O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Estatuto da família do século 21


Tramita na Câmara Federal o PROJETO DE LEI N° 3.369, de 2015, cujo teor apresenta as novas formas de família. De autoria do Deputado Orlando Silva (PCdoB), o projeto foi analisado pela comissão de Direitos Humanos e Minorias, tendo como relator o Deputado Túlio Gadêlha, atual marido da apresentadora global Fátima Bernardes, que já manifestou voto a favor do projeto.
O texto é enfático: Busca a proposição em apreço instituir o Estatuto das Famílias do Século XXI. Quem são as famílias do século XXI? Como versa o texto, são reconhecidas como famílias todas as formas de união entre duas ou mais pessoas que para este fim se constituam e que se baseiem no amor e na socioafetividade, independentemente de consanguinidade, gênero, orientação sexual, nacionalidade, credo ou raça, incluindo seus filhos ou pessoas que assim sejam consideradas. Segundo o relator do projeto, a visão de que a família deveria ser considerada apenas como a união de um homem e de uma mulher, por meio de casamento, é ultrapassada. Nas suas palavras, discordamos frontalmente de tal visão retrógrada, que não se coaduna com a nova realidade das relações familiares, baseadas em premissas de igual respeito e consideração, bem como reconhecedora da heterogeneidade e da diversidade das formas de organização familiar.
Tomando como base as convicções cristãs, o amor autêntico traz em sua essência Deus, pois Deus é amor (I João 4:7). Quem julga ter alcançado o amor, que é uma dádiva divina, tende a voltar-se inteiramente à vontade de Deus, como escrito está: “Mas qualquer que guarda a sua Palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos n’Ele” (I João 2:5). Neste contexto, a unidade familiar instituída pela vontade de Deus nas Escrituras está limitada àquela na qual participam homem e mulher, trazendo a possibilidade de gerar um crescimento pleno para todos os integrantes da mesma. Fugir a esse padrão coerente, já que a proposta bíblica é apresentar o homem como o provedor e protetor da família, enquanto a mulher cuidaria dos laços de afetos para que todos cooperassem entre si, não parece ser uma boa ideia. Entretanto, o pensamento humano, representado por estes articuladores de projetos, não compartilha com os institutos bíblicos, levando-nos a compreender o rompimento com a moral cristã já visto desde alguns anos entre outras propostas. Esse rompimento, entretanto, pode gerar um prejuízo para o próprio ser humano, visto que ele tem se apresentado como aventureiro em muitas áreas da vida, procurando caminhos cada vez mais extravagantes, deixando a coerência e a racionalidade, muitas vezes, de lado para voltar-se para suas paixões (aquilo que anseia seus corações).
Apesar de poder gerar um debate jurídico, o projeto abre precedentes também para o casamento poligâmico. Um sério problema, se analisarmos pela ótica cristã que classifica a ação como pecaminosa. E agora, diante de tantas inovações que ferem as sagradas convicções cristãs, o que esperar? A volta de Cristo que é iminente e está ainda mais próxima. Prepara-te Igreja, pois teu Senhor está às portas e virá como ladrão na noite.         

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Cruzada em Maracanaú


Perseverando até o arrebatamento


A caminhada cristã não é fácil. Unir crentes dentro de um mesmo propósito também não, principalmente neste tempo no qual a apostasia transita em muitas igrejas evangélicas, gerando novas concepções, desvios do paradigma apostólico e servindo de instrumento de sedução para quem não está bem convicto das verdades cristãs. Não é difícil vermos movimentos que rejeitaram muitos dos princípios morais da Bíblia, por isso abandonaram a simplicidade do Evangelho pelo apego às vaidades, aceitaram a lascívia, a prostituição, as irreverências de filhos aos pais, enfim, comportaram dentro de seu contexto um comportamento contrário ao que foi deixado pelo Senhor. Apesar do mal testemunho dessas muitas vertentes tidas como cristãs, Moriá continua pelejando pela boa e genuína fé.
Um exemplo objetivo deste jeito batalhador de ser é a congregação da Igreja Batista Renovada Moriá do Siqueira cujo trajeto foi marcado por grandes desafios e provações, mas como sua membresia optou pela resiliência resistiu diante das adversidades. Como consequência, neste final de semana celebramos mais um ano de existência da congregação. Foram dias de grande alegria para todos os que se reuniram ao longo da programação que teve seu início na sexta e findou no domingo. Muitos irmãos de outras congregações de Moriá se uniram ao grupo do Siqueira, atualmente, sob a liderança do Evangelista Maurício Nascimento, que substitui o irmão Francisco das Chagas temporariamente. Vivemos experiências gloriosas no templo da congregação com cânticos que tocaram a alma e despertaram um sentimento de maior apreço pelo dia tão aguardado pelo povo de Deus: o arrebatamento. Na mesma linha, as pregações serviram ao seu propósito, abrindo a possibilidade de entendimento para os visitantes descrentes. Após o evento, o Evangelista Maurício agradeceu pelo forte apoio recebido por todos.
Um grande e fraterno abraço a todos os membros da Congregação do Siqueira.


