O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

sábado, 9 de abril de 2011

A Tocha da Verdade

...e partiram os cântaros, e tinham nas suas mãos esquerdas as tochas acesas e nas suas mãos direitas as buzinas, que tocavam; e exclamaram: espada do Senhor e de Gideão. (Juízes 7: 20).

O Jornal que o leitor tem em mãos intitula-se “Tocha da Verdade”. Isso se deve basicamente a dois fatores: o calor e a luminosidade da verdade. No entanto, antes de explicarmos essas duas qualidades que precisam acompanhar a mensagem de Deus, vejamos o que é a Verdade.

A palavra de Deus na Escritura é sempre apresentada como sendo a verdade (João 17: 17). O Senhor Jesus, sendo o verbo que se fez carne, declara ser ele próprio a verdade concretizada (João 14:6). A interpretação correta da Palavra escrita é aquela que revela-nos a Palavra encarnada. É a centralidade de Cristo na Bíblia que a faz reconhecida como Palavra de Deus.

O nosso objetivo neste jornal é proclamar a Palavra de Deus sem dela nos desviarmos, quer seja para a direita quer seja para a esquerda, de modo a estarmos certos de que somente Jesus será glorificado. O catolicismo romano, por exemplo, ao pôr a sua tradição eclesiástica ao lado da Escritura como fonte de revelação, glorifica a Igreja como instituição, além de compreender a Escritura de forma equivocada, fazendo-a “dançar” ao som da tradição. Todavia, não são apenas os romanistas que tem somado outra fonte de revelação à Escritura, de modo a corromper a sua interpretação. Eruditos protestantes têm, nos seminários, interpretado a Bíblia à luz de informações históricas duvidosas acerca dos tempos bíblicos, agindo como se a Bíblia não fosse auto-suficiente, ou seja, como se Aquele que inspirou seus autores não os tivesse lembrado de colocar todas as informações situacionais necessárias ao seu correto entendimento. Esses teólogos glorificam as ciências humanas.

O protestantismo liberal e o tomismo católico sujeitam a Escritura à razão humana, sendo que o primeiro nega a procedência divina a muitas passagens “irracionais” da Bíblia, enquanto o segundo, com mais cinismo, interpreta a Escritura de forma que ela se torne mais “racional”. Aqui, nós temos uma glorificação da razão humana.

Grande parte dos pentecostais interpretam a Bíblia em consonância com suas experiências subjetivas e misteriosas, enquanto outros até chegam a falar em uma nova revelação superior à Escritura.

O jornal “Tocha da Verdade”, como verdadeiro arauto dos anabatistas, proclama a Escritura como única regra de fé e de prática, como autoridade final em assuntos espirituais. Só achamos a verdade quando permanecemos na Palavra de Deus:

“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”(João 8: 31,32).

Já que a Bíblia glorifica a Jesus e não ao homem, os que acrescentam outra fonte de revelação à Escritura querem encontrar motivo para a sua soberba:

“...aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro”(I Cor. 4:6)

Cremos que a Bíblia apresenta uma mensagem racional, mas a racionalidade nela presente é a de Deus, a qual transcende a do homem(I Cor. 2: 7). Cremos no valor da tradição hermenêutica(II Tess. 2: 15), ou seja, no valor de uma tradição que não quer colocar-se ao lado da Escritura nem sobre ela, mas antes, consiste em um modo antigo e duradouro de entender sua mensagem. Essa tradição de interpretação dos textos bíblicos é de valor quando provém daqueles que consideraram a Palavra Escrita como única regra de fé e de prática, ou seja, dos anabatistas ou radicais. Cremos na importância da experiência espiritual na vida cristã, mas a experiência que apregoamos não é de obscuridade subjetiva, antes, é uma interiorização poderosa da Palavra de Deus (João 6:63).

A Verdade, por sua vez, deve ser apresentada como tocha, com calor e luminosidade. O calor é o poder de Deus que reveste a pregação com a capacidade de atingir as consciências dos homens, levando-os ao arrependimento, assim faz arder o oráculo divino nos corações (Lucas 24: 32, Jeremias 23: 29). A luminosidade é o resplendor no meio das trevas da ignorância, fazendo com que as pessoas vejam o que antes não viam (II Pedro 1: 19).

A “Tocha da Verdade” é um jornal anabatista. Os anabatistas são os continuadores históricos do ininterrupto cristianismo apostólico. Quando surgiu o catolicismo romano, no século IV, como fruto da união da grande massa de cristãos acomodados com o império romano sobre a liderança de Constantino, aqueles que se mantiveram fiéis à Sã Doutrina e não aceitaram esse “casamento” adúltero foram chamados de anabatistas (= aqueles que se rebatizam). Isso aconteceu pelo fato de os anabatistas rebatizarem os que lhes vinham do catolicismo, pois eles só admitiam a validade do batismo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo para os que confessavam o senhorio absoluto de Jesus Cristo, sendo que o batismo católico envolvia um compromisso de submissão ao império romano, do qual a igreja Católica havia se tornado um departamento.

Na época da Reforma do século XVI, os anabatistas eram chamados pelos protestantes de radicais pelo fato de desejarem uma mudança na cristandade a começar pela raiz. Enquanto os protestantes falavam em reforma, os anabatistas falavam em restauração. Lutero cria que a igreja verdadeira era aquela que pregava a Palavra de Deus e admistrava corretamente os sacramentos. Calvino acrescentou a disciplina eclesiástica como requisito de identificação da igreja sã, enquanto os anabatistas acrescentaram a tudo isso o fato de a igreja verdadeira ser uma igreja perseguida ou mártir, e nunca perseguidora. Em razão do último requisito, os anabatistas não aceitavam guerrear, nem assumir posições políticas, nem a proteção de príncipes.

Os protestantes associavam os anabatistas aos místicos cristãos da Idade Média, enquanto os católicos os consideravam os mais protestantes dos protestantes. Na realidade, os anabatistas levaram o ideal da Reforma às últimas conseqüências, enquanto preservaram a preocupação com a espiritualidade e praticidade do evangelho. Como em Juízes 7:20, eles quebravam o cântaro(quebrantamento da alma e espiritualidade). Com uma das mãos, eles seguravam tochas acesas (verdade), enquanto a outra mão dava o alerta através da buzina (protesto). É isso que queremos!

Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho
(membro do Presbitério Anabatista da Igreja em Fortaleza)

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