Zigmund Bauman, homem-pensador lúcido
cujo pensamento revela a essência da realidade moderna, ou como o próprio a definia:
uma “modernidade líquida”, deixará uma lacuna entre a intelectualidade que pensa
tão nobremente os aspectos sociais emergentes para se tornar em definitivo um
dos pilares das ciências humanas. Apesar de sua morte, diga-se de passagem, “em
avançada idade” e com uma vida envolvida com o pensamento sociológico e
filosófico, analisando, dentre outras, a tríade modernidade, consumo e indivíduo,
seu legado constitui-se de uma das mais autênticas ferramentas para descortinar
o “show da vida”, encarando seus problemas e dilemas numa perspectiva sociológica
bem abrangente e muito bem articulada.
Aprecio Bauman em virtude de suas teorias
serem tão bem recepcionadas pela sociologia da religião da qual faço minhas
incursões pelos caminhos da reflexão que não posso dizer que não recebo fortes
influências de seu pensamento. Suas análises da realidade e efemeridade em
muito se alinham com a riqueza do pensamento cristão cujo teor alude acerca das
vaidades e transitoriedade da vida, apesar de o mesmo não atestar sobre a fé em
Cristo. Seu “pessimismo”, por exemplo, é na verdade uma grande contribuição
para identificarmos certos conceitos do Cristianismo, pois quando trata, sob um ângulo
minorante, das relações sociais, logo detectamos o esfacelamento do apreço do
homem pelo homem, a crise de identidade, a avareza em alto grau, a ilusão pela
vida, a ausência do verdadeiro sentido das coisas e o (des)encantamento com a
vida dos quais já havia asseverado Jesus. Pode até ser que seu objetivo na teoria não seja
esse, contudo, é possível fazermos essas reflexões, evidenciando questões como as
supracitadas.
Minha breve homenagem a esse pensador que
me ajuda a pensar o hoje vislumbrando os aspectos presentes para prognosticarmos
efeitos dos mais antagônicos e diferentes, tomando como base o viés das
transformações contínuas e ininterruptas de uma sociedade que caminha pelos
seus próprios pés, vai através de suas próprias palavras as quais são célebres, tocantes e
autênticas, porquanto nos fazem aceitar suas teorias e dizer que é de fato como fora notabilizado:
“O velho limite sagrado entre o horário de trabalho e o tempo pessoal desapareceu. Estamos permanentemente disponíveis, sempre no posto de trabalho”.
“Tudo é mais fácil na vida virtual, mas
perdemos a arte das relações sociais e da amizade”.
“Esquecemos o amor, a amizade, os sentimentos, o trabalho bem feito. O que se consome, o que se compra, são apenas sedativos morais que tranquilizam seus escrúpulos éticos”.
Heládio Santos
Sociólogo e pesquisador
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