No final de 1989, o
grupo de amigos se reencontra, agora, firmados em Cristo e ansiosos para fazer
a obra de Deus. Através da Igreja criaram vínculos fraternais e novas amizades
com outros irmãos e irmãs dos mais diversos segmentos. Nesse tempo, os membros
da Igreja davam seus testemunhos e diziam ter sido: forrozeiros, festeiros,
roqueiros, religiosos, macumbeiros, jovens malinos, idólatras, pecadores
“pacíficos” e rebeldes. Era um misto de gente capaz de ser domado apenas pela
graça redentora e pelo favor divino. Sob a orientação do jovem Glauco, ainda
não consagrado pastor, a pequena comunidade vivia dias de uma fé autêntica.
A atenção dada ao
jovem ministro (reconhecimento que todos prestavam inclusive os mais velhos)
era o símbolo de que Moriá não seria uma simples Igreja. Nos seus primeiros
dias fora chamada Igreja de Nova Vida, devido à boa influência de um casal do
Rio de Janeiro cuja Igreja assim se chamava, tendo como bispo M. Robert
McAlister, o qual muito apreço dedicava Glauco Filho. No entanto, perceberam posteriormente
que a Igreja devia ter identidade própria uma vez que se tratava de uma
inspiração divina para nossa geração. Não que o nome tenha relevância para
Deus, a iniciativa seria classificar o movimento com seriedade e devoção para
outras igrejas e para o mundo. Por decisão comum chegaram ao nome Moriá. Agregaram
o termo Batista que simboliza a igreja perseverante cujo rastro foi deixado na
História. Também Renovada em razão da fé na doutrina pentecostal e do anseio pelo
vento do Espírito o qual encheria os muitos cenáculos que seriam formados. Mas,
Moriá é a chave, é o termo principal. Ilustra a fé virtuosa e ousada para fazer
o que fosse necessário, segundo as Escrituras, para servir a Deus. Moriá é
sacrifício santo, é desprendimento, é compromisso com a verdade revelado
através de vidas santas, é colocar o Reino de Deus em primeiro lugar, é não ser
nem estar acomodado em Sião, é zelar pela sã doutrina, é transmitir a verdade
sem receios e sem medos, é não se conformar com o mundo... é entregar seu
Isaque constantemente no altar de Deus.
Para tanto, o jovem
Glauco Barreira Magalhães Filho era exemplar. Sua conduta solidária quebrava
barreiras das desconfianças. O alinhamento com pessoas simples para conduzir a
obra por ele iniciada serviu para verificarmos que seu julgamento não era com
acepção de pessoas. Com a simplicidade cristã transmitiu sua mensagem e caiu
nas graças do seu povo. De fato era um jovem de coração simples, muito humano e
direcionado por Deus. Todos tomavam seus conselhos, pois apesar de jovem era
dotado de uma maturidade extraordinária.
Sua simplicidade era
notável. Abdicou, por vezes, do conforto para ser uma pessoa que passava pelas
mesmas experiências dos demais. Às vezes, nos dias de culto ou visitas, saía de
casa a pé e ia até a Pinho Pessoa, na Vila Arão, sem qualquer constrangimento.
Tanto a ida como a volta para a casa, cedo ou tarde da noite. Morava neste
tempo por trás do Palácio do Governo do Estado do Ceará, quase no final da
avenida Barão de Studart. Era um longo trajeto. Fazia isso para se sentir mais
humano, sentir os dramas dos outros, nivelar-se com os que estavam abaixo do
seu status social. Um forte exemplo cristão.
