O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

domingo, 21 de outubro de 2018

Uma breve meditação sobre "O cavalo e seu menino"


Por Lívia Tôrres dos Santos

Quando comecei a ler O cavalo e seu menino, o terceiro livro da saga de As crônicas de Nárnia, do renomado autor C.S.Lewis, não sabia o que me esperava; claro, conhecendo as outras histórias e os filmes, tinha uma ideia superficial do que me esperava. No decorrer da leitura, surpreendi-me com alguns trechos. Neles, eu me encontrei e me identifiquei. O trecho é o seguinte:
coisa (se é que não era uma pessoa) ia tão silenciosa que talvez fosse mera imaginação. Já estava certo disso, quando ouviu ao seu lado um suspiro grande e profundo. Não era imaginação! O fato é que sentiu o hálito quente desse longo suspiro na mão direita.
(...)
— Quem é você? — murmurou baixinho.
— Alguém que esperava por sua voz — respondeu a coisa.
O tom não era alto, mas amplo e profundo.
— Você é... um gigante?
— Pode me chamar de gigante — disse a grande voz. — Mas não me pareço com as criaturas que você chama de gigantes.
— Não consigo vê-lo — falou Shasta, depois de muito tentar.
Uma coisa terrível lhe passou pela cabeça. Com a voz quase trêmula de choro, perguntou:
— Você não é... não é uma coisa morta... é? Vá embora, por favor. Nunca lhe fiz mal. Ó, sou o sujeito mais desgraçado do mundo!
Sentiu novamente o hálito quente da coisa no rosto e na mão.
— Morto não respira assim. Pode me contar as suas tristezas, rapaz.
O hálito deu a Shasta um pouco mais de confiança. Contou então que jamais conhecera pai e mãe, que fora criado por um pescador muito severo. Contou sobre como fugira, sobre os leões que os perseguiram, os perigos em Tashbaan, a noite entre os túmulos, as feras que uivavam no deserto, o calor e a sede durante a caminhada, e o outro leão que surgiu quando estavam quase chegando, Aravis ferida... Contou, por fim, que estava com fome, pois não comia nada havia muito tempo.
— Não acho que seja um desgraçado — disse a grande voz.
— Mas não foi falta de sorte ter encontrado tantos leões?
— Só há um leão — respondeu a voz.
— Não estou entendendo nada. Havia pelo menos dois naquela noite...
— Só há um leão, mas tem o pé ligeiro.
— Como sabe disso?
— Eu sou o leão.
Shasta escancarou a boca e não disse nada. A voz continuou:
— Fui eu o leão que o forçou a encontrar-se com Aravis. Fui eu o gato que o consolou na casa dos mortos. Fui eu o leão que espantou os chacais para que você dormisse. Fui eu o leão que assustou os cavalos a fim de que chegassem a tempo de avisar o rei Luna. E fui eu o leão que empurrou para a praia a canoa em que você dormia, uma criança quase morta, para que um homem, acordado à meia-noite, o acolhesse.
— Então foi você que machucou Aravis?
— Fui eu.
— Mas por quê?!
— Filho! Estou contando a sua história, não a dela. A cada um só conto a história que lhe pertence.
— Quem é você?
— Eu mesmo — respondeu a voz, com uma entonação tão profunda que a terra estremeceu. E de novo: — Eu mesmo — com um murmúrio tão suave que mal se podia perceber, e parecia, no entanto, que esse murmúrio agitava toda a folhagem à volta.
Shasta já não temia que a voz pertencesse a alguma coisa que o devorasse; nem temia que fosse a voz de um fantasma. Uma coisa nova aconteceu, um tremor que lhe deu certa alegria.
(...)
Uma luz dourada surgiu à esquerda, e Shasta pensou que fosse o sol.
Caminhando a seu lado, maior do que o cavalo, estava um Leão. O cavalo não parecia ter medo, ou talvez não o visse. Era dele que vinha a luz dourada. Ninguém jamais viu algo tão belo e terrível.
Felizmente, o menino vivera toda a sua vida no Sul, e não havia escutado os casos, cochichados em Tashbaan, sobre um tétrico demônio de Nárnia que costumava aparecer na forma de leão. E, naturalmente, também tudo ignorava sobre as verdadeiras histórias de Aslam, o Grande Leão, o filho do Imperador-dos-Mares, o Rei dos Grandes Reis de Nárnia. Mas, depois de espiar mais uma vez o Leão, pulou do cavalo. Não conseguia dizer nada, mas também não queria dizer nada, e sabia que nada precisava dizer.
O Grande Rei encaminhou-se para ele. A juba e um perfume estranho e solene, que nela pairava, cercaram o menino. O Leão tocou a fronte de Shasta com a língua. Os olhos de ambos encontraram-se. Depois, instantaneamente, a brancura da névoa misturou-se com o brilho ardente do Leão, num redemoinho de glória, e os dois sumiram.
Shasta se viu só, com o cavalo, na relva de uma colina, sob um céu azul. Todas as aves do mundo cantavam.”

O encontro de Shasta com Aslan me faz lembrar o nosso encontro com Deus. Tudo que Shasta sente, todo seu passado guiado por Aslam, me faz lembrar como Deus faz coisas semelhantes em nossas vidas: ajudando-nos, guiando-nos e livrando-nos de todo o mal. A presença que Shasta sente ao falar com Aslam e comunicar a Ele seus problemas, o alivio e felicidade que ele sente depois de tudo e a maneira como ele expressa o cantar de todas as aves do mundo pode ser interpretado como a maneira pela qual se demonstrou a plenitude do seu ser e como ele passou a ver o mundo depois do encontro com Aslam. Esse livro é maravilhoso e ótimo para aprendermos valores cristãos.

Referência

Lewis, C.S. O cavalo e seu menino. Martins Fontes: São Paulo, 1997.


Nenhum comentário:

Postar um comentário