Pr. Heládio Santos

Presbitério de Fortaleza















sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Renovação espiritual no I Encontro sobre Grupos Familiares e Avivamento Espiritual

Às vezes, quando somos tomados por Deus conseguimos expressar um pouco da experiência, outras vezes não. O impacto da presença nos faz ora como um rio de águas vivas ora como um sacerdote diante do altar emudecido em razão da refulgente glória contemplada. Não obstante, os efeitos da visitação do Altíssimo são percebidos em todos os que provaram do manancial ofertado. Seja pelo semblante desejoso de mais, seja noutro contristado ou ainda em muitos cheios de alegria. A experiência gera grandes expectativas para sonhar com as muitas promessas que são possíveis na vida de um cristão digno. Basta aprendermos das Escrituras, se é que não sabemos, para ousamos tocar o invisível e o Absoluto, Fonte de todo o bem, a fim de que sejamos instrumentos para sua glória e participantes de tão apreciável virtude divina. Somos canais do Deus tremendo, Jeová Jiré, para que o mundo e a Igreja veja Deus através de nós. Esse é o objetivo destinado a Igreja: ser porta voz do Reino de Deus em sua plenitude.
Igreja é a noiva de Cristo, separada do jeito mundano de ser para se adornar com os divinos dons espirituais, exalando o bom perfume de Cristo. Santidade e poder se associam neste momento. Um possibilita e dinamiza o outro. Criam um vínculo de dependência para um melhor desempenho da função na qual cada cristão foi colocado no Corpo de Cristo. Na prática, esse desempenho se apresenta na evangelização para o mundo e na reunião de casa em casa para a Igreja, mas não obrigatoriamente assim, pois Deus utiliza os seus de muitas formas e maneiras. Contudo, é no ajuntamento dos cristãos em casa que a manifestação espiritual se torna ainda mais possível. Nos grupos familiares há muitos sacerdotes de Deus, homens e mulheres, adultos e crianças, velhos e jovens, cujos corações rendidos a Ele podem fazer jorrar com inspiração divina em suas almas os oráculos de Deus com profundidade. Não configura algo novo, como alguns podem pensar, mas o resgate do antigo renovado pela unção do alto para edificação do povo de DEUS. Os dons operam ainda hoje, muito embora “gênios” apáticos a essa realidade espiritual tentem a desmerecê-los com investidas frágeis desprovidas de paixão pelas evidências da vida plena no Espírito. O cessacionismo tem que se calar quando um enfermo é curado pela ordenação de um crente cheio do Espírito Santo, quando uma pessoa é libertada de um espírito maligno, quando o dom de profecia exorta, consola e edifica a Igreja. O dom de profecia não é uma formulação doutrinária nova, mas uma palavra oportuna para determinada situação restrita, capacitando os que se beneficiaram da mesma para saber que Deus cuida bem deles.
Por isso, e por muito mais, nesta quinta (15 de agosto) vimos Deus operar efusivamente no meio de sua Igreja no I Encontro sobre Grupos Familiares e Avivamento Espiritual, promovido pela Igreja Batista Renovada Moriá. Na abertura, todos rumamos para um só louvor e adoração. Em seguida, uma palavra graciosa do pastor Edimilson Alencar sobre a necessidade do grupo familiar se colocar em solo sagrado. Fez também várias visitas ao passado para demonstrar o comportamento da Igreja no início a fim de despertar os irmãos para as mesmas experiências e outras maiores. O irmão Gleisiano tomou a palavra após a conclusão do pastor não deixando a chama da expectativa baixar. Trouxe uma gloriosa palavra sobre as manifestações do Espírito nos Grupos Familiares. Em seguida, uma breve reunião de grupos foi iniciada para que os irmãos participassem efetivamente do evento. Algo maravilhoso. Para concluir, o pastor Glauco Barreira Magalhães Filho pregou sobre a atualidade dos dons nos grupos familiares aquecendo ainda mais o coração da Igreja. Uma noite memorável.
Na verdade, foi uma noite de restauração, de despertamento, de acreditarmos mais uma vez que todas as coisas são possíveis para Deus para assim nos sujeitarmos ao seu querer de bom grado e em santidade. Que os membros possam viver as experiências nos seus grupos, sabendo ouvir e falar, demonstrando paixão e temor, intensificando a comunhão com Deus e com os irmãos, promovendo a dependência no Altíssimo e se colocando como vaso de honra em sua casa.
Que o Senhor nos abençoe!


