O
Ausbund é o mais antigo hinário conhecido entre aqueles que professam a fé
anabatista, ainda usado como manual de cânticos nas comunidades Amishs dos
Estados Unidos. Como documento histórico, consegue transmitir a percepção
espiritual dos cristãos da época da Reforma Radical (inserida no contexto da
Reforma Protestante) quanto à forma honrosa de proferir um engrandecimento à
majestade divina cheia de inspiradas palavras de paixão e piedade. Seu conteúdo
traz cinquenta composições de anabatistas conhecidos e reconhecidos pelo zelo
às Sagradas Escrituras, como foram Michael Schneider, Felix Manz, Michael
Sattler, Hans Hut, Leonhard Schiemer, Hans Schlaffer, George Blaurock e Hans
Leupold. A maioria dos hinos foi composta no calabouço do castelo de Passau,
lugar preparado para abrigar em prisão anabatistas entre os anos de 1535 e 1540
que se negavam a aceitar o batismo infantil e porque tinham convicções
restritas à Bíblia.
A
primeira impressão do hinário ocorreu em 1564. Uma dessas preciosidades encontra-se
exposta na Biblioteca Histórica Menonita de Goshen College cujo título em
alemão é “Etliche schöne christliche Gesäng wie dieselbigen zu Passau von
Schweizer Brüdern in der Gefenknus im Schloss durch göttliche Gnade gedicht und
gesungen” (Muitas belas canções cristãs que foram escritas e cantadas através
da graça de Deus pelos irmãos suíços na prisão do castelo de Passau).
Os
hinos mais antigos versam sobre o sofrimento daquele grupo de cristãos,
conhecidos como Igreja Peregrina, por viverem em um contexto de aflições e
imposições religiosas que contrariavam sua fé simples. Algo digno de ser
relatado é que muito embora transmitam suas angústias e tristezas diante da
iminente morte eles não abdicavam de guardarem a fé, bem como traduziam nesses
escritos sua compreensão sobre a comunhão com o Senhor através do cantar.
Apesar do árduo sofrimento, uma das premissas bíblica incorporadas pela aquela
gente simples era poder agradecer a Deus por tudo e não terem ressentimentos
com esta vida, pois a vida do porvir se apresentava incomparavelmente superior,
por isso cantavam: “Ó Deus, Pai, nós te louvamos e tua bondade, nós
louvamos...” (canção 131).
Um dos
elementos mais empolgantes das letras da hinodia anabatista é a orientação
primaz que traz pelos ensinos bíblicos. Logo na primeira música, de autoria de
Sebastian Franck, cristãos são elevados a dedicarem-se em espírito e em verdade
ao Criador, apegando-se também a oração e a louvar submissos aos ditames dos
Salmos. Dentre os assuntos propostos nas demais letras dos hinos estão: a visão
anabatista sobre o batismo para crentes confessos, a santa ceia do Senhor, santidade
de vida, vida em comunidade e a escatologia bíblica, incluindo neste o último o
hino No. 46, “Ain new christelich Lied von der gegenwardig schröcklichen
letzten Dagen, em welchen, vil verschieden secten, auffrührerisch und falsche
Propheten erschainen, auch blutdirstige tyrannen” (Uma nova música cristã dos
opressivos e terríveis últimos dias em que muitas seitas diferentes, profetas
rebeldes e falsos e tiranos sanguinários aparecem).
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