O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Ciência do Amor de Deus

Certa vez, quando meditava em um texto bíblico, pude perceber uma das virtudes mais deslumbrantes do Senhor. Deus falava ao seu povo, Israel, manifestando seu veemente amor e mostrando o quanto eles eram queridos. A demonstração deste amor é comprovada nos mais diversos acontecimentos daquela gente. O grande El-Shadai livrou-os das mãos de faraó no Egito (Ex 12:41), sustentou-lhes durante sua peregrinação no deserto (Ex 16:12-15), deu vitória diante das nações que circundavam toda a região de Canaã (Js 24:11) e estabeleceu a menina dos seus olhos na terra prometida (Js 24:8).

Noutra ocasião, aquela abençoada nação de Deus foi parar nas campinas de Moabe, nas possessões do rei Balaque. Este já tinha ouvido falar acerca dos poderosos feitos do Senhor e, pressentindo o que estava para lhe acontecer conclamou os midianitas contra os judeus, enviou mensageiros a Balaão, um profeta respeitado e mui renomado, convocando-o para profetizar contra os israelitas. Deus interveio convertendo o mal em bem.

O texto de Deuteronômio 23:5, foi o início de nossa meditação, veja: “Porém o Senhor teu Deus não quis ouvir Balaão; antes o Senhor teu Deus trocou em bênção a maldição; porquanto o Senhor teu Deus te amava”.

O amor de Deus continua sendo uma evidência sublime de seu cuidado, pois se nos aprofundarmos um pouco mais na história dos hebreus, logo, constataremos que não houve um só momento de desprezo por parte do Senhor Deus. O povo inseguro perdurou em certos momentos com sentimento de escravidão deixando-se levar pelas lembranças infrutuosas de um passado ainda recente no Egito. Por estarem no deserto reclamavam a falta de pão, murmuravam por não terem carne e às vezes nem água. Percebemos com isto a insensibilidade de Israel. Não expressavam respeito nem honra a Deus. Porém, diante de toda esta oposição, Deus continuava sendo fiel. A multidão daqueles que seguiam a Moisés não davam a Deus o devido tributo desprezavam Seu amor. Seu juramento redigido no início do livro bíblico nos faz entender o sentimento divino: “Mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais...” (Dt 7:8a).

A essência de Deus é o amor. Encontramos a fluência dele na trindade antes mesmo de existir o mundo. O Pai ama o Filho, o Filho ama o Espírito, o Espírito ama o Pai. É uma característica peculiar do Senhor, daí o versículo dizer que Ele os amava. Sendo assim, também podemos comprovar que seu amor é ilimitado, pois por ele o homem foi alcançado.

Mas, passando pelos patriarcas, Abrãao, Isaque e Jacó, entenderemos a expansão e o porque de Deus amar aquele povo. Abraão, pai da nação judaica, quando contemplado em Gênesis 11 e 12 foi achado como um homem de pura devoção ao Deus verdadeiro: “E achaste o seu coração fiel perante ti, e fizeste com ele a aliança...” (Ne 9:8). Deus percebeu que Abraão além de amá-lo demonstrava piedade e testemunho persuasivo para que outros se sentissem incentivados a amar a Deus. Não que isto venha a ser uma carência demasiada de Deus, mas simplesmente o desejo de reconhecimento do Criador diante de suas criaturas. Ele, buscando um perfeito modelo para figurar tal faculdade, utilizou-se de Abraão. Primeiramente, ordenou-lhe sair do meio de sua família, que estava entre os caldeus, povo idólatra da cidade de Ur, para que pudesse sem impedimento algum honrá-lo e adorá-lo. Abraão fez o papel de um genuíno servo, entregando tudo nas mãos do Senhor Deus, porque o amava e, incondicionalmente, confiava nos propósitos divinos. O apóstolo Paulo quando mencionou a fé deste homem chamou-o de bendito, assim como são aqueles que praticam a mesma fé (Gl 3:9). Sim, havia entre Deus e Abraão uma recíproca amizade de ágape (perfeito amor). O Senhor, pelo exemplo de tão brilhante servo, esperava e dava condições aos seus filhos, netos, bisnetos (...) de encontrarem Nele o mesmo apego. Infelizmente, isto foi raramente protagonizado pela descendência de Abraão.