 
















O espírito do culto da Igreja Primitiva

H
avia um clímax espiritual nas reuniões da comunidade de Atos dos Apóstolos. Era motivado por uma comunidade de práticas intensas da vida cristã visto terem experimentado o dom da graça e os dons do Espírito incondicionalmente e com muita liberdade, razões que nos permitem constatar o surgimento de sua potencialidade e do seu caráter promissor, ambos necessários para a consolidação e expansão do Cristianismo. Essa dinâmica não se justificava somente pelo desenvolvimento do trabalho dos doze apóstolos, mas também pela fé e convicções daqueles que se apropriaram das benesses espirituais sem, no entanto, serem identificados. Muito se falou da espiritualidade apostólica através da qual se operava grandes feitos, porém, há uma omissão intencional, já que o livro de Atos representa os dos apóstolos, da vida e do trabalho de tantos outros discípulos presentes nas reuniões de casa em casa que também serviram para dinamizar a fluência do Espírito na Igreja Primitiva. Isto, no entanto, não é desabonador. É desafiador para os atentos leitores que através de um exercício de meditação podem contemplar tantos quantos estiveram cumprindo papéis importantes, sendo instrumentos para a edificação daquela Igreja e inspirando-nos a exercer o sacerdócio universal de todos os crentes.
O espírito reinante em cada um daqueles cristãos e, consequentemente, em cada reunião nos lares era o da perseverança na doutrina, da comunhão, do partir do pão, das orações, da solidariedade, do temor individual e coletivo e da unidade cuja essência tornou aquela comunidade ideal, exatamente, em razão da prática da fé que os unia (Atos 2:44). A perseverança unânime era a argamassa daquele sólido “edifício” que tornava aquela comunidade tão atraente aos olhos dos pecadores (Atos 2:47), assim como o zelo de sempre querer praticar tudo quanto tinha recebido; por isso, na narrativa deste período da Igreja encontramos diversos relatos sobrenaturais entre eles (Atos 3:3-8, 4:4, 4:8-23, 4:33-34). Esse envolvimento com a espiritualidade cristã criou aspirações santas: despertamento para se tornarem porta vozes do Altíssimo de todo o coração, edificação da Igreja através da multiplicidade de dons e salvação dos pecadores pela pregação nos lares, lugar que se tornava solo sagrado por ocasião da invocação do Nome do Senhor (Mateus 18:20).
Aparentemente, o ambiente restrito do lar não deveria presenciar tantas operações de “pessoas estranhas”. Em razão de algumas reuniões em casa administradas pelo Senhor (Marcos 2:1-5 e Lucas 19:5-8) e com alguns ensinos que ilustravam a casa como ambiente de comunhão (Apocalipse 3:20), a Igreja não se omitiu em fazer o mesmo, entendendo e confirmando também o sentimento de partilha próprio das primeiras pregações de Cristo (Atos 4:32). A lógica era partilhar do aconchego do lar para estabelecer uma comunhão segura, tanto com Deus quanto com os demais cristãos. Um ambiente fraterno, enriquecido por tantas virtudes dos ensinos cristãos, possibilitaram a ocorrência de diversas manifestações espirituais que foram prontamente registradas para as gerações seguintes a fim de aspirarem o mesmo. O evento na casa de Cornélio (Atos 10) e as reuniões na casa de Filipe cujas filhas profetizavam (Atos 21:8-9) nos fazem sonhar com aquelas circunstâncias. Pedro e Paulo foram privilegiados porque foram surpreendidos pelos efeitos de uma reunião espiritual tremenda. Veja que eles não foram os protagonistas nos respectivos casos, mas Cornélio e sua anônima família e as filhas de Filipe que nem o nome nos foi revelado. Entretanto, nos dois casos impera a manifestação do Espírito atingindo pessoas tidas como comuns que nos trouxeram uma informação maravilhosa: Deus também opera através dos comuns, dos que não têm nenhuma vocação ministerial, dos que aspiram algo sempre novo quando a Igreja se reúne. O ensino desse importante fundamento está explicitado nas palavras de Paulo: “Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” (Romanos 2:11); na mesma medida que Pedro pregou: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10:34).
