para promover sua reforma. Exigiam, em
essência, que os rituais e as estruturas associadas ao catolicismo romano
fossem substituídos por formas mais simples de fé e adoração, conforme a linha
protestante. Essas ideias reformistas, ao destruírem a unidade da igreja
estatal, ameaçavam dividir o povo e minar a autoridade do monarca. ”
Op. Cit. P. 14 “Em
1620, um grupo de Puritanos de Leyden, constituído de 101 homens, mulheres e
crianças, tendo em mãos uma patente de terra da Companhia da Virgínia, viajou
para a Virgínia a bordo do Mayflower. Uma tempestade os desviou para o norte e
eles aportaram em Cape Cod, na Nova Inglaterra. Acreditando-se fora da
jurisdição de qualquer governo organizado, os homens aprovaram um acordo formal
que estabelecia que todos obedeceriam às “leis justas e imparciais” a serem redigidas
por líderes escolhidos por eles mesmo. Este foi o Pacto do Mayflower. ”
Ver BERKHOF, Louis. Teologia
Sistemática. Editora Cultura Cristã. Rio de Janeiro: 1949, p. 346: “O termo parousia
(...). Em primeiro lugar, significa simplesmente “presença”, mas também
serve para designar uma vinda precedendo uma presença. Este é o sentido
comum do termo quando empregado com relação à volta de Jesus Cristo, Mt 24.3,
27, 37, 39; 1 Co 15.23; 1 Ts 2.19; 3.13; 15; 5.23; 2 Ts 2.1; Tg 5.7, 8; 2 Pe
3.4.