Meu
sogro sempre foi uma pessoa muito simples e humilde. Por seu comportamento
gracioso, conquistou muitas posições no labor secular da pesca e na obra do
mestre. Certa vez, ao ficar doente e retornar para casa por orientação do seu mestre
de pesca, foi chamado, no dia seguinte, pelo dono da empresa onde trabalhava para
uma entrevista, a fim de assegurar ao homem de negócios que ele poderia assumir
o posto mais elevado entre os pescadores sem lhe causar prejuízo numa
embarcação recém-liberada para pesca da lagosta. Segundo ele, a enfermidade foi
embora em razão do susto repentino logo ao ser noticiado sobre o interesse daquele
empresário em querer falar-lhe e por saber que poderia assumir o barco que
clamava por um capitão, pois antigo mestre havia assumido um barco maior.
No
gabinete na sede da empresa, o empresário viu um homem de roupas singelas e
chapéu de palha entrar, contrastando com o escritório e com os demais
participantes da reunião. Então, perguntou-lhe o empresário: “Zé Américo, você
me garante trazer quantos quilos de lagosta se eu te entregar o Gaivota?” – ao que meu sogro respondeu: “Nenhum!!!”.
“Como assim?!”, retrucou o homem com ar de observação. Respondeu-lhe meu sogro,
então, com segurança e honestidade: “a lagosta que cair no manzuá[1], eu trarei para o senhor,
mas aquela que não cair, não tenho como garantir trazer”. Aquele empresário se
agradou da resposta e promoveu meu sogro para o ofício. Antes dele, haviam sido
entrevistados outros dois pescadores que prometeram trazer mais lagosta do que
o barco era capaz de suportar, demonstrando, assim, imperícia e falta de
conhecimento necessário para aquele serviço. Em meio à satisfação pelo
reconhecimento e confiança, também se deparou com a insatisfação dos pescadores
antigos e mais velhos (sua tripulação) que deveriam se submeter àquele que fora
anteriormente um com eles, porquanto havia sido colocado em nível superior como
mestre. Foi, talvez, o primeiro grande obstáculo. Contudo, Deus tinha seus
propósitos e foi nas duas primeiras viagens que qualquer estigma foi superado.
Geralmente,
a viagem até o talude, circunvizinhando as regiões onde se assentavam cardumes
daquele animal que era como ouro do mar (pelo menos naquela época), durava
cerca de quinze dias, pois essa era a estimativa para os frigoríficos encherem.
Na sua primeira viagem, como mestre de embarcação, ele pescou uma tonelada e duzentos
quilos em oito dias, obrigando-o a retornar ao porto para descarregar a
produção e recarregar de provisões para o restante dos dias de pescaria. Ao retornar,
ainda pescou quase uma tonelada de lagosta em quatro dias ao que a empresa ordenou
que ele retornasse para o porto imediatamente. O resultado foi uma produção de
duas toneladas numa navegação de pequeno porte em doze dias, enquanto aquelas
de maior capacidade, mesmo passando um mês no mar, não conseguiram superar uma
tonelada. Foi com esses atos providenciais que meu sogro acumulou algum recurso
para expandir a mensagem do Evangelho em vários distritos de Beberibe-CE:
realizou centenas de cultos campais em vários lugarejos, incluindo alguns à base
de luz de lamparina, proveu de equipamento de som esses cultos e os carregava
nas costas nos dias marcados que eram muitos durante a semana, organizou e
realizou cruzadas nos lugares centrais, comprou terrenos, construiu vários
templos na região e supriu de bancos, cadeiras e outros utensílios esses
templos.
Duas
reflexões poderemos extrair da narrativa acima:
Essa
história é um entrave para os prepotentes, para os soberbos, para os que se
acham superiores, para os que não se dobram nem gostam de se submeter, para os
que não respeitam e desconfiam dos humildes, para os que se fazem senhores de
igrejas, para aqueles que escravizam e dominam suas igrejas para usufruto próprio.
Moral
da história, a humildade é o segredo de todo o sucesso espiritual, é uma das mais
encantadoras virtudes cristãs, é poder querer ajudar o próximo mesmo quando
este próximo não o considera, ou o menospreza ou age com desconfiança, é poder
olhar nos olhos de quem quer que seja para ser honesto (tanto homem ou mulher,
autoridade ou não etc), é conhecer seu lugar no propósito de Deus e colocar seu
coração à mercê de sua vontade.
Que
Deus nos torne plenos de tão profunda e verdadeira virtude.
Pr.
Heládio Santos
Maravilhoso! Humildade é bem aceita em todas as circunstâncias! Quem a pratica, é um homem sábio! Adorei a história do meu tio Zé Américo. Parabéns Heládio pela palavra!
ResponderExcluirHistória edificante!
ResponderExcluirVerdadeiramente um homem um amigo um pai que abdicou de luxo p se Dedicar ao Reino um exemplo de pai amigo e verdadeiro.
ResponderExcluirComo todas as histórias do meu vô Zé Américo essa é um testemunho de vida que ele sempre nos passou... Humildade e sinceridade sempre, pois assim Deus o Honrará! Grande homem e grandes palavras, obrigada tio Hilário por compartilhar essa história.
ResponderExcluirTio Heládio* desculpe foi o corretor que modificou o nome e eu não percebi.
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