Desta forma, a percepção espiritual daquela comunidade estava aguçada pelo cumprimento das promessas de Cristo ocasionando inúmeras experiências relevantes. No contexto de Atos, quem assume papel de destaque são os apóstolos, contudo a Igreja é consequência dos feitos desses homens de Deus, tendo também papel fundamental e atuante. Mesmo que os muros de Jerusalém fossem transpostos, a dinâmica desse povo continuaria a mesma: em Samaria, na Judeia e até nos confins do mundo, como atestam as epístolas apostólicas. Em Tessalônica, o apego ao iminente retorno de Cristo gerava expectativas fundamentadas nas Escrituras de tal modo que suas convicções operavam nos que criam (I Tessalonicenses 2:13) para sentirem o gozo do Espírito (I Tessalonicenses 1:6). Em Roma, a casa de Áquila e Prisca era o lugar de comunhão no qual os discípulos afluíam para receberem instruções, usufruindo de um ambiente de inspirada santidade que atraía o vento do Santo Espírito. Áquila e Prisca eram crentes ilustres de profunda fé vinculada à sã doutrina. Foram eles que trouxeram um refinamento espiritual na vida de Apolo (Atos 18:26), homem eloquente e poderoso nas Escrituras (Atos 18:24), para que usufruísse melhor dos talentos recebidos do Senhor. Após essa koinonia, tornou-se mais veemente em suas palavras, oportunizando maiores frutos para o Reino de Deus (Atos 18:26-28).
            Verifica-se quão poderosa é arte da koinonia, pois transforma limitações em ações prodigiosas. Não restam dúvidas que a Igreja cujos pilares estão nas reuniões de casa em casa, cumprindo a plena comunhão, tendem a exercer forte papel no crescimento espiritual dos seus membros. A Igreja de Corinto, por sinal, era uma comunidade ativa. Sua membresia participava efetivamente dessas reuniões buscando sempre mais de Deus. Não é à toa sua classificação nas Escrituras de Igreja dos dons espirituais. Não que nas outras eles inexistissem, mas em razão de ser Corinto a Igreja escolhida para revelar esse conjunto carismático pela efetividade com que eram manifestados. Obviamente, a ingenuidade na condução das manifestações dos dons espirituais entre alguns também ficou evidente de modo que a instrução apostólica colocou tudo em seu devido lugar (I Coríntios 12:1). Por conseguinte, é muito importante olharmos para Corinto a fim de vermos a excelência e a preciosidade dos dons, conhecermos quais são e identificarmos sua funcionalidade para podermos exercer a busca até alcança-los. Na utilização, deveremos ser zelosos em Deus para que seja somente Ele a propor aos nossos corações sua inspirada vontade, já que “a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil” (I Coríntios 12:7). Nesse texto, há um retorno ao que acima propomos, por isso diz que é dada a “cada um” em virtude de todo o cristão ser em potencial alguém capaz de usufruir dos dons para edificação da Igreja.
            Assim, a unidade faz toda a diferença, mesmo entre os desiguais (os desiguais não é termo que se refere a discordâncias doutrinárias, mas a personalidades diferentes). Já vimos que a Igreja Primitiva era una, tanto na comunhão como na doutrina, mesmo tendo diferenças a nível cultural (algo mais problemático para o contexto). Esse era seu diferencial. Por isso, a partir do momento que domarmos nosso coração para vivermos a plena comunhão, sem levantar queixas inconsequentes, sem tratar o irmão com indiferença, aprendendo a considera-lo em honra e respeito como Noiva de Cristo, neste momento, alcançaremos a capacidade para poder exercer toda virtude do alto de forma plena (Efésios 2:15-16). Não obstante as adversidades que se apresentem para tentar barrar-nos, impedindo temporariamente a prática devotada de comunhão, temos em Cristo a possibilidade de exercer nossa função com afinco para que a glória seja d’Ele. Para tanto, é bastante necessária a participação efetiva, em todos os sentidos, de cada membro da Igreja nas reuniões nas casas, pois é nesse lugar que a Igreja exerce seu papel em sua totalidade.   
Com estima,

