O princípio da renúncia foi mencionado nas
Escrituras quando Cristo percebeu interesses diversos dos que o seguiam. A
multidão que o rodeava tinha como objetivo satisfazer algumas de suas
necessidades físicas e materiais uma vez que estava convencida de que aquele
mestre os remediaria, por isso levavam muitos enfermos e endemoniados para
serem libertados dos seus males. Queriam receber, mas não tinham interesse em
oferecer suas vidas para o serviço do Reino porque se limitavam aos interesses
terrenos. Esse sentimento é muito comum quando se fala em renunciar benesses da
vida para seguir a Cristo, mas está escrito: “Se alguém vier a mim, e não
aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode
ser meu discípulo” (Lucas 14:26).
Renunciar é recusa e é rejeição. A
atitude de renunciar se propõe a recusar as influências mundanas que nos
afastam da plena obediência a Deus. Rejeita-se aquilo que é mundano por causa
de uma conclusão orientada pelas Escrituras que considera a efemeridade da vida
e o desprezo pelos prazeres imediatos. A cegueira espiritual da multidão, no
entanto, não lhe permitiu enxergar com similar agudeza de espírito. Mas naquele
contexto, após uma aparente reprimenda de Jesus, ele apresenta o assunto da
renúncia numa linguagem muito acessível, como alguém interessado em vê-la
seguindo-o definitivamente. A proposição da parábola sobre a reflexão que um
construtor tem de fazer antes de empreender na sua obra e a de um rei que tem
de tomar uma decisão diante do exército inimigo são exemplos de renúncias
presentes no cotidiano.
Quando alguém pretende construir uma
torre, asseverou Jesus, faz-se necessário levantamento de despesas e
planejamentos. Se alguém computa todos os gastos e vê que não tem condições de
começar e acabar sua construção, não se aventura, porquanto será humilhado caso
siga adiante. Se um rei vai à batalha com uma quantidade de homens inferior ao
do exército oposto, ele poderá perder a guerra e ser humilhado. Por isso, se
não tem como guerrear pede condições de paz. Nas duas proposições, o argumento
parece óbvio: refletir e tomar uma decisão. Não construir a torre era renunciar
segurança e defesa de bens patrimoniais. Um rei pedir condições de paz
significava renunciar o direito de ser rei e passar a ser servo. Percebe-se nas
duas parábolas a intenção de convencer os ouvintes de que renúncia é elemento
presente no dia-a-dia.
Outra intenção de Cristo era mediar uma
ponderação com respeito o ser discípulo. Se a multidão queria segui-lo em
conformidade com os propósitos divinos tinha que cumprir com determinada condição,
a renúncia. Para alcançar notável virtude cristã era necessária a verdadeira
revelação de quem era aquele Nazareno. Concluindo que Jesus era aquele predito
pelos profetas (o Messias, o Ungido, o Filho de Deus) a decisão incondicional
de segui-lo seria o próximo passo.
Portanto, se alguém diz que renunciar a vida para seguir a Cristo é
discurso ultrapassado e religioso, demonstrando menosprezo pelas palavras de
Jesus, na verdade, não entendeu a finalidade de sua vinda. Essa é a única ação
coerente pela qual o homem deve se nortear, fundamentando sua vida na Rocha. Essa
informação é de suma importância para as duas categorias as quais Deus enxerga:
o salvo e o perdido. Se o salvo considera as palavras de Jesus negará os vícios
e vaidades deste mundo para seguir a Cristo, se pelo contrário, demonstrará que
é sal insípido do qual não se pode restituir sabor se equiparando ao perdido
que sempre foi desprovido da graça divina.
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