Você
já parou para refletir sobre a forma como Jesus admoestava os pecadores? Sim, Ele
os admoestou! De forma especial e inspirativa procurava despertá-los para o
arrependimento através da proclamação da primordial mensagem, a do Reino de
Deus. Era a busca pelas ovelhas perdidas de Israel, primeiramente; revelou-se,
em tempo posterior, na elucidação de sua vontade divina, ser também apropriada
para os “cachorrinhos” que comiam das migalhas caídas da mesa dos filhos (Marcos
7:28), ambas desgarradas por causa das vicissitudes da vida. Estabelecendo um
princípio, Nosso Senhor, cheio de compaixão e misericórdia, falava com uma
fluência estimulante e deixava perceber a grandiosa virtude da preocupação
individual sem qualquer outro propósito, senão o de restituir vidas para Deus
pela venerável arte da admoestação. Assim, discorrerei sobre o assunto
procurando chamar a atenção do leitor para a forma adequada de usá-la para a
glória de Deus e nunca para a vanglória humana.
A mensagem de Cristo era contagiante
porque livrava o pecador da morte e o reconduzia para uma Nova Vida, caso houvesse
arrependimento. Quem não se lembra da pecadora “aprisionada” por uma turba de
homens que a pegaram em ato de adultério? De Zaqueu, o embusteiro, enriquecido
pelo surrupio de bens alheios? De Paulo, o perseguidor da Igreja? Todos são claros
exemplos da transformação operada pela graça e suas histórias ecoam para que
outros despertem, assumam sua condição e aceitem a repreensão benevolente do
Amado Salvador em arrependimento. Seus frutos? Dos dois primeiros há poucas
informações, mas de Paulo encontramos uma prova concreta de que ao aceitar o
beneplácito divino permitiu da mesma forma ser portador daquela mensagem
prodigiosa, admoestando seus ouvintes e em seguida à Igreja por semelhante
caminho: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei,
noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós” (Atos 20:31).
Lembro, segundo os exemplos acima, que
a admoestação deverá ser sempre uma repreensão benevolente em qualquer situação
que a motive. Reconheço que em alguns momentos não seja algo muito fácil até porque
podem alguns ser tomados mais pelo calor das circunstâncias do que pela virtude
propriamente cristã. Mas é exatamente por não se achar apto para a repreensão
que se faz necessário um retorno, talvez até cotidianamente, àqueles princípios
contidos nos Evangelhos para aprumar a conduta pelo grandioso fundamento. Sobre
esses princípios, posso lembrar as Bem-Aventuranças do sermão do monte. Indubitavelmente,
um manancial de vida e de espiritualidade, conferindo conhecimento autêntico de
como é o comportamento cristão e o referencial para sempre praticá-lo. Todos
aqueles que se aprofundam nesses temas têm a possibilidade de alcançar o
gracioso testemunho que evidencia o ápice da carreira cristã (oh, como anelo!).
Com eles e com tantos outros ensinos sobre as virtudes cristãs, a Igreja pode
ser conduzida a olhar o outro (o membro do corpo de Cristo, o cristão
congregado) com muito mais piedade e compaixão. Afinal, ele é o destino da
admoestação e também faz parte da Noiva de Cristo.
Admoestar é repreender para correção, é
denunciar o pecado encarecendo o bem a fazer e é a prova incontestável do
apreço e cuidado pela vida de um cristão surpreendido por algum delito. Paulo
nos conduz a agir em admoestação com muita sabedoria e cuidado nos seguintes
termos: “Não repreendas asperamente o ancião, mas admoesta-o como a pai; aos
moços como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs,
em toda a pureza” (I Timóteo 5:1-2). Até mesmo para os rebeldes e insurgentes
existe uma maneira de tratamento no arcabouço apostólico que visa sua reparação
espiritual: “Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai
o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia não o
tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão” (II Tessalonicenses 3:14-15).
Daí
repousa sobre os possuidores deste excelente dom grande responsabilidade,
porquanto não serão emissários de uma repreensão descompromissada, mas se
prestarão à arte e ao dever de admoestar para edificar. É procurando estimular
a busca por este conhecimento que asseguro a necessidade de a Igreja de
Tessalônica ser mais conhecida através das epístolas paulinas, e não ser
examinada superficialmente ou como se diz por estes lados da Terra Brasilis, com ligeireza. Ora,
Paulo atesta que essa Igreja tinha uma prática louvável de velar pelos seus
membros: admoestação para edificação. Entendo que existia reciprocidade na
situação, não havendo interesses espúrios entre o admoestador e o admoestado
criando, assim, o ambiente perfeito para o exercício e prática da virtude apresentada.
Refiro-me, nestes termos, porque vem de Paulo a informação que não me permite
pensar nada além disso: “Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo
menção de vós em nossas orações, lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé,
do trabalho do amor, e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo,
diante de nosso Deus e Pai” (I Ts 1:2-3). Era uma Igreja fiel não somente na
doutrina, mas na sua prática; não apenas pregava, mas vivia o que pregava;
correspondendo ao supremo interesse de juntar seus congregados e acolhê-los
sempre para edificá-los (tomando emprestado o anseio de Cristo ao relatar seu
desejo de juntar e unir os filhos de Israel em Lucas 13:34).