Pastor Heládio Santos
Presbitério de Fortaleza

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A estrada real da cruz


Sempre haverá muitos que amam o reino celestial de Cristo, mas poucos que carregarão sua cruz. Muitos estão ansiosos por ser felizes com ele; poucos desejam sofrer qualquer coisa por ele.
Muitos amam a Cristo desde que não encontrem dificuldades; muitos o louvam e abençoam contanto que recebam algum conforto dele. Mas se Jesus se esconde e os deixa por um tempo, eles começam a reclamar ou a desanimar. Aqueles, ao contrário, que o amam por si mesmos e não por qualquer conforto próprio, louvam-no tanto na provação e na angústia do coração quanto na alegria da consolação. Mesmo que Jesus nunca os consolasse, continuariam a honrá-lo e agradecê-lo. Que poder existe em um amor puro por Jesus - amor livre de todo interesse próprio e amor-próprio!
Os que sempre buscam consolo não provam que amam a si mesmos em vez de a Cristo? Onde podemos encontrar alguém que esteja disposto a servir a Deus por nada? Tal pessoa vale muito mais do que as joias trazidas das terras mais distantes.
Tome sua cruz e siga a Jesus e você herdará a vida eterna. Não há outro caminho para a vida e para a verdadeira paz interior do que o caminho e a disciplina da cruz. Vá aonde quiser, busque o que quiser, você não encontrará um caminho mais elevado, nem um caminho menos exaltado, mas mais seguro, do que o caminho da cruz. Organize e ordene tudo para se adequar aos seus desejos e você ainda terá que suportar algum tipo de sofrimento, voluntária ou involuntariamente.
A cruz, portanto, é inevitável. Espera por você em todos os lugares. Não importa aonde você vá, você não pode escapar, pois onde quer que você vá lá estará. Vire aonde você vai - acima, abaixo, fora ou dentro - você encontrará a cruz.
Se você levar a cruz de bom grado, ela vai levar você. Levará você para onde o sofrimento chega ao fim, um lugar diferente daquele aqui. Se você o carregar contra a vontade, você cria um fardo para si mesmo e aumenta a carga, embora ainda tenha que suportar isso. Se você tentar acabar com uma cruz, você encontrará outra e talvez uma mais pesada. Como você espera escapar do que ninguém mais pode evitar? Qual santo estava isento? Nem mesmo Jesus Cristo foi poupado. Por que você procura outro caminho além do caminho real da santa cruz?
Toda a vida de Cristo foi uma cruz. E quanto mais progresso espiritual você se esforçar, mais pesadas suas cruzes se tornarão, pois à medida que o seu amor por Deus aumenta, também aumentará a dor do seu exílio.
Quando você carrega de bom grado sua cruz, toda pontada de tribulação é transformada em esperança de consolo de Deus. Além disso, com toda aflição, o espírito é fortalecido pela graça. Pois é a graça de Cristo, e não a nossa própria virtude, que nos dá o poder de vencer a carne e o mundo. Você nem mesmo temerá seu inimigo, o diabo, se você se armar com fé e estiver assinado com a cruz de Cristo.
Decida então, como um bom e fiel servo de Cristo, suportar bravamente a cruz do seu Senhor. Foi por amor que ele foi crucificado por você. Beba livremente da taça do Senhor se quiser ser amigo dele. Deixe sua necessidade de consolo para Deus. Deixe-o fazer o que quiser. De sua parte, esteja pronto para suportar os sofrimentos e considere como, nesses sofrimentos, reside seu maior consolo. Os sofrimentos desta vida não são dignos de serem comparados com a glória vindoura.
Quando chegar ao ponto em que, pelo amor de Cristo, o sofrimento se torna doce, considere-se afortunado, pois você encontrou o paraíso na terra.

Thomas à Kempis

A reverência cristã

Nos templos religiosos, muito se fala sobre reverência a Deus, mas será que a pregação tem contagiado os corações para a prática coerente dessa virtude cristã? Será que temos alcançado o real significado do termo ou temos vivido uma reverência religiosa, fria e mesquinha? O que precisamos fazer para alcançar tão venerada conduta? Qual caminho seguir?
Reverência é a atitude singular de se submeter a Deus, não só de nos curvarmos ante o altar, compreendendo Ele como a fonte do nosso ser. É postura sensata da criatura diante do seu Criador, é o reconhecimento de nossa pequenez perante o Majestoso, é a concepção de nossa finitude em razão de não termos sido nem de sermos, expressando, assim, nossa dependência devotada a Ele, a emanação de todo dom perfeito para a vida. Contagiados pelo eflúvio divino, a reverência manifestasse através do espiritual e do material do nosso ser, sujeitando nossa alma e espírito ao Pai das Luzes, assim como manifestando através do corpo o honesto senso de consagração a Ele.
Como versa o texto sagrado, o interior influencia o exterior cuja ação reflete a glória da comunhão perene e presente. Assim, ambos nos elevam a compreender a dimensão do Sagrado através da nossa insignificância, porém alcançando a significação existente no Absoluto. A venturosa e deslumbrante postura percorre o caminho do temor ao Senhor sem se intimidar ou sem se omitir. Não teremos medo de não sermos achados n’Ele, porque certamente compreenderemos que Ele reina em nós, permitindo-nos a plena liberdade em seu Nome. Apesar de nossa reverência ser real, pode manifestar-se imperfeita em alguns lapsos temporais, permitindo-nos percorrer os degraus do amadurecimento.  
Portanto, submissão trás o espírito de humildade, sobretudo porque Ele se humilhou para compreender nossa humanidade, compartilhando, da mesma forma, sua vida divina e criar um olhar desensoberbecido para contemplarmos a grandeza do Altíssimo com a mais pura reverência.
 

