O cristão anabatista participa de
qualquer forma da política deste mundo? Esta é uma questão relevante para os
anabatistas tradicionais: já que qualquer militância, participação,
envolvimento, tende a inseri-lo no sistema que é inerentemente oportuno ao anticristo.
Dentre outros conflitos em potencial, os governos - até mesmo os melhores
governos democráticos - confiam no uso da força para conseguir o que
querem. Isso afeta desproporcionalmente grupos marginalizados que são
prejudicados, inclusive, os que querem viver piedosamente em Cristo (hoje a
Igreja vive um temor pelo futuro devido às propostas nada tradicionais de
muitos partidos). Mas, até que ponto podemos ser parte de tal sistema,
enquanto afirmamos seguir a Jesus que viveu e ensinou a viver de maneira, às
vezes, opostas a este sistema de coisas?
Para mim, a questão em
grande parte se concentra em quem você coloca sua
esperança. Temos a escatologia bíblica em andamento, não resta
dúvida. Cada parte mundanizada vai propondo sua abordagem à governança
anticristã iminente, mesmo que essas ações demonstrem uma utopia em seus
discursos atuais. Entretanto, como cristãos, nossa esperança deve ser
inteiramente em Jesus. Ele é a fonte de alegria e paz e amor no
mundo.
Fora do contexto da
Igreja e dissociado dela, já que a noiva de Cristo não quer se prostituir com
os reis da terra, diferentes partidos políticos podem fazer coisas ruins e
muito ruins, por isso temos que mantê-los distantes em perspectiva diferente da
nossa, não sendo solidários nem estimulando outros a participarem de suas
ideologias. Nosso brado e compromisso se resume na prática do Evangelho e nos
seus estatutos. Para Hillerbrand: “Os anabatistas, com uma visão
basicamente negativa em relação ao mundo e ao Estado, tinham pouca esperança de
melhorar a sociedade. Essa atitude negativa, quando combinada com a
natureza coercitiva do Estado no século XVI, levou os anabatistas a acreditar
que um cristão não poderia ocupar um cargo político” [1].
Quando um quadro anormal
a esse aparece contagiando cristãos tradicionais, percebe-se um surgimento do
medo que domina muitos corações, enegrecidos pelos discursos políticos de
partidos opositores aos ideais cristãos. Muito embora como cristãos somos
chamados a não ter medo do mundo, porque Jesus superou o mundo, alguns vacilam
desprezando esse ensino. Porém, temos uma participação na conduta política do
mundo: orar pelas autoridades constituídas para termos paz. Caso não tenhamos,
o Espírito nos encherá quando formos colocados perante os governantes e
magistrados para defender nossa fé. E isso nos basta!
[1] Hans J. Hillerbrand, “An Early
Anabaptist Treatise on the Christian and State,” The Mennonite Quarterly
Review 32 (1958): 30-32; Kreider, “Anabaptists and the State,” pp. 190-1.
Nenhum comentário:
Postar um comentário