Por Antonio Welderlan da Silva Sales
“Naquela
hora chegaram-se a Jesus os discípulos e perguntaram: Quem é o maior no reino
dos céus?” (Mt 18:1)
Qual discípulo era mais amado por
Jesus? Qual, dentre eles, seria coroado com maior honra em seu reino? Qual
seria suas recompensas diante de tal esforço? Muito além de uma dúvida, a
pergunta dos discípulos mostra-nos uma disposição de seus corações.
Lúcifer,
motivado por um sentimento de inveja e superioridade em relação aos seus pares,
chegou a ponto de dizer ao próprio coração: “Eu subirei ao céu; acima das
estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me
assentarei, nas extremidades do norte” (Is 14:13); O desejo de ser superior
aos demais anjos criados por Deus era enorme. Lúcifer não só não aceitou sua
condição de criatura, como quis assemelhar-se ao criador em grandeza e poder,
como diz-nos a continuação do texto aludido: “subirei acima das alturas das
nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14:14).
O
homem, por sua vez, quando enganado pela serpente (Gn 3:6) abriu-se-lhe os
olhos e o pecado passou a reinar sobre o mesmo, de tal modo que tornou-se
ambicioso e ávido pelo poder. Gênesis 11:1-4 revela-nos que o homem, assim como
Lúcifer, quis diferenciar-se dos demais e, podemos inferir, assemelhar-se ao
Senhor em grandeza:
“Ora,
toda a terra tinha uma só língua e um só idioma. E deslocando-se os homens para
o oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e ali habitaram. Disseram uns aos
outros: Eia pois, façamos tijolos, e queimemo-los bem. Os tijolos lhes serviram
de pedras e o betume de argamassa. Disseram mais: Eia, edifiquemos para nós uma
cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e façamo-nos um nome,
para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.”
Algumas
lições podemos extrair desse texto: 1) Porque uma torre que chegasse ao
céu? Podemos conjecturar que a ideia que os homens tinham de Deus era de um ser
impessoal, que vivia no céu, distante dos problemas e dilemas enfrentados por
eles. Talvez, a percepção que eles tinham era que, ao chegarem lá (no céu),
seriam semelhantes a Deus; 2) O sentimento que os levava a agir de tal
forma era, antes de tudo, a ambição, pois queriam “fazer um nome” (v.v.
4) e ser reconhecidos como povo forte e destemido. Mais uma vez, portanto,
vemos a história se repetindo e a criatura buscando ser semelhante ao criador.
A
bíblia sagrada, entretanto, mostra-nos que um dos atributos divinos do nosso
Senhor é a onipotência; Ele próprio ratifica tal atributo quando se revela a
Moisés como o “EU SOU O QUE SOU” (Ex 3:14) demonstrando não se limitar a moldes
e rótulos humanos; Jó, em outro momento, se refere a Ele como aquele “que
tudo podes” (Jó 42:2) e o anjo que apareceu a Maria, ao relatar a concepção
de Isabel, que era estéril e já avançada em idade, disse que “para Deus nada
será impossível” (Lc 1:37). Tal atributo divino o coloca acima de tudo e de
todos, a ponto de o próprio Deus, em um período no qual Israel estava tão envolto
no pecado da idolatria, declarar a Isaías: “Eu sou o Senhor; este é o meu
nome; a minha glória, pois, a outrem não a darei...” (Is 42:8).
Tudo
o que falei até agora, entretanto, serviu-me apenas por introdução ao texto de
Mateus 18:1 que revela-nos muito mais que uma simples pergunta. O texto
fala-nos que “chegaram-se a Jesus os discípulos”, ou seja, a dúvida era
comum a todos e houve um diálogo entre eles, levando-os a um consenso. O Dr.
Lucas, ao relatar esse mesmo episódio, revela-nos o sentimento que havia em
seus corações. Vejamos: “E suscitou-se entre eles uma discussão sobre
qual deles seria o maior. Mas Jesus, percebendo o pensamento de seus
corações, tomou uma criança, pô-la junto de si, e disse-lhes...” (Lc
9:46-48a). estava havendo uma discussão ali, mas Jesus, que vê muito além,
atentou-se para aquilo que era mais profundo, para “o pensamento de seus
corações”. Aquela discussão revelava muito mais sobre eles do que eles
imaginavam, pois mostrava vossas intenções mais profundas e obscuras, enraizadas
nos seus corações.
Quando
questionado pelos fariseus por seus discípulos não lavarem as mãos antes de se
alimentarem (Mt 15:2), Jesus responde de forma clara e concisa: “Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que
contamina… o que sai da boca procede do coração..” (Mt 15:11,18). Nosso
coração é enganoso (Jr 17:9), dele procede nossos tesouros (Lc 6:45a) e falamos
daquilo que ele está cheio (Lc 6:45b).
Jesus
responde aos seus discípulos de forma inusitada e sábia: “Jesus, chamando
uma criança, colocou-a no meio deles, e disse-lhes: Em verdade vos digo que se
não vos converterdes e não vos fizeres como crianças, de modo algum
entrareis no reino dos céus.” (Mt 18:2,3). Crianças são puras, não desejam
mal, não invejam, não são orgulhosas nem fazem acepção.
Que
Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, faça-nos como crianças com o
coração disposto a perdoar, a amar e a obedecer ao nosso Senhor em amor.
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