O Jornal Tocha da Verdade é uma publicação independente que tem como objetivo resgatar os princípios cristãos em toda sua plenitude. Com artigos escritos por pastores, professores de algumas áreas do saber e por estudiosos da teologia buscamos despertar a comunidade cristã-evangélica para a pureza das Escrituras. Incentivamos a prática e a ética cristã em vistas do aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como noiva imaculada. Prezamos pela simplicidade do Evangelho e pelo não conformismo com a mundanização e a secularização do Cristianismo pós-moderno em fase de decadência espiritual.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Memórias de Moriá - primeiros evangelismos

Os domingos eram os principais dias de evangelismo na Piedade. Não havia muitos irmãos dispostos naquele primeiro ano para o evangelismo pessoal. No entanto, o contingente deficiente era sobrepujado pela ousadia dos poucos. O problema da ausência no evangelismo era o trabalho e os estudos, além de alguns que tinham seus afazeres domésticos por serem casados. Passemos a alguns fatos.
Um dos novos convertidos de outubro/89 ainda não tinha tido a experiência com o evangelismo, talvez pelo problema da timidez. No final do mês de novembro/89 teve um sonho que mudou essa história. Enquanto dormia teve um vislumbre no qual descia rapidamente do patamar físico para uma realidade espiritual inferior. Ao chegar naquele ambiente depreciativo via muitos olhares de sujeitos enegrecidos sem reações, mas duas daquelas “almas” fitavam-lhe o olhar. Estremeceu e imediatamente foi arrebitado, acordando em seguida. Ficou pensativo e impactado. Nada entendeu no momento. Os dias se passaram e ele continuou inerte à evangelização. Repentinamente, duas pessoas próximas morreram praticamente ao mesmo tempo. Quando isto aconteceu, lembrou-se do sonho e entendeu a necessidade de sair e pregar o Evangelho. Nos primeiros dias ficou travado, mas não demorou muito para que começasse a pregar e a discutir com seus ex-professores de crisma na pracinha da Piedade. Esses ficavam surpresos com a discussão, inclusive uma delas chamada Maria Luiza.
Lembro-me que passamos a frequentar a pracinha em frente da igreja da Piedade entre 17h e 18h30, semanalmente no domingo. Era uma multidão que entrava e saía das missas, enquanto nós resistíamos aos olhares de injúria e indignação; um pequeno grupo de rapazes franzinos sem muita expressão fincava os pés ali e não se intimidavam diante da turba agitada. Flávio era o mais decido e firme. Tinha um compromisso louvável com a pregação e com a oração. Espelhávamo-nos naquele jovem homem. Sua palavra era muito forte e inspirava confiança. Ouvintes tremiam ao ouvi-lo pregar. A unção de Deus sobre sua vida era tão maravilhosa que meses depois, enquanto evangelizava com Benedita(uma nova convertida) na Vila Arão, pregou para um jovem que sentiu o poder de Deus em suas palavras. Aquele moço incrédulo começou a chorar e não continha suas lágrimas. Benedita ficou boquiaberta, pois nunca tinha visto uma manifestação como aquela. Henrique, um adolescente problemática do bairro agora convertido, fazia do evangelismo pessoal uma ponte para salvação até de quem não quisesse nos ouvir. Ficava inquieto em estar na pracinha. Não se continha, subia os degraus da “babi”[1] e entrava templo adentro para evangelizar os que estavam sentados ouvindo as palavras mortas do sacerdote sem Deus. Em alguns momentos, foi repreendido do altar e levado à força para fora. Numa discussão, deixou um padre embaraçado, pois quis explicar a razão de sua atitude, informando que aquelas pessoas estavam indo para o inferno. Ao que o padre respondeu que levá-las para o inferno era competência dele, usando outras palavras. Henrique, muito esperto, aproveitou-se das palavras infelizes daquele homem e voltando-se para os que ouviam a confusão proferiu: “Estão vendo para onde ele quer levar vocês?”. Aquilo deixou o sujeito enfurecido e o Henrique ficou marcado, conhecido e proibido de entrar no templo. Razão essa que quando chegávamos ali nas tardes de domingo, um clima de preocupação se instaurava de ambos os lados. Não era nossa pretensão prejudicar ninguém nem causar transtornos. Apenas queríamos pregar a salvação para quem não tinha.
Outra ação que chamou grande atenção era a “operação desfaz TJ”. Consistia em bater de porta em porta, após a visita de alguma testemunha de Jeová a determinada casa para desfazer o que eles tinham ensinado. Para isto, tínhamos um folheto denominado “testemunhas de quem?”. Não nos demorávamos, pois entendíamos o incômodo das pessoas levantarem-se cedo no domingo para abrir a porta para um estranho. Até hoje não sei como o Henrique sabia previamente o roteiro de evangelização deles, mas sei que era preciso na informação. As testemunhas de Jeová que nos viam atrás deles não queriam acreditar no que estávamos fazendo. Isso gerou debates do Henrique com Sandra (uma loira magrinha), frequentadora do salão na João Cordeiro. Era uma moça muito inteligente, mas não cedia, por mais que fosse vencida pela argumentação do Henrique. Henrique era o mais versado entre nós e considerávamos seu conhecimento abaixo apenas do jovem Glauco que também era uma fonte de conhecimento bíblico e de Deus. Outra testemunha de Jeová que debateu muito com o Henrique foi o Mocinho, também muito conhecedor do jeovismo, sendo capaz de embaraçar qualquer pessoa despreparada. Com o Henrique, o negócio era outro. Vibrávamos com os debates. Muitos anos depois, ficamos agradecidos a Deus pela vida do Mocinho, pois havia se convertido e frequentou alguns cultos na capela da Piedade.



[1] Termo que identificava a igreja católica e abreviação para a grande Babilônia de Apocalipse, aquela que se prostituiu com os reis da terra e virou covil de demônios. 

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