O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Nunca é tarde para estudar


Você nunca fará nada neste mundo sem coragem.
É a melhor qualidade da mente ao lado da honra.
Aristóteles

O sonho era antigo. Talvez remonte a juventude quando por influência da irmã Helena (formada em Letras e professora de línguas antigas na Assembleia de Deus) foi instigada a prestar vestibular para ingressar na faculdade e ter uma profissão. Algo um tanto quanto inusitado na época para muitos evangélicos cujas igrejas não consideravam o estudo acadêmico importante. Era o final da década de 80, instante no qual essas mesmas Igrejas ainda usufruíam de espiritualidade intensa e devotada para o fiel cumprimento da vocação inspirada pelo bom Salvador. Por isso, o sonho não se realizou naquele momento, na verdade, foi substituído por um “chamado” de Deus para ajudar o pai (José Silva Tôrres) numa ousada investida: abrir um trabalho missionário em lugar avesso à pregação do puro Evangelho, rebelde e tantas vezes perseguidor.
Passaram-se anos e através de sua ajuda incansável o trabalho prosperou, ganhando aquela obra considerada referência na região; passando a ser, então, uma Igreja e não mais um ponto de pregação, apesar da existência de um templo desde o começo. Durante aqueles anos, também serviu nos negócios da família, tendo dores de cabeça e alegrias como frutos do labor secular, mas sempre prestando o melhor trabalho possível. Foi de fato um grande apoio para o pai. Uma década passou laborando na região de Beberibe, aproveitando também as belezas naturais das ensolaradas praias ali existentes, ainda puras e não tocadas pela exploração turística e imobiliária. Um bálsamo para quem lutava desde o raiar do dia (literalmente falando) até à noite, no apagar da luz do quarto quando era vencida pelo cansaço já na madrugada.
Este tempo só cessou quando retornou para a capital devido seu enlace matrimonial. A labuta passou a ser a da sua própria casa, mas como sempre se mostrou uma pessoa com muita resiliência queria algo mais. Retornou ao SENAC para aprender a trabalhar com o pacote OFFICE da Microsoft. Recebeu seu certificado após a conclusão de seu curso. Vieram as filhas para as quais dedicou cada momento, aproveitando o vínculo e exercendo o papel de mãe com esmero. Em nenhum momento pestanejou ou relutou pelas dádivas que o Senhor Deus havia lhe confiado. Quando as meninas cresceram, tornando-se um pouco mais independentes, resolveu buscar cursos de formação de nível médio para, quem sabe, cursar uma graduação. Foi em busca do CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos) em Messejana, local no qual recebeu grandes estímulos para realizar seu antigo sonho. Nesse ínterim, sentiu-se na responsabilidade de fazer um curso de secretariado (CETREDE) para que no final pudesse buscar um emprego e ajudar em casa, uma vez que naquele momento seu marido não gozava de vínculo empregatício. Foi resoluta em seu curso. Aproveitou oportunidades como secretária na PRF (Polícia Rodoviária Federal) tirando a folga de uma amiga de curso para ganhar algum dinheiro e assim poder ajudar nas despesas do lar. Mas, não esquecia de seu sonho. Prestou vestibular na UECE. Não foi aprovada. Fez suas primeiras tentativas no ENEM, mas sem uma boa preparação também não logrou êxito. Conciliou a ida para deixar as filhas na escola, na época no Centro, para fazer um cursinho de preparação para o ENEM. Conseguiu um curso acessível para as condições financeiras da família: APESC (Associação dos Professores do Ensino Superior do Ceará). Recebeu muito apoio dos professores. Cumpriu novamente seu papel de estudante 30 (trinta) anos após concluir o ensino médio. Dedicou-se. Estudou. Fez inúmeras redações, ora com notas não tão boas, ora com algumas que motivaram esperanças. Desejou caminhar pelo meio ambiente, tendo a primeira aprovação no IFCE, no curso de Técnico em Meio Ambiente, mas algo mais forte lhe chamava para outro caminho. Enfrentou novamente a fera do ENEM com bravura a fim de derrubar aquele bicho papão que já lhe tinha derrubado em momentos passados, mas não a tinha desanimado... Enfim, a fera não resistiu sua força interior e entregou o prêmio pela sua determinação: a aprovação no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará, um dos cursos cujas notas de corte têm sido muito altas desde que o ENEM foi adotado como forma de ingresso.
Hoje, Maria Luísa (carinhosamente conhecida como Maninha) conclui sua graduação, defendendo seu aprendizado ao longo dos anos na academia. Seu olhar voltou-se para aqueles que como ela tiveram muita dificuldade para ingressar na Universidade. Estudou, para realizar sua monografia e concluir seu curso, “o ensino cooperativo entre surdos”, entendendo seus anseios, suas paixões, seus desafios e suas esperanças. Identificou-se com eles. Adora se comunicar conosco através de sinais. Não gosto porque nada entendo (preciso fazer mais algum curso de libras), mas percebo sua sensibilidade e seu envolvimento com seu objeto de estudo. Nada mais louvável.
A fé, portanto, tem o poder de transportar montes como bem disse Jesus e cumprir nosso papel enquanto cristãos, pois somos instigados a buscar conhecimentos salutares para o desenvolvimento humano para também podermos exercer nossa influência ética, moral, disciplinada e compromissada com valores que exaltam o ser humano enquanto piedosos em Cristo. Como membro da Igreja Batista Renovada Moriá, Maninha passa a ser referência e estimula os congregados que desejam chegar mais longe a sonharem. Aos 50 (cinquenta) anos, começa uma nova fase de sua vida. Agora, com a certeza do dever cumprido e com uma profissão em mãos, alcançada pela pura determinação de um nobre coração; daqui há alguns dias, após o reitor lhe conferir o título, será graduada.
Ao longo de sua caminhada na Universidade fez muitas amizades, certamente pelo jeito simples e cativante de ser. Criou vínculos. Amparou muitas colegas de turma. Aconselhou. Soube caminhar por cada situação confirmando e nunca deixando de ser esta pequena grande mulher cristã.

Agradecimentos à prof(a). Dra. e Diretora (Faculdade de Educação) Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca, ao Prof. Doutorando Hermany Vieira, à Prof(a) e Doutoranda Nágila Rabelo e à Pedagoga Amanda Rodrigues pelo apoio na construção do conhecimento e desenvolvimento da monografia.

Essa matéria é uma singela homenagem de seu marido e de suas filhas (Heládio, Hévila e Lívia)

Glórias, honras e louvor sejam sempre ao nosso grande e amoroso Deus cujo Filho, Jesus, através do Santo Espírito, nos faz triunfar!






































Um comentário:

  1. Glória a Deus, pela suav perseverança e exemplo como mulher de Deus!
    Incentivo a galgar novos degraus: especialização na área de educação especial.

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