A ousadia de Policarpo de Esmirna frente ao martírio

Em todo o mundo, trezentos e vinte e dois de cristãos morrem por sua fé todos os meses, segundo o grupo Portas Abertas. Sua coragem espelha o testemunho cheio de fé dos primeiros mártires cristãos, como Policarpo.
Recusando-se a se curvar aos deuses de Roma, os cristãos do segundo século na cidade grega de Esmirna (atual Izmir, Turquia) foram considerados "ateus". Em um surto de perseguição em 155 dC, funcionários arrastaram cristãos para a arena e brutalmente os executaram para entretenimento público. Embora muitos tenham sido espancados até que “a anatomia do corpo fosse visível, até mesmo veias e artérias”, então dilacerados por animais selvagens ou queimados vivos, eles enfrentaram essas provações com tal “força de alma que nenhum deles proferiu um grito” ou gemido.
Decepcionada, a multidão de espectadores convocou descontroladamente o sangue de um velho venerável chamado Policarpo, bispo da igreja na Ásia Menor. A idade exata de Policarpo na época é debatida, mas em relatos dizem que ele era cristão há oitenta e seis anos quando ouviu a notícia de sua prisão iminente.
Quando jovem, Policarpo havia sido discípulo do apóstolo João e foi um dos poucos que aprenderam em primeira mão daqueles que andaram com Jesus. João o nomeou para a liderança e, em sua velhice, Policarpo era muito estimado. Quando o cristianismo entrou em sua segunda geração, Policarpo desafiou agressivamente heresias que ameaçavam poluir a integridade de sua mensagem original. Sua instrução simples sempre refletiu a clareza de Cristo e dos apóstolos.
Quando os soldados chegaram a sua casa, Policarpo os recebeu e preparou uma refeição, pedindo apenas uma hora para orar. Seus captores observaram uma hora se estendendo para duas, não querendo interromper suas fervorosas intercessões pela igreja global. Então Policarpo foi colocado num jumento e levado embora.
Em Esmirna, ele foi apresentado para o capitão das forças locais, um homem chamado Herodes. Convidando Policarpo em sua carruagem, Herodes ofereceu-lhe uma chance de sobreviver: “Que mal há em dizer: 'César é Senhor' e oferecer incenso?”. Quando Policarpo permaneceu imóvel em sua fé, Herodes lançou-o furioso da carruagem.
Sem olhar para trás, Policarpo se levantou e marchou para a arena. Sobre o estrondo ensurdecedor dentro, ele ouviu uma voz falar com ele: "Seja forte, Policarpo, e interprete o homem". Este relato, baseado na fala de testemunhas oculares, nos fornece mais algumas informações.
Quando ele foi levado para a frente, o procônsul perguntou se ele era Policarpo. Isso ele afirmou. O procônsul queria persuadi-lo a negar sua fé, pedindo-lhe: "Considere sua grande idade" e todas as outras coisas que costumam dizer em tais casos. Jura pela genialidade de César; mude sua mente. Diga "Fora com os ateus".
Policarpo, no entanto, olhou com expressão séria para toda a turba reunida na arena. Ele acenou com a mão sobre eles, suspirou profundamente, olhou para o céu e disse: "Fora com os ateus".
Mas o procônsul o pressionou ainda mais, e disse a ele: “Jure e eu soltarei você! Maldito seja Cristo!”
Policarpo respondeu: “Oitenta e seis anos eu servi a ele e ele nunca me fez mal algum. Como eu poderia blasfemar de meu Rei e Salvador? ”
Quando o procônsul ainda o pressionava, dizendo: “Jure pelo gênio de César”, ele respondeu: “Se você deseja o triunfo vazio de me fazer jurar pelo gênio de César de acordo com a sua intenção, e se fingir que não sei quem sou, ouço minha franca confissão: sou cristão. Se você estiver disposto a aprender o que é o cristianismo, estabeleça um tempo em que possa me ouvir”.
O procônsul respondeu: "Tente persuadir o povo". Policarpo respondeu-lhe: "Considero digno que eu deva dar uma explicação, pois fomos ensinados a respeitar os governos e autoridades designados por Deus, contanto que não façamos prejuízo. Mas quanto a essa multidão, não os considero dignos de minha defesa”.
Então o procônsul declarou: “Eu tenho feras selvagens. Eu vou jogar você diante deles, se você não mudar de ideia”.
"Deixe-os vir", respondeu ele. “Está fora de questão mudarmos do melhor para o pior, mas o oposto é digno de honra: mudar do mal para a justiça”.
O procônsul continuou: "Se você menosprezar os animais e não mudar de ideia, eu o lançarei no fogo". Policarpo respondeu: "Você me ameaça com um fogo que queima durante alguns momentos, já que não conhece o fogo do juízo vindouro e do castigo eterno para os ímpios. Por que você espera? Traga o que você quiser.
Como Policarpo falou estas e outras palavras semelhantes, ele estava cheio de coragem e alegria. Seu rosto brilhou com luz interior. Ele não ficou nem um pouco desconcertado com todas essas ameaças. O procônsul ficou surpreso. Três vezes ele enviou seu arauto para anunciar no meio da arena: "Policarpo confessou que é um cristão!"
Assim que foi anunciado pelo arauto, toda a multidão, pagãos e judeus, toda a população de Esmirna, gritou com raiva descontrolada no topo de suas vozes: “Ele é o mestre da Ásia! O pai dos cristãos! O destruidor dos nossos deuses! Ele persuadiu muitos a não sacrificar e não a adorar”. Surgiu um grito unânime de que Policarpo deveria ser queimado vivo.
Agora tudo aconteceu muito mais rápido do que se pode dizer. A turba apressou-se a recolher toras e mato das oficinas e dos banhos públicos. Quando a pilha de lenha ficou pronta, Policarpo tirou a roupa, tirou o cinto e tentou desfazer os sapatos...
O combustível para a pira foi muito rapidamente empilhado em torno dele. Quando eles queriam prendê-lo com as unhas, ele recusou. "Deixe-me, pois aquele que me dá forças para suportar o fogo também me dará a força para permanecer firme na estaca, sem a segurança de suas unhas”.
Enquanto o fogo ardia em torno dele, ele orou pela última vez: “Que eu seja aceito entre as suas fileiras hoje à tua vista como um rico sacrifício te dando alegria, como um sacrifício que tu preparaste e revelaste de antemão e agora cumpriste! Tu és o verdadeiro Deus em quem não há falsidade! Por tudo, portanto, eu te louvo. Eu te louvo; Eu te glorifico, através do eterno e celestial sumo sacerdote, Jesus Cristo, teu amado servo. Através dele, a honra é devida a ti e a ele e ao Espírito Santo, agora e em todas as eras vindouras".