A orientação de amá-lo, além de estar contida no decálogo, é parte integrante de muitos outros trechos dos evangelhos e cartas apostólicas. Em II Tessalonicenses 3:5, Paulo torna claro que Deus (Jesus) é quem orienta nossos corações em seu amor: “Ora o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus...”. Por Ele somos dirigidos a compreender perfeitamente o real sentido de amá-lo e evidenciaremos bem esta afinidade por Ele mesmo. A proximidade com o Senhor nos levará aos bons costumes, as reflexões alicerçadas na Palavra e as tendências puras. Quando muitos assim viverem caminharemos para a perfeição em comunhão e em conformidade com o Pai que a tudo ilumina.

Conscientes desta experiência, temos de Deus um incentivo a mais para vivermos uma vida santificada, equilibrada, perseverante. Quando vejo pessoas que um dia estiveram entre o povo de Deus e hoje retornaram às velhas práticas, fico a pensar que elas jamais sentiram este amor por Deus. Como também não se sentiram amadas por Ele, saíram do nosso meio. Culpa de Deus? Claro que não! O amor proporcionado por Deus é algo maravilhoso, causa uma experiência irreversível. Por isso afirmo sem medo: estas pessoas não compreenderam a dádiva divina, pois a percepção dela nos impulsiona a tributar-lhe nossa vida, ocorrendo, assim, uma obediência espontânea. É o que mostra o apóstolo Paulo em II Co 5:14 quando alude nesta linha de pensamento sobre os efeitos do seu amor: “Porque o amor de Cristo nos constrange...”. Por isso, reafirmo acerca da necessidade de haver uma conscientização, subjugada à experiência no Espírito pela Palavra. Sem ela não se pode discernir tal amor, e como conseqüência não poderemos deleitarmo-nos como filhos diante do Altíssimo.

O apóstolo João, considerando talvez a indagação de muitos quando não entendem o que nos move a submeter-nos às ordens divinas, falou cheio do Espírito: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (I João 5:3) Quem ama a Deus tem prazer na vida casta. Não é algo estranho, pelo contrário, é uma normalidade para o crente reconhecer a Deus e perfazer seus anseios.

Fomos constituídos “geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pe 2:9) para dar provas deste enlace. A primeira nação desprezou a Deus de fato e verdade. Hoje podemos chamá-lo de Aba (Paizinho) que denota uma afinidade bem estreita. Além do mais, não temos certas dificuldades que havia no Antigo Testamento, “temos um novo e vivo caminho que Ele nos consagrou além do véu” (Hb 10:20). Com maior facilidade podemos usufruir de uma permanente comunhão com Deus através de seu Santo Espírito. Noutras palavras, nenhum crente pode reclamar de não ter incentivo algum para amar a Deus. Tudo o que é possível foi-lhe concedido objetivando sua utilização. O problema de muitos cristãos é viverem uma vida sedentária, simplesmente, engavetando tal dom.

Pelo o exemplo de vida de Filemon podemos confirmar ainda mais nossas poucas palavras. O apóstolo Paulo direcionando uma carta a ele, afirmou: “Graças dou ao meu Deus, lembrando-me sempre de ti nas minhas orações; Ouvindo do teu amor e da fé que tens para com o Senhor Jesus Cristo, e para com todos os santos” (Fm 4-5). Filemon apesar de ser mencionado tão brevemente, nos proporciona condições de entender que o amor de Deus, como aqui mencionado, não é direito apenas dos maiores vultos bíblicos. Às vezes pensamos que os grandes personagens bíblicos tiveram experiências muito mais abundantes que os demais. Mas isto não é verdade! Deus atinge-nos igualmente. Vemos que tal dom era um selo vistoso na vida de Filemon, pois ele era conhecido pela vida de fé e amor a Deus.

É apreciável por demais o exercício constante deste discípulo de Jesus na prática da comunhão com o Pai. Desta forma, pude lembrar-me de um dos tantos problemas dos eleitos; apesar de ser o oposto da nossa proposição vale a pena ser mencionado: Quando não se tem constância nem intensificação espiritual acabamos por constatar uma vida infrutífera, cheia de mazelas contaminando e empobrecendo o vaso que deveria ser trabalhado apenas pelo Fiel Oleiro. Mas, Filemon tinha a experiência que lhe proporcionava a confirmação da frase apostólica: “E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele” (I João 4:16).

Finalizo nosso comentário com uma das expressões mais belas que pude ler em toda minha vida. Uma citação de Richard Baxter, puritano, e homem convicto no amor divino: “É coisa pequena a teus olhos ser amado de Deus? ...cristão, crê nisto e pensa nisto. Serás eternamente seguro nos braços daquele amor que foi desde sempre e se estenderá pela eternidade”.

Pastor Heládio Santos
Membro do Presbitério Anabatista da Igreja em Fortaleza

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