O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Ausbund

O Ausbund é o mais antigo hinário conhecido entre aqueles que professam a fé anabatista, ainda usado como manual de cânticos nas comunidades Amishs dos Estados Unidos. Como documento histórico, consegue transmitir a percepção espiritual dos cristãos da época da Reforma Radical (inserida no contexto da Reforma Protestante) quanto à forma honrosa de proferir um engrandecimento à majestade divina cheia de inspiradas palavras de paixão e piedade. Seu conteúdo traz cinquenta composições de anabatistas conhecidos e reconhecidos pelo zelo às Sagradas Escrituras, como foram Michael Schneider, Felix Manz, Michael Sattler, Hans Hut, Leonhard Schiemer, Hans Schlaffer, George Blaurock e Hans Leupold. A maioria dos hinos foi composta no calabouço do castelo de Passau, lugar preparado para abrigar em prisão anabatistas entre os anos de 1535 e 1540 que se negavam a aceitar o batismo infantil e porque tinham convicções restritas à Bíblia.
A primeira impressão do hinário ocorreu em 1564. Uma dessas preciosidades encontra-se exposta na Biblioteca Histórica Menonita de Goshen College cujo título em alemão é “Etliche schöne christliche Gesäng wie dieselbigen zu Passau von Schweizer Brüdern in der Gefenknus im Schloss durch göttliche Gnade gedicht und gesungen” (Muitas belas canções cristãs que foram escritas e cantadas através da graça de Deus pelos irmãos suíços na prisão do castelo de Passau).
Os hinos mais antigos versam sobre o sofrimento daquele grupo de cristãos, conhecidos como Igreja Peregrina, por viverem em um contexto de aflições e imposições religiosas que contrariavam sua fé simples. Algo digno de ser relatado é que muito embora transmitam suas angústias e tristezas diante da iminente morte eles não abdicavam de guardarem a fé, bem como traduziam nesses escritos sua compreensão sobre a comunhão com o Senhor através do cantar. Apesar do árduo sofrimento, uma das premissas bíblica incorporadas pela aquela gente simples era poder agradecer a Deus por tudo e não terem ressentimentos com esta vida, pois a vida do porvir se apresentava incomparavelmente superior, por isso cantavam: “Ó Deus, Pai, nós te louvamos e tua bondade, nós louvamos...” (canção 131).

Um dos elementos mais empolgantes das letras da hinodia anabatista é a orientação primaz que traz pelos ensinos bíblicos. Logo na primeira música, de autoria de Sebastian Franck, cristãos são elevados a dedicarem-se em espírito e em verdade ao Criador, apegando-se também a oração e a louvar submissos aos ditames dos Salmos. Dentre os assuntos propostos nas demais letras dos hinos estão: a visão anabatista sobre o batismo para crentes confessos, a santa ceia do Senhor, santidade de vida, vida em comunidade e a escatologia bíblica, incluindo neste o último o hino No. 46, “Ain new christelich Lied von der gegenwardig schröcklichen letzten Dagen, em welchen, vil verschieden secten, auffrührerisch und falsche Propheten erschainen, auch blutdirstige tyrannen” (Uma nova música cristã dos opressivos e terríveis últimos dias em que muitas seitas diferentes, profetas rebeldes e falsos e tiranos sanguinários aparecem).

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