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Nova Teologia do Domínio


É patente que a religião nos Estados Unidos desempenha um importante papel nos desdobramentos políticos. Até mesmo crentes em Cristo que crêem na Bíblia mergulharam nessa onda da Nova Teologia do Domínio. O que vem a ser essa Nova Teologia do Domínio? Em poucas palavras, é uma vertente teológica defensora da crença de que recebemos um mandato para mudar o mundo, principalmente nosso país. Os adeptos da Nova Teologia do Domínio propõem que a paz, a justiça e a equidade serão estabelecidas na sociedade quando um governo cristão for instituído. Muitos cristãos bem-intencionados acreditam que se o governo estiver repleto de crentes em Cristo, isso propiciaria a aprovação de leis favoráveis ao cristianismo. Eles, obviamente, desconsideram o fato de que qualquer lei motivada por religião, seja de que espécie for, será aproveitada por outros. Esquecem que a Igreja não pode ser legislada por influências políticas. Essa já tem sido a experiência da Igreja Católica Romana, que empregou o poder político ao extremo durante a maior parte de sua história. Se o Cristianismo assume o controle da autoridade governamental, deixa de ser cristianismo e passa a ser anticristianismo.

Extraído do livro “666: Preparação para a marca da Besta” de Arno Froese, Atual Edições.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Disciplina e excomunhão