Conhecer
um crente espiritual é muito fácil e ao mesmo tempo muito difícil. Entenda-me,
a singularidade como pratica suas obras e se relaciona com o próximo já seria
mais do que suficiente, contudo, talvez em decorrência da fertilidade julgadora
nada edificante de algumas mentes injuriosas, torna-se complicado provar para
esses carrancudos os santos afetos. Além disso, não confunda o interesse do
postulado apostólico com as formas de direitos de hoje. Por força de ideologias
e elementos de reivindicações de direitos seculares muitos não gostam de ouvirem
admoestações, muito embora precisem. Para eles, isso soa como julgamento
temerário. Não é! Estão tão cheios do espírito reivindicante secular que se
esqueceram da simplicidade que o cristão deve ter à semelhança do Cordeiro de
Deus, inocente, que caminhou mudo perante seus tosquiadores. O admoestado deve
entender que a indicação de pecado na fala do seu admoestador, pautada na
Escritura, representa o melhor para a sua carreira cristã, pois a orientação
não vem do homem antes vem de Cristo. Doravante, não se deve entender essa
relação como uma disputa na qual vence aquele que apresentar o melhor argumento
quando alguns, inclusive, injetam sofismas e predicações desconexas com os fatos.
Com
ideal completamente contrário ao supracitado, Jesus ensinou a predisposição
para conservação da comunhão entre os irmãos através dos seguintes termos: “se
teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir,
ganhaste a teu irmão” (Mateus 18:15). Vejo no texto como motivação do fato a prática de pecado contra alguém, a
forma de ação é ir até quem pecou e a
maneira de resolver por um diálogo
amigável e compassivo. Emerge, então, uma dupla possibilidade como
consequência: aceitar ou não aceitar a repreensão. A aceitação encerra o
problema (glória a Deus!), mas a não aceitação gera maiores problemas, quais? A
rebeldia imperante do admoestado ou a possibilidade de pensar sobre a falta de
perícia (sabedoria) do admoestador. Por que o admoestador não foi exitoso em
sua ação? Talvez pela falta de destreza em demonstrar piedade, compaixão e amor
pelo admoestado; talvez, por inexperiência; talvez, por expressar de forma
explícita desinteresse no “resgate” do amoestado; enfim, dentre outras
possibilidades. Contudo, em Lucas 17:3, em igual narrativa sobre esse
doutrinamento, exige-se cautela e atenção para ambos os lados da questão:
“Olhai por vós mesmos” a fim de que a prudência e a compaixão permaneçam na
resolução do conflito. Noutras palavras, tanto um como o outro devem sujeição
ao Santo Espírito para que através dele possam ser conduzidos pelo caminho em
busca da paz entre ambos.
Aos
que gozam do sublime talento de admoestar, procurem utilizá-lo com capricho e
reverência porque é destinado à Noiva de Cristo em sua particularidade. Não
ostentem vanglória ou vil sentimento de merecimento já que não somos dignos de
tê-lo. Não usem para maltratar o irmão ou a irmã muito embora a prática que
motivou a censura possa ter sido repugnante, antes seja prudente e sério diante
do pecado; jamais coloque sobre si a mancha do desprezo pelo outro (Mateus
18:10). A regra paulina, se é que posso chamar assim, está explicitada em
Gálatas 6:1 e diz: “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma
ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão;
olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado”. Neste caso, pode não
haver uma segunda pessoa envolvida no pecado como acima descrito, simplesmente,
esse(a) cristão(ã) incorreu numa prática pecaminosa afetando somente a si.
Outro cristão não envolvido, mas ciente do teor da ocorrência pode ter visto ou
ter ouvido ou, ainda, ter recebido a confissão. Em mente, deve entender e
praticar as ações explícitas e implícitas no texto, quais sejam: julgar,
inicialmente, com afetação de dor e pesar (Romanos 12:15) pelo fato de algum cristão ter sido surpreendido em
alguma ofensa que quer dizer que não era o hábito ou o normal de se ocorrer
[não posso como cristão ficar feliz ou ter qualquer outro sentimento quando
um(a) irmão(ã) em Cristo sofre o prejuízo da queda]; procurar encaminhar o tal com a sensatez da mansidão,
haja vista ações sem equilíbrio emocional e sem o domínio de espírito, por mais
inquietante que seja a ocorrência, poderá enviesar para outros rumos distintos
dos quais pretendia o Espírito de Deus ao se pronunciar por instrumentalidade
de Paulo; ser vigilante e solidário para
não ser tentado por igual artificio do inimigo (geralmente digo que devemos
nos colocar na mesma situação para que nessa internalização do fato encontremos
a forma mais adequada de auxiliar em conformidade ao que Jesus nos ensinou:
“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também
vós, porque esta é a Lei e os Profetas” [Mateus 7:12]). A meu ver, esses são
alguns pré-requisitos essenciais para os que admoestam, ora chamados de
“espirituais” por Paulo.
Como
cristão, não posso me omitir da prática da admoestação, sobretudo, porque
deverá expressar o cuidado de Cristo a um “soldado caído”. A Igreja assumiu
essa função na sua individualidade e na sua coletividade com expectativa do
mesmo fim: a reparação e a edificação. Portanto, jamais poderá se omitir,
jamais deverá rejeitar, jamais deverá recusar-se a praticá-la visto que está em
causa a saúde espiritual do seu próprio corpo, pois um só membro, por mínimo que
pareça, é necessário. Que o Espírito de Deus continue nos encaminhando para
praticar todo o bem necessário sem reservas, como disse Pedro: “aparte-se do
mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a” (I Pedro 3:11).
Pr.
Heládio Santos
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