Sua formação em
andamento em Direito, pela UFC, não o impedia de fazer a obra. Era uma pessoa
multitarefa. Sempre foi brilhante no contexto acadêmico, estando entre os
melhores e os mais respeitáveis de sua sala. Seus estudos do Direito, de certa
forma, possibilitaram exposições das Escrituras muito bem amparadas. Nesta
idade, com 18 (dezoito) anos, era muito conhecido nas diversas Assembleias de
Deus da cidade. Era convidado para pregar em muitas delas. Sua pregação
eloquente era bem recebida nas igrejas pentecostais. Nas Igrejas Batistas
Nacionais não era diferente. Uma vez, em um culto da Jubance (Juventude Batista
Cearense – órgão da juventude da Convenção Batista Nacional), no templo da
Igreja Batista de Antônio Bezerra, o jovem Glauco, com indumentária simples foi
chamado para pregar. Não tinha sido convidado previamente. Era comum nos cultos
o responsável pela condução do evento escolher alguém para pregar. Nesta noite
coube a Glauco Filho. Foi uma pregação de fogo para jovens. Vimos muitos jovens
caídos ao chão após a pregação, gemendo em busca da renovação espiritual. Cerca
de dez jovens foram batizados naquela noite.
Por essa razão,
sempre que os membros sabiam que Glauco iria visitar algum culto de mocidade,
os jovens de Moriá uniam-se a ele. Foi assim que começou o movimento de
mocidade atuante na Igreja. Os jovens de Moriá começaram a conhecer muitos
irmãos de outras igrejas e criaram laços. Naquele tempo, os cultos de mocidade das
assembleias ocorriam mensalmente, principalmente nos sábados. Algumas realizavam
cultos às quintas, como era o caso da Assembleia de Deus do Serviluz, a mais
fervorosa da época, principalmente no tempo antes de sua reforma, com a qual
firmaríamos fortes laços. Portanto, o jovem pregador era acompanhado quando ia
para as muitas Assembleias de Deus: Serviluz, Morro do Teixeira, Nova Aldeota,
Varjota, Messejana, Estação Alencarina, entre outros.
De onde ele veio?
Tinha lido as Escrituras desde criança, auxiliado pelo pai. As Escrituras
exerceram uma influência sobre ele diferente da maioria dos casos. Assumia nas
brincadeiras infantis a identidade dos heróis da Bíblia, incorporando o sentido
para os quais foram vocacionados por Deus. A paixão pelo santo livro começa com
uma interação ingênua, mas que redundou para um comprometimento maior no
futuro. Cresceu e na adolescência conheceu uma Igreja evangélica, a única no
seu campo de visão. Na Assembleia de Deus Betesda ingressou e começou um
trabalho de evangelização que futuramente possibilitou o encontro com o saudoso
irmão Augusto Saldanha, o pregador da Praça do Ferreira. Foi o irmão Saldanha
que apresentou o jovem Glauco aos púlpitos assembleianos. Daí para frente os
pastores assembleianos tradicionais reverenciavam o vigor daquele jovem
espiritual. Imagino que os pastores se reconheciam naquele jovem. Os pastores
da época eram homens maduros e experientes na seara do mestre, mas passavam por
um problema “novo”: suas igrejas estavam em decadência espiritual e moral,
saindo do padrão legado pelos pioneiros, por influência de pregadores e
teólogos liberais. Sua membresia cedeu ao mau capricho, tendo reflexos
negativos até hoje. Em vistas da contraposição àquela situação, um jovem de
nobre família, acadêmico do Direito e distinto servo de Cristo como Glauco
defendendo o padrão bíblico e conservador era como um bálsamo para seus
corações. Era o que víamos e sentíamos na época.
Pelo problema do
liberalismo teológico em sua igreja resolveu se desligar da mesma, saindo em
paz com o pastor Ricardo Gondim, responsável pela Betesda na época, após expor
serenamente suas razões. Além disso, tinha recebido orientações de Deus para
iniciar uma obra na Piedade, local que não contava com uma Igreja avivada. Foi
circulando pelas ruas desse bairro, mais especificamente pela Rua Padre Antonino,
que encontrou vários jovens conversando sobre questões da vida. Evangelizou
todos. A partir dali iniciou seu trabalho, levando-os para seu primeiro culto
realizado na região.
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