A disciplina administrada pela Igreja através da excomunhão é regra primaz da conduta congregacional, como se verifica no texto de Mateus 18:15-20. Sua prática decorre da necessidade de tentar reparar ou atenuar algum ato público danoso de um membro da Igreja cujos efeitos geraram algum prejuízo à imagem cristã, bem como despertar espiritualmente o agente responsável pelo feito. Essa situação, no entanto, não é nada satisfatória nem animadora para a Igreja, porque ao invés de ficar sofrendo pela “perda” de um membro pretendia consolidar os laços fraternais entre os da comunidade, criando oportunidades para demonstrações dos santos afetos dos quais ensinou o apóstolo (Filipenses 2:1). Disciplinar e excomungar um membro afeta o corpo em tristeza, alterando muitas vezes os rumos pelos quais caminhava; porém, não podemos excluí-la da nossa conduta em situações que o exigirem, visto ter sido ensinada por Cristo para atender essa demanda. Deveremos, no entanto, ter a maturidade para encarar os fatos, agindo em perfeita sintonia com a espiritualidade cristã, mesmo que soframos pelo “corte na carne”. O ideal, entretanto, é que os crentes se apeguem as Escrituras, vivam o prazer da fé e ousem confiar na graça que lhes foi conferida para não deslizarem na condução de suas vidas para não estarem sujeitos ao amargor da disciplina.  
Uma reflexão nos faz enxergar o possível sentimento de grande tristeza na comunidade quando um(a) cristão(ã) pecar, expressando, assim, os profundos vínculos existentes e a paixão pela vida santificada. Quando isso acontecer deveremos agir solidariamente, exercendo a Igreja seu papel de amparo e cuidado para que a vida em questão possa ser restaurada, principalmente, quando há nela um sentimento de reparar o dano e um assentimento à exortação da Igreja e de seu presbitério. Muito embora se demonstre que o pecado tenha sido por falta de vigilância e debilidade espiritual, a disciplina deverá ser aplicada para a restauração da vida, algo paradoxal, mas ensinada pelas Escrituras (I Coríntios 5:5).
Numa outra linha de pensamento, quando um cristão pecar explicitamente com aspirações rebeldes contra a comunidade, não aceitando as admoestações quanto ao seu pecado, outro comportamento deverá ser apresentado necessariamente porque o pretenso pecado poderá resultar (ou resultou) em dano e em detrimento aos preceitos bíblicos de forma ainda mais prejudicial. Um fato notificado nas Escrituras sobre esta situação é o caso de impiedade de Himineu e Fileto que se desviram da verdade (II Timóteo 2:16-18). Entenda-se “impiedade” como sendo “falta de piedade”, ou seja, rejeição explícita à prática da vida cristã e aos seus ensinamentos. Comportamentos que insistem contra o preceito bíblico ficam assim sujeitos à excomunhão enquanto durarem, não podendo nem a Igreja nem seus ministros imporem outra consequência porque expressam obstinação e egoísmo. Ora, o obstinado é alguém inflexível. Age em busca de sua própria satisfação, sendo seu anseio imoderado e irresponsável, capaz de causar estrago à própria vida, às vidas dos seus, à vida de sua comunidade e à vida dos descrentes (esse último, pelo mal testemunho). Aos que assim conduzem suas vidas, saibam que são classificados pelas epístolas apostólicas como apóstatas, segundo as quais acarretaram para si uma identificação tão contrária aos preceitos cristãos que não podem participar da comunidade dos salvos porque demonstraram pelas suas obras que não eram salvos nem inspiraram a autêntica fé.     
Na Confissão de Schleithem, os anabatistas do século XVI, através da pena Michael Sattler, registraram suas convicções sobre o tema:

“Estamos em acordo sobre a excomunhão como segue: A excomunhão será empregada em todos aqueles que deram a si mesmo ao Senhor para andar em seus mandamentos, e em todos aqueles que foram batizados no corpo de Cristo e que são chamados de irmão ou irmã, e que, no entanto, deslizam ocasionalmente e caem em erro e em pecado, sendo negligentemente alcançados. Os mesmos serão admoestados duas vezes em particular e a terceira vez abertamente e, então, disciplinados ou excomungados de acordo com o mandamento de Cristo (Mt 18). No entanto isso será feito de acordo com a direção do Espírito (Mt 5) antes do partir do pão, para que possamos partir e comer de um só pão, em unidade de pensamento e em um só amor, e possamos beber de um só cálice”.

Não só os anabatistas do século XVI representam em favor da disciplina bíblica. Os Montanistas, os Novacianos e os Donatistas se opunham à alguma prática desabonadora do testemunho cristão. Os “lapsos”, como eram chamados os atos daqueles que abandonaram à fé em decorrência do medo do martírio, impossibilitavam a nova entrada do infiel na comunidade cristã primitiva desses grupos, exigindo que os mesmos se afastassem dos seus pecados, vivendo uma vida abnegada e submetendo-se a um novo batismo. Para os Donatistas, a Igreja era composta pelos puros e justos, justificando o pensamento de uma Igreja sem mácula cuja práxis estava ensinada nos preceitos bíblicos.
Assim como os anabatistas do século XVI, pretendemos conservar a boa conduta da Igreja, levando-a a compreender que na disciplina de alguém ninguém deverá se vangloriar, antes se contristar e lamentar pela queda do irmão(ã) de cujo arrependimento se espera o abandono do seu pecado. Para tanto, com inspiração do alto deveremos tratar cada caso, por isso oramos para que o Senhor